Acho que não posso viver sem sua amizade

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As pessoas se juntaram para ver Tuna, morto com um tiro no coração. Kuna e Hine saíram correndo, mas não foram para a floresta. Eu os encontrei no telhado da escola. Os dois estavam vermelhos de tanto chorar. Lá de cima, dava para ver a multidão na praça que, depois de alguns minutos, começou a findar.

-E agora?-perguntou Hine, limpando as lágrimas.- Não acredito que vi meu próprio irmão sendo morto à...

-Vocês estão livres.

Troy apareceu atrás de mim, e segurou o ombro dos dois. Ele parecia ter chorado, mas não conhecia Tuna como eu, ou como os irmãos tigres. Então eu ouvi uma coisa, e pareceu que os outros três tinham ouvido. As ultimas palavras de Tuna foram a consciência dos mortos, que Mella não havia descobrido ainda. "Eu estarei vivo em vocês..."

Depois disso, eu e Troy fomos embora. Quando eu me deitei, no meu quarto, sozinha, comecei a chorar de verdade. Fiquei cega pela raiva pelo diretor, pelos meus ex-amigos e por todos os que, mesmo que a principio, concordaram em matar os meio felinos. Acho que comecei a berrar, porque meu pai subiu correndo para ver o que estava acontecendo. Ele viu o meu estado e, tentando ajudar, se sentou ao meu lado. Eu tentei me acalmar um pouco para não partir o coração dele mas, quando meu pai foi embora, liguei para Troy.

-Ei, gata!- ele me cumprimentou do outro lado da linha, mas sua voz estava um pouco infeliz.

-Preciso que você venha até minha casa agora! Por favor...- sussurrei entre soluços.

-Calma! Já tô indo!

Em alguns minutos, eu estava chorando no ombro dele. Era disso que eu precisava. Uma pessoa que entendesse o que eu estava passando, mas que não me lembrasse Tuna. Deve ter levado uma hora para que eu me acalmasse, mas, emfim, parei de soluçar. Eu o abracei apertado, e ele retribuiu. Então, ouvi minha janela abrir. Nós dois olhamos para lá, e Seth entrou no quarto. Ele nos achou, encolhidos no encosto da minha cama, e andou até nós.

-Oi, gente.

Troy entendeu a deixa de que era para ele ir embora. Quando desapareceu no corredor, Seth se ajoelhou ao meu lado. Eu lhe expliquei que pensei em chama-lo, mas ele não tinha celular. Então ele disse que estava tudo bem. Relaxei.

-Como estão todos?- eu perguntei.

-Tristes por Tuna, mas felizes pela nossa liberdade. Mais o primeiro.-ele apontou para as costas, a cicatriz do arranhão de Tuna- Nunca me senti tão feliz em ter uma marca registrada dele. Vou sentir saudades.- então, ele deixou cair uma lagrima.

Seth deitou na minha cama por cima das cobertas, enquanto eu estava sentada. Nós dois ficamos conversando sobre Tuna, e chorando um pouco. O abdômen de Seth tremia toda a vez que ele tentava segurar uma lagrima. Perto das duas da manha, eu me deitei ao lado dele, e me aconcheguei no calor de seu corpo. Seth colocou um braço embaixo da cabeça, e o outro em volta da minha cintura.

Seus pelos de guepardo me pinicavam, mas essa era mais uma das provas de que aquele momento era real. Feliz e infelizmente, era mesmo real. Lembrei que ainda estava de jeans e camiseta, que eu fora para a escola, e percebi que, em menos de vinte e quatro horas, a vida de toda uma cidade mudou...para melhor.

-Mik, você conseguiu. Me salvou...e a todos os outros. Devo minha vida a você.

Coisa de gatoOnde histórias criam vida. Descubra agora