Capítulo 3

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Acordo desorientada e demora para minha visão focar onde estou

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Acordo desorientada e demora para minha visão focar onde estou. Sinto minha testa latejar. Olho ao redor. Estou no hospital. Hospital? Até que aos poucos a memória da noite anterior aparece na minha mente. Eu estava no jogo de tênis, me levantei para comprar pipoca e depois não lembro de mais nada.

Vejo minha mãe dormindo toda torta na cadeira do lado de minha cama, ela está usando um moletom e está descabelada. Nunca vi minha mãe vestindo roupas tão simples.

Nesse momento, ela desperta e ao me ver acordada, salta da poltrona.

- Ana! Você está bem, querida?

- Minha testa está dolorida. O que aconteceu? - toco minha testa e sinto o curativo.

- Você estava em um jogo de tênis com Margot...Aliás, quando você começou a gostar de tênis? Enfim, não importa. Você se levantou para comprar não sei o quê e um dos brutos jogadores acertou você na testa- ela solta uma risada nervosa- nunca achei confiável esses atletas, graças a Deus você encontrou alguém da sua altura para você e não esses atletinhas meia tigela. Como vai o Vitor, a propósito?

Olho para baixo. Eu acabei de levar uma bolada na testa, desmaiado e ela quer saber de Vitor? Tenha santa paciência.

- Acontece, mãe, que o seu amado Vitor não me acha a altura dele já que ele terminou comigo por uma maldita carta! - me exalto- podemos agora não falar mais sobre isso, pelo amor de Deus?

- Desculpe- murmura constrangida- seu pai e eu sempre gostamos tanto dele...

- Mas papai conheceu um Vitor de 15 anos de idade. Com certeza ele ficaria zangado com o que Vitor me fez e não ficaria puxando seu saco o tempo todo!

Quando as palavras saem da minha boca eu me arrependo, sei que fui longe demais. Meu pai é o ponto fraco de minha mãe. Com isso, ela abaixa os olhos e se vira para sair do quarto.

- Vou atrás de um café- sussurra.

Fecho os olhos. Droga. Falar de meu pai desencadeia milhares de lembranças. Quando eu tinha quinze anos, perdi meu pai para o câncer. Ele lutou bravamente contra a doença durante longos 10 meses sem tirar o sorriso de seu rosto até que o câncer parou seu coração. Eu estava na escola na aula de matemática quando minha mãe apareceu na porta para me buscar. Ela estava com a roupa e cabelo impecáveis como sempre, porém estava mais agitada que o normal.

Ao receber a notícia que meu pai nunca voltaria, eu senti como se meu coração tivesse arrancado do peito e alguém tivesse me dado um soco no estômago. Meu pai sempre foi meu melhor amigo, meu tudo e o fato de eu nunca vê-lo, ouvir sua voz ou até mesmo levar suas broncas, era insuportável. Senti que deveria ter lhe falado o quanto eu o amo quando ainda havia tempo.

Minha mãe não derramou uma única lágrima no velório e no enterro de meu pai, ela é uma mulher extremamente forte e nunca permitiu ninguém ver seus momentos de fragilidade. Contudo, quando estávamos apenas nós duas em nossa casa, ela se trancava em seu quarto e eu ouvia seus soluços antes de dormir. No dia seguinte, ela aparecia impecável novamente e forte como uma muralha com seu dia todo planejado em uma planilha.

Este é um fato sobre minha mãe: desde que me conheço por gente, ela nunca deixou de seguir sua planilha, nunca saímos da rotina um misero dia. Além disso, ela sempre se achou no direito de controlar minha vida ao interferir em meus relacionamentos, amizades, praticamente tudo. Mesmo com 25 anos, ela ainda acha que sou sua propriedade. Entretanto, ela continua sendo minha mãe e eu lhe devo respeito e gratidão por tudo que ela fez por mim.

Ouço passos entrando no quarto, deve ser minha mãe.

- Escute, mãe...- começo abrindo os olhos mas paro quando me deparo com um jovem muito bonito sorrindo de orelha a orelha que me parece familiar

- Posso não ser tão novo mas certamente não sou sua mãe- brinca, contudo, logo fica sério- fico aliviado que você esteja bem.

Estreito os olhos.

- Como você sabe o que aconteceu?

- Ah...Eu sou culpado por toda essa situação- diz ele constrangido- Prazer, me chamo João Pedro, jogo tênis e sinto muito.

Se eu tivesse bebendo algo, com certeza eu engasgaria. Ele é o jogador bonito da noite passada. De repente fico preocupada com a minha aparência. Será que meu cabelo parece um ninho? O que você está fazendo, Ana? Você tem quantos anos? Parece uma adolescente. Limpo a garganta e dou um sorriso.

- É um prazer conhece-lo, mesmo ter me deixado com um galo enorme na testa- brinco e João fica mais relaxado- Eu me chamo Ana...Não Ana de Ana Clara ou Ana Luiza...Só Ana.

Ele ri.

- O prazer é meu Só Ana.

Sorrimos um para o outro e ficamos um tempo nos encarando, até que ele pega algo no bolso e estende para mim.

- Eu realmente sinto muito e espero poder acompanhar de perto o quanto esse galo diminui- ele me dá um sorriso lindo- Este é meu número...Se você precisar de alguma coisa.

Pego o papel e coloco na mesa do lado da minha cama.

- Pode deixar- retribuo o sorriso- e não se preocupe, eu estou bem.

- Eu fico muito aliviado. Bom, melhor eu ir. Se cuide- ele se vira e vai embora mas deixa meu coração extremamente acelerado.

Quando minha mãe volta para o quarto estou de bom humor novamente e decido que lhe devo desculpas.

- Mãe, me desculpe, eu não deveria ter falado com você daquele jeito.

Ela se aproxima da cama e coloca meu cabelo atrás da orelha.

- Tudo bem, querida. Eu sei que nem sempre fui uma boa mãe mas nunca quis menos que o melhor para você. Eu que peço desculpas- diz ela e me abraça.

Retribuo seu abraço forte. Não importa o quão controladora ela é. Eu a amo muito. Ela se afasta, enxuga os olhos e bate palmas.

- Hora de dar um jeito nesse ninho que está seu cabelo!

Reviro os olhos. A Dona Marta de sempre está de volta.

- Sim, senhora- imito a melhor continência que posso estando em uma cama.

Com amor, AnaOnde histórias criam vida. Descubra agora