Quatro dias haviam se passado desde a fatídica conversa que Alex teve com Davi. Durante esse período raramente Alex conseguiu vê-lo, e era sempre de longe à noite entrando no carro com seus pais. Ter tido aquela conversa desastrosa como a primeira e última o deixava inquieto.
Era noite e não havia mais atividades da escola para serem feitas. Alex decidiu assistir alguns episódios do seu atual anime favorito, "Bleach". Como o protagonista era ruivo assim como ele, logo se identificou com o personagem. Já estava no terceiro episódio da segunda temporada, quando ouviu uma batida na porta.
- Pode entrar mãe. - tinha a absoluta certeza que era ela.
- Oi - ela disse carinhosa enquanto abria a porta - Tem um amigo seu te procurando na frente de casa.
- Que amigo? —perguntou curioso
- O nome dele é Davi.
Ele pulou da cama assustado.
- É o vizinho novo. O que será que ele quer? - tentou disfarçar o interesse depois de ter pulado da cama feito um macaco de circo.
- Vai lá ver. Não seja grosso com o menino, ele é novo aqui e deve tá querendo fazer amigos — sua mãe disse o advertindo.
- E eu tenho cara de Criança Esperança? - disse debochando, disfarçando totalmente a vontade de ir lá.
- Alex - sua mãe repudia o comentário.
- Tá eu vou lá.
Desceu a escada como quem não queria nada. Ao abrir a porta lá estava o Davi de costas, vestindo uma jaqueta jeans. Forte e com aquele cabelo preto, em um corte baixo parecia até um bad boy.
- Oi — disse Alex
Davi virou pra responder.
- Oi cuzão. - deu um largo sorriso.
Os dois deram gargalhadas. Alex fechou a porta e sentaram nos degraus da escadaria.
- O que faz aqui? - perguntou Alex.
- Tive que ficar em casa, cuidando da minha irmã que tá com febre. Aí pensei em ti ver.
O coração de Alex acelerou ao ouvir tais palavras. "Ele quis me ver" pensou tão profundamente que não percebeu os acenos de Davi a sua frente.
- Tá tudo bem? - Davi perguntou.
- Sim, sim. Desculpa eu viajei.
- Em quê?
"Em você seu filho da puta lindo." A vontade foi de falar, mas a coerência falou mais alto.
- Bobagem. Então me diz pra onde você vai com seus pais quase toda noite? - mudou de assunto.
- Ah você notou, vamos pra igreja — Davi respondeu.
- Eu vi sem querer outro dia. - mentiu sem pestanejar.
- Vamos dar uma volta no Quarteirão? - Davi convidou inesperadamente.
Alex levou um susto com o convite.
- Acho que tá tarde.
Davi levantou dos degraus e estendeu a mão para dar mais confiança.
- Ah, vamos. É rápido e eu também quero te falar algo em um lugar mais reservado.
O coração de Alex se movia mais rápido que banda de K-pop coreografando.
"Eu não tô preparado pra isso." pensou enquanto colocava a sua mão sobre a de Davi, levantou com a ajuda do amigo e os dois seguiram caminhando.
A rua não era escura, como todo bairro classe média de São Paulo a iluminação funcionava.- Então você curte ir pra igreja? - Alex puxou o assunto enquanto andavam.
- Às vezes sim. Falar com Deus me ajuda bastante a superar os meus medos.
Alex olhou para ele, a leveza com a qual Davi falava o deixava cada vez mais encantado. "Eu não acredito que tô querendo desvirtuar uma ovelha do senhor. Vou pro inferno, não tem jeito" pensou e olhou para o chão, com medo do amigo notar.
- O que você queria me falar? - lembrou do assunto prometido
- Sim, mas você tem que me prometer guardar segredo. Ok? - disse Davi.
Eles pararam, se observaram. O clima agora era mais tenso que antes.
- Pode deixar.
- Então, eu preciso de você. Não conheço nada aqui e eu precisava saber onde eu consigo comprar maconha.
Alex o olhou completamente perplexo.
"Maconha? O desgraçado quer maconha, eu tenho cara de traficante?" pensou.
- Eu não entendi - respondeu ainda atônito.
Davi deu um pequeno sorriso vendo a perplexidade óbvio no rosto de Alex.
- Desculpa, é que do jeito que você falou outro dia, achei que curtia.
- Não, não. Eu nunca fumei, mas eu sei sim onde tem – respondeu tão rápido que nem se preocupou no que ia falar se Davi perguntasse o nome do lugar, já que ele mentiu.
- Isso é ótimo. Tem como me levar lá amanhã depois da aula? - Davi ficou animado com a ideia.
- Tem sim - respondeu sem pensar novamente.
Davi passou seu braço por cima dos ombros de Alex. Ao mesmo tempo que era uma sensação gostosa, era desesperador para Alex.
- Me diz uma coisa. Não é errado evangélico fumar maconha? — Alex questionou.
- É por isso que vai ser um segredo nosso — Davi respondeu.
- Tá.
"E Deus não tá vendo? Engraçado." pensou.
Os dois continuaram juntos até próximo de casa, quando Davi retirou seu braço, se despediu com um até amanhã e entrou para casa.
Alex entrou, mas não teve a mesma sorte. Sua mãe estava esperando ele entre a sala e a escada.
- Onde você foi uma hora dessas? - perguntou brava.
- Calma mãe, eu fui só até a esquina.
- Uma hora dessa da noite. Sabe o quanto essa cidade é perigosa?
- Eu sei mãe. Desculpa, não vai acontecer de novo. Posso subir?
- Pode!
Subiu e foi direto para o quarto, refletir sobre o que aconteceu, o que prometeu e como cumprir. Jogou-se na cama, colocou a cabeça debaixo do travesseiro e começou a reclamar.
- Burro, burro. Como eu pude achar que ele ia querer alguma coisa comigo?
Passou alguns minutos pensando em não ir ao encontro da maconha com Davi, afinal eles nem marcaram um lugar, além do fato de não fazer a mínima ideia de onde comprar.
- Seja o que Deus quiser - disse em voz baixa.
Decidiu que ia estar preparado caso o encontro realmente acontecesse. Ligou o computador e foi procurar no Google, depois de algumas reportagens policiais sobre pequenos e grandes traficantes presos, encontrou uma que falava sobre o uso de maconha no Vale do Anhangabaú, por travestis, skatistas e toda uma turma descolada. Parecia o lugar perfeito, ainda mais porque ele já conhecia onde ficava, desligou o computador e foi dormir.
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O Garoto da casa ao lado
Teen FictionAlex é um jovem que despertou um forte sentimento de amor por seu novo vizinho Davi. Entre as loucuras e o cotidiano da vida adolescente, os dois tentam descobrir a melhor maneira de viver esse amor. Nessa jornada vão descobrir sobre o que é amar um...