Merda!

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Quatro e vinte e oito da madrugada. Alex estava dormindo na cama, com a janela entre aberta deixando o vento entrar. Acordou com o barulho do som do celular, pegou ainda meio sonolento. Como esqueceu o Wi-Fi ligado era mensagem do Whatsapp, mensagens de Davi. Entrou para vê e eram áudios, enviados a menos de uma hora. Levantou da cama e pegou o fone de ouvido, curioso pra escuta-los.

Apertou play do primeiro e mais longo.

"Oi, agora são três e tantas da madrugada, e eu não consigo parar de pensar no que aconteceu. Eu não sei o que dizer, fazer ou entender. Eu juro que nunca senti isso por outro garoto antes, pelo menos não desse jeito. Me desculpa por tá mandando mensagem essa hora, vários pensamentos passando".

Alex ouviu cada segundo da voz de Davi, ouviu a angústia em seu tom, também ouviu uma música de fundo que não conseguiu identificar.

Foi para o segundo áudio.

"Não quero ser um cara otário eu juro. Só não sei o que fazer, mas sei que te quero perto de mim."

Terceiro áudio.

"Olha só o que você fez comigo"

Quarto áudio.

"Me responde alguma coisa, diz que eu tô doido. Você é um homem e eu também, e isso é difícil de entender Alex. A culpa é sua, seu jeito meigo comigo, seu bom humor... É melhor parar por aqui, já tô falando merda, me desculpa, me desculpa, me desculpa."

Os áudios acabaram e Alex não teve a coragem de responder, na verdade nem sabia como e o que responder. Ficou olhando o teto e imaginado, como deveria está a cabeça de Davi. Agora eles estavam realmente perto de ultrapassar a amizade e isso parecia doido, e bom ao mesmo tempo.

Pegou o celular num surto súbito de coragem e enviou um áudio.

-Eu não sei o que vai acontecer, eu não posso dominar o futuro, nem sei o que você vai querer, eu só sei que eu te amo.

Enviou o áudio, a mensagem foi recebida, mas não lida. Colocou o aparelho de volta no lugar, ficou olhando o teto do quarto até pegar novamente no sono. Ao acordar de manhã a primeira coisa que fez foi olhar o celular, para ver a resposta de Davi. A mensagem foi visualizada, mas não respondida.

Alex passou o dia inteiro pensativo, com a falta de resposta de Davi. "Como alguém não responde a um eu te amo?" Também não teve coragem de cobrar nada, era melhor esperar pra se encontrarem pessoalmente.

Assim que a última aula acabou, pegou suas coisas e caminhou para a saída.

- Tá com pressa salsicha? - gritou Max vindo em sua direção.

- Hoje não cara.

Acelerou o passo e desviou dele chegando à porta da saída. Davi estava do outro lado da rua, de pé olhando em direção à escola. Atravessou o sinal da esquina e caminhou até ele

- Porque não me avisou que estava aqui?

- Não sabia muito bem o que dizer - Davi respondeu um pouco acanhado.

- Que tal, tô indo te ver? - tentou descontrair para acabar com o nítido clima frio.

- Eu sei.

Os dois se olharam por um tempo em silêncio até que Davi resolveu falar.

- Vamos pra uma praça que tem aqui perto, acho que a gente precisa conversar.

- Eu sei onde é.

Saíram andando até chegar a Três quarteirões a baixo da escola. Era uma praça grande e bem arborizada. Adentraram e sentaram em um banco de concreto que havia no local.

- Me desculpa pelas mensagens.

- Não tem que se desculpar, as coisas só aconteceram - disse Alex tentando conforta-lo.

Davi baixou a cabeça, ainda tentando encontrar coragem.

- Você não está bem né? - perguntou Alex.

- Não.

O clima ficou cada vez mais tenso, parecia um jogo de palavras que todos queriam dizer, mas ninguém dizia.

- Eu não sei o que vai ser da gente agora - disse Davi.

- Como assim? Eu... Eu te amo.

Davi levantou o rosto e o encarou, agora com um pouco de coragem ou desespero que tinha.

- Eu sei, e é muito difícil isso pra mim.

- Por quê? - Alex alterou a voz.

- Porque é diferente pra mim. Porque vai contra coisas que minha fé acredita.

Alex se levantou do banco.

- Ah, por favor. Me poupa disso, na hora de fumar maconha sua fé pouco importa.

- Você sabe que isso me ajuda, não seja baixo - disse Davi se levantando em seguida.

- Baixo? Baixo é você ficar brincando com os sentimentos de alguém, ficar seduzindo e quando esse alguém está completamente apaixonado você fazer isso. - as lágrimas caíram dos seus olhos.

- Eu nunca quis te machucar. Não chora! - levou a mão até o rosto de Alex.

- Não me toca. -Alex enxugou suas lágrimas - Eu lembro quando você disse na igreja que não tinha nada de errado entre dois homens se apaixonarem.

- Sim, eu disse. Mas eu não tava apaixonado por você. Só que agora eu tô, você não sai da minha cabeça nem por um segundo. Isso tá me matando.

- Covarde. Eu vou facilitar sua vida, saindo dela - disse se virando para ir embora.

- Não é isso que eu quero. - segurou o braço de Alex - Eu só quero um tempo pra conseguir entender tudo isso.

Alex puxou o seu braço da mão de Davi, com tanta força que parecia consumido pelas fúrias.

- Foda-se o que você quer.

Saiu andando enxugando as lágrimas.

- Alex, volta aqui. - Sentou no banco novamente. - Merda.


O Garoto da casa ao ladoOnde histórias criam vida. Descubra agora