Capítulo 6

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Clara

Não tenho dormido quase nada nestas ultimas semanas. Os pesadelos são constantes e os enjoos e o mau estar já fazem parte da minha rotina. A Matilde tem sido o meu pilar para ultrapassar tudo isto, ela só sai de casa para ir á escola e ao supermercado, o resto do tempo ela passa comigo no meu quarto a tentar distrair-me e a fazer-me sentir melhor. Ela acredita q eu vou conseguir esquecer o que aconteceu se batalhar muito mas eu sei que nunca vou esquecer. Fui marcada para toda a vida, e da pior maneira possivel.
Sinto outro enjoo e salto da cama e direção á casa de banho. Despejo tudo na sanita enquanto ouço passos no corredor. A porta abre-se e eu suspiro.

Matilde: Clara, estás bem? Clara?

Clara: Estou aqui - digo alto para ela me ouvir.

Limpo-me e encosto-me á parede da casa de banho. Ela entra e senta-se ao meu lado.
Clara: Estou farta disto... como posso superar isto se o meu corpo ainda n sabe reagir ao q aconteceu?

Matilde: Não acho q seja isso... - viro-me para ela e encaro-a confusa enquanto espero que continue - Já pensas-se que pode ser outra coisa?

Clara: Achas que posso estar doente? N me tenho alimentado muito, pode ser que seja disso.

Matilde: Não era bem nisso que eu estava a pensar... pelo sim pelo não... poderias fazer um teste de gravidez.

Levanto-me bruscamente o que a faz dar um pulo de susto.

Clara: Eu não estou gravida!!! Eu tenho 17 anos!!! Isso não pode ser!!! Gravida... ainda por cima daquele.. daquele.. daquele monstro!! Eu tenho andado a comer pouco é isso eu sei! - Quanto mais falava no assunto mais o medo me corrompia.

Matilde: Não custa fazer o teste. Eu posso ir agr á farmacia comprar um. Ao menos fico mais tranquila. - ela levanta-se e sai da casa de banho sem me dar tempo para lhe responder.

Volto a sentar-me e penso. Eu sempre adorei crianças e sempre quis ser mãe. Sempre quis ter a casa cheia de pirralhos mas agora? Aos 17 anos gravida? O que seria de mim? A minha mãe ia-me expulsar de casa com certeza e teria de deixar a escola para trabalhar senão n ia conseguir sustentar o bebe e a mim. Mas eu não estou gravida. Não posso estar gravida. Não vou conseguir aguentar viver com um filho meu fruto de algo tão cruel. E se eu não o amar? Não isso não pode acontecer. Saí dos meus desvaneios quando ouvi passos.

Matilde: Clara?

Clara: Estou aqui. - um pequeno sorriso surge ao pensar que já era a segunda vez hoje que tinhamos aquele diálogo mas logo paro de sorrir quando a vejo entrar na casa de banho com uma caixa.

Matilde: Toma - ela entrega-me a caixa - Espero por ti no teu quarto - ela começa a sair mas volta a olhar para mim - Não te esqueças que qualquer que seja o resultado eu vou estar aqui para te apoiar. - Aceno positivamente com a cabeça e ela deixa-me sozinha com aquele pacote nas mãos.

As minhas mãoes tremem enquanto espero pelo resultado e quando o vejo passo a mão no ventre. Um sorriso largo forma-se nos meus lábios enquanto um rio de lagrimas cai dos meus olhos.

Estou grávida.

Esqueço tudo aquilo que pensei enquanto esperei pela minha irmã me trazer o teste. Eu vou ser mãe. Estou a gerar um vida. Eu estou feliz e eu amo esta criança. N sei se devia nem se é possivel eu amar algo que seja fruto de algo tão doloroso mas não consigo sentir nada mais para além de amor por este ser que cresce dentro de mim.

Clara: A mãe ama-te muito meu amor e não vou deixar que nada de mal te aconteça. - Saio da casa de banho e paro na entrada do meu quarto. A Matilde olha para mim com espectativa - Parabéns - Ela faz uma careta confusa - Vais ser tia.

Ela abre o maior sorriso que eu já vi, corre até mim e abraça-me.

Matilde: Eu sabia.

Ironias do destinoOnde histórias criam vida. Descubra agora