Mas nós te amos muito

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Meu pai abriu a porta, dando de cara com Seth. Papai levantou as sombrancelhas, como que dizendo:"Esse é novo! ". Então, certo de que era meu amigo, o convidou para entrar. Eu tenho que dizer, Seth se saiu muito bem com meus pais. Primeiro, disse "boa noite, senhor" para meu pai, e este perguntou o nome do meu amigo, que respondeu junto com o sobrenome WildCat. Deve ter inventado na hora...

Apesar de estranho, meu pai deu de ombros sobre o sobrenome dele e o apresentou para minha mãe. Quando os dois se aproximaram, pude perceber que Seth era mais alto que meu pai. Quanto a minha mãe, Seth beijou-lhe a mão, e sorriu, obviamente com os lábios fechados.

Por fim, ele olhou para mim. Pelo seu olhar, ele esperava que estivéssemos sozinhos. Seus olhos verdes me avaliaram de baixo para cima, suas mãos atrás das costas, as orelhas tremendo involuntariamente dentro do capuz. Percebi que estava de pijama, aquele com uma camiseta de alcinha e shorts curtos. Corei um pouco, mas manti a postura. Sorri tristemente, pedindo desculpas com os olhos, pelos meus pais. Então, tive uma ideia.

-Com licença, mãe, pai, nós dois temos que...estudar para um teste, que vai ser amanhã. Nós vamos lá para cima.

Não sei se foi só minha imaginação, mas os meus pais fizeram uma cara duvidosa. Eu não os culpo. Afinal, quem iria deixar a filha sozinha, no quarto dela, com um garoto? Mas, por incrível que pareça, eles fizeram que sim com a cabeça, ainda com um pouco de insegurança. Na verdade, quem estava mais duvidoso era meu pai. Super-protetor, o de sempre.

Antes que os dois mudassem de idéia, disparei escada acima, puxando Seth comigo. Ele levantou as sombrancelhas, como que estivesse surpreso pelo fato de eu querer ficar a sós com ele. Mas seus olhos brilharam.

-Espero que seja bom, porque, se não for, eu juro que volto a ver aquele filme perfeito!

Minha janela estava fechada, e ele já tinha tirado o capuz e soltado o rabo. Tudo bem! Talvez a companhia dele fosse melhor do que Harry Potter. Ele olhou para mim, sorrindo, mostrando os dentes, coisa que eu raramente via. Suas orelhas manchadas estavam virando de um lado para o outro, como radares.

-Eu vim para ver se você estava bem. Sabe, eu, Leona e Tuna pensamos que poderia se meter em mais uma encrenca, depois do acidente com o rio. Então, te observamos sem que note. Desculpe, mas achamos que era necessário. E não se preocupe! Leona te vigia quando está em momentos mais...particulares.

Ele estava pedindo desculpas por me proteger.

-Então você acham que eu não sei me virar sozinha?-disse, em tom brincalhão.

-Não é isso! É porque eu... Er... Meio que... Gosto de você

Eu ri, pensando que ele estava brincando. Depois de alguns instantes parado, ele também começou a rir, mas de um jeito forçado. Ainda rindo, mas um pouco menos, eu olhei para ele. Seu rosto estava vermelho como pimenta, e, quando percebeu meu olhar, tentou se virar. Nós dois ficamos em silêncio. Sem perceber, também fiquei vermelha.

-Isso...isso é sério, Seth?-perguntei, mais seria.

Ele fez que sim com a cabeça, e pegou seu capuz. Estava se preparando para ir embora. Assim que levantou seu jeans, eu segurei seu pulso, fazendo-o olhar para mim. Já tinha aberto a janela até a metade.

-E...eu sei. Que idéia! Metade do mundo também gosta de você! Por que ficar comigo, não?-ele murmurou.

-É exatamente o que eu penso sobre você.-sussurei.

Se sentou no parapeito, uma perna para fora do quarto e outra para dentro. Por alguns instantes, eu consegui encara-lo, mas, depois, desisti. Quando voltei a olhar para ele, não sei por que, me pareceu o momento certo de beija-lo. Antes que mudasse de idéia, eu o segurei pela gola da camisa com uma das mãos e me aproximei. Nossos rostos estavam a vinte centímetros de distância. Dez. Cinco. Ele segurou minha cintura, e eu coloquei o braço que não estava sendo usado em volta de seu pescoço. Três centímetros...

Coisa de gatoOnde histórias criam vida. Descubra agora