Beijo de guepardo

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O calor do corpo de Seth era muito reconfortante. Seus dedos tocavam nas minhas costas. Eu vibrava. Suas mãos seguravam minha cintura.

Até aquele momento, nunca tinha percebido o quanto eu gostava de Seth.

Quando nossos lábios haviam se escostado, preenchendo os três centimetros que faltavam, eu senti a energia de um...guepardo. Foi como uma descarga eletrica em mim: cada músculo, cada veia, podia arranjar energia para correr uma maratona em segundos. Podia lutar com um espadachim de olhos fechados. Era uma energia selvagem. Era muito mais do que uma agitação humana normal.

Logo depois, comecei a perder o fôlego, e me distanciei para respirar. Minha energia se fora. Minhas pernas vacilaram, mas Seth não me deixou cair. Não conseguia mais senti-las. Ele me levou para minha cama, e me deitou nela com cuidado. Então, se sentou ao meu lado. Eu não conseguia nem sorrir.

-Mik...aila...s...sinto muito. Eu...eu não sabia do que era capaz. Ahg! Leona me avisou o que acontece, mas eu não dei ouvidos. Caramba! Você vai ficar bem. Durma, e, amanhã, nós conversamos.

Na real, eu não entendi nada, mas também não pude fazer nada. Adormeci sentindo a presença dele, me observando.

Quando acordei de novo, já era de dia. A manhã seguinte. Seth estava estirado no meu sofá preto. Lembra quando eu disse que tinha um quarto muito grande? Então...acho que não era tão grande assim para que eu não acordasse Seth com o barulho dos meus pés no chão. Ele tirou o braço peludo e manchado de cima do rosto, e me deu um de seus sorrisos com a boca aberta. Sorri de volta. Mas, então, processei o fato de que ele tinha ficado a noite toda no meu quarto.

-Seth! Você ficou aqui?! Comigo?! A noite inteira...

-Calma. Depois que você "desmaiou", eu desci para a sala e avisei para sua mãe que nós dois iríamos ficar estudando a noite inteira. Acho que ela acreditou.

Eu andei até o sofá, pensando no que dizer em minha defesa quando descesse para o café da manha. Quando ele se levantou, me encarando e esperando minha reação, eu coloquei minhas mãos nos ombros dele. Então, encostei minha cabeça em seu pescoço. Acho que ele deve ter entendido aquilo como um "meus pais não vão se importar", porque Seth escostou seu queixo na minha nuca. Acho que, desde que eu estivesse com ele, ninguém iria se importar.

-Como você fez aquilo, ontem a noite?

Seth tinha dito que iria me explicar, então eu queria saber. Ele disse que era uma coisa bem estranha, um tipo de proteção. Toda a vez que eles encostavam os lábios em alguém, presa ou predador, este alguém tinha sua energia drenada, e facilitava o processo de mata-lo. Eu estremeci. Ontem, havia me transformado na presa.

-Leona tinha dito que não era uma boa ideia te beijar, mas eu constatei que isso só acontecia quando eu quero. É melhor nós não fazermos isso de novo.

Eu queria definitivamente fazer aquilo de novo.

Quando, em fim, descemos para comer, meu pai olhou para Seth assustado. Parece que ele não sabia sobre os "estudos prolongados". Eu entendi porque Seth não quis comer nada, e minha mãe desistiu de tentar oferecer pão com geléia a ele.

Naquele café da manha, eu pude, pela primeira vez, ver como Seth se comportava longe de sua familia, e não tentando me salvar de um afogamento. Acho que lhe agradava a ideia de não precisar se esconder tanto, mesmo frente a frente com meus pais. Eu o protegeria. Seth ficava fazendo piadas e contando, mesmo que indiretamente e de modo mais normal, sua vida. Algumas vezes ele falava demais e eu tinha que ir ao seu socorro.

-Mas, antigamente, na Africa, eu e minha familia corríamos para valer mesmo. Éramos mais rápidos do que nossos ancestrais, os guepardos...

-Como assim, querido?-perguntou minha mãe.

-É que, na cultura deles, os animais são parentes, e todos vivem em armonia...-eu inventei, apressada..

Foi até engraçado.

Então, saímos de casa, quase que correndo. Estávamos atrasados!

Coisa de gatoOnde histórias criam vida. Descubra agora