6ºParte: De volta

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Ao levantar-me reparei que as calças continuavam com sangue, a maior parte dele já seco. A colcha onde tinha passado a noite também estava com sangue. Estúpida ferida, agora sim devia ter um aspeto horrível! 

- Lamento muito ter dito aquela brincadeira estúpida. Poderias estar em melhor estado.

- Ninguém poderia adivinhar que esta situação estava para acontecer, acho eu.

A melhor parte é que mesmo com a ferida conseguia andar perfeitamente, apenas com uma pequena dor, nada que me impedisse de andar.

Do quarto de Finn dirigi-me para a sala, para não esforçar muito, deitei-me no sofá. Rickie e Niomi encontravam-se em pé.

Pareciam cansados! Até tinha medo de perguntar o que tinham estava a fazer durante toda a noite. Preferia não saber mas por outro lado estava demasiado curiosa.

O melhor seria não perguntar nada e esperar que eles me contassem depois o que achavam que seria necessário.

- Precisamos de falar contigo em relação aos teus pais – informou-me Rickie.

- Já sei que eles morreram, eu estava lá, vi tudo.

- Apenas te queríamos dar a certeza.

Rickie olhou para o irmão, este abanava a cabeça como se não concordasse com o que Finn queria que ele fizesse

- Não consigo ser eu. Conta-lhe tu que és mais amigo dela que eu.

Finn sentou-se no chão ao pé do sofá onde estava deitada, olhou diretamente para os meus olhos

- A tua casa foi toda revirada, havia portas que estavam trancadas e eles deram cabo delas. Para piorar os corpos dos teus pais desapareceram, o chão continua com o sangue deles.

- Achas que foram os homens que os tiraram?

- Bastaste provável. Apesar de não fazer muito sentido. Por que razão haveriam eles de querer os corpos?

- Só o facto de me privarem deles é suficiente.

Agora é que estava tudo perdido. Já sabia que os meus pais estavam mortos mas havia sempre a esperança que fosse mentira e que pudessem ter sobrevivido.

Como é que a minha vida tinha ficada tão complicada. Precisava de sair da casa, de apanhar ar. O ideal seria ir ter à praia, dar uma volta.

- Acham que os homens ainda andam por aí? Gostava imenso de poder ir espairecer, de pensar.

Os meus amigos olhavam uns para os outros, tentando procurar ajuda no que me haveriam de responder.

Como sempre foi Finn que me respondeu.

- Não acredito que ainda andem por aqui.

Rickie riu-se mafiosamente. Percebi logo tudo, eles não só achavam como tinham a certeza absoluta. Tinham feito algo aos homens, claro que não me afetava minimamente.

Como precisava de um a resposta optei por ignora-lo, sem fazer perguntas.

- Claro que podes ir – respondeu-me Rickie.

- Tem calma! - Interrompeu Finn- de qualquer maneira não podes andar por ai sozinha podem aparecer outros. Acho melhor ir contigo.

- Finn, por favor- implorei – para isso fico aqui em casa, preciso de estar sozinha.

- Pronto, deixo-te ir até a praia sozinha, depois vou lá estar a tua espera. Não te esqueças de levar o telemóvel e se vires algo suspeito, ligas logo.

Ouvi todas as suas condições sem me queixar. Achava que era um pouco exagerado, mas precisava mesmo de sair de qualquer maneira, sem regras ou com elas.

- De outra maneira não te deixo ir.

Assim que consegui sair daquela casa, parecia que tudo estava normal.

Comecei a andar sem rumo, quando dei por mim estava em porta de casa. Lá se ia o plano de ir até a praia para pensar no futuro. Nem sequer conseguia deixar para trás o passado.

Não estava planeado aproximar-me dali tão cedo mas não conseguia controlar. Acabei por ficar parada no parapeito, como se estivesse a espera que alguém abrisse a porta. Decidi que estava na altura de entrar, se não nunca mais iria ter coragem.

Lá dentro dirigi-me para a sala. Ainda bem que já tinham limpado o sangue do chão. Nunca ninguém diria que duas pessoas tinham ali sido assassinadas.

As memórias dessa noite que pensei estarem adormecidas vieram a tona. Também não sei do que estava a espera. Ainda era demasiado cedo para não sentir nada, apesar de saber que nunca iria passar a dor.

Pela minha cara passavam as conhecidas lágrimas.

- Achas que é uma boa ideia estares aqui?

Congelei aquela voz parecia familiar mas não a conseguia associar a nenhuma cara.

Limpei as lágrimas e virei-me para trás.

Nathan encontrava-se encostado a porta e olhava para mim.

- Que fazes aqui? – Perguntei-lhe desconfiada – Entraste agora?

- Não deverias estar na praia? – Perguntou invés de responder a pergunta que lhe tinha feito

- Como é que sabes da praia? O que queres de mim?

- Não te preocupes, não sou um dos maus!

- Sei quem és. Os meus pais falaram-me de ti - Mesmo sabendo que não me queria fazer nada de mal. O facto de conhecer a história da praia, tornava-o suspeito. Precisa de explicação para tudo, agora era mais difícil confiar facilmente nas pessoas - Acho que temos algo em comum.

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