CAPÍTULO 15

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O vejo sair mais uma vez e me deixar dentro da plataforma de ferro, observo sua saída para o braços de Sang uma segunda vez, ela parece tão preocupada com ele e as pessoas ali fora estão todas perguntando se estamos bem, foram mais de vinte minutos presos no elevador e poderíamos ter passado disso.

Não consigo escutar o que as pessoas estão falando, todos os sons estão abafados pela cena logo a minha frente, a ruiva abraçando e acariciando o moreno que deveria ser meu, os seus pequenos dedos se estendem por todo o seu cabelo e a forma como ela o acaricia me faz pensar no motivo pelo qual não sou eu ali, eu não faço parte dos seus lindos momentos, eu sou apenas a fumaça no ar, a fumaça cinza e tóxica que pode trazer horríveis tempestades.

- Querida, você demorou tanto. - Meu pai diz quando abro a porta do carro vermelho.

- Pode me deixar em algum bar? - Pergunto olhando pela janela.

- Você está bem Rose? - Sinto o toque leve de sua mão na minha mas me recuso a mostrar para ele que estou em meio a uma guerra interna - Eu falei algo errado lá dentro?

- Não, papai. Você não fez nada. - Digo - Eu só preciso pensar um pouco.

- Precisa ser bebendo? - Sua repreensão indireta me faz pensar um pouco mas sei que sou mimada demais para aceitar sua repreensão.

- Pode me levar ou não?

- Tudo bem, eu confio em você filha, sei que é responsável e vai fazer a coisa certa.

As palavras dele me fazem pensar por alguns segundos mas estou magoada demais para tentar seguir seus conselhos, magoada por mim mesma, não entendo o que está acontecendo dentro de mim, não entendo por que me tornei o que sou agora e não entendo por que só depois de tanto tempo estou caindo na real de que essa não sou eu. Acho que tudo que preciso agora é ser chacoalhada pela vida, para assim lembrar quem eu sou e quem eu não devo ser.

Meu pai se despede de mim e mais uma vez diz que tenho que tomar cuidado, eu sei o quanto ele se esforça pra ser um bom pai, ele não consegue impor limites pra mim por que sente a culpa percorrer suas veias todos os dias, a culpa de ter abandonado aquela pequena garotinha que adoraria ter tido um pai como ele.

O balcão marrom está brilhante como nunca pela bebida que acabei de derramar, o barman continua olhando para mim como se eu estivesse pedindo ajuda, mas tudo que estou pedindo é uma bebida atrás da outra, sei que beber não vai ajudar a sanar a dor, na verdade vai fazer com que ela fique mais evidente e não sei se estou preparada para passar por isso outra vez, a dor foi minha amiga por muito tempo, acho que desde o meu primeiro choro quando nasci, eu já nasci sem mãe e estava a pouco tempo de ficar sem pai, nunca tive amigos na infância e era considerada uma delinquente na adolescência pelo simples fato de andar sozinha, as pessoas me julgavam por ser uma garota de quatorze anos andando sozinha a noite. Lembro bem do meu cabelo com pontas cor de rosa, eu adorava aquele cabelo, eu adorava como eu camuflava minha dor através de mudanças estéticas, eu acreditava que eu podia me tornar uma pessoa diferente todos os dias, então sempre que a dor vinha me abraçar eu a mandava para longe acreditando ter me tornado outra pessoa.

- Não acha que já bebeu demais? - O homem alto atrás do balcão diz e o ignoro tomando mais um gole de whisky - Não sei o que houve com você, mas encher a cara não é a melhor solução.

- O que você sabe sobre isso? - Continuo sendo rude com quem não merece.

- Eu sou um ex-alcoólatra. - Quando as palavras saem da boca dele pouso o copo imediatamente e olho para seus olhos verdes.

- Por que um ex-alcoólatra trabalharia em um bar? - Questiono.

- As pessoas tentam todos os dias, incessantemente, provar algo sobre elas mesmas. Eu não sou diferente, estou a dois anos sem colocar uma gota de álcool na minha boca e quero provar que posso fazer isso em qualquer circunstância pelo resto da minha vida. Pela minha filha, Stassie.

Observo o copo meio vazio a minha frente e penso no que eu estou fazendo a mim mesma, eu amo um homem que não pode me amar, mas eu deveria estar feliz pela felicidade dele, se eu o amo, é o que devo fazer.

- Obrigada. - Digo ao homem e coloco uma quantia generosa de dinheiro em cima do balcão.

Levanto um pouco tonta do banco e cambaleio para fora do lugar, a lua está no céu e as estrelas sumiram todas, as nuvens cinzentas de chuva estão ali.

Entro no carro quente e olho um pouco pela janela, então dou a ordem que Louis espera, preciso lembrar quem eu sou de verdade para poder seguir em frente. Peço a Louis que me leve até a Torre de Seul e ele rapidamente chega no lugar.

Quando o carro estaciona, mal posso esperar para vê-la de novo, sua extensão está cor de rosa, lembro da primeira vez que vim aqui, Jungkook me trouxe, lembro claramente de tudo que ele me disse, do abraço que me deu e do quão aquilo me fez sentir acolhida, os braços dele sempre foram o meu lugar favorito. Sinto gotas de água caírem sobre meus ombros e ando até o telhado com oito colunas, ainda continua o mesmo depois de todo esse tempo.

Observo com cuidado as colunas, até notar que tem pessoas ali, um casal, um casal molhado e alegre, rindo um do outro como se fossem perfeitos, a garota tem um longo cabelo castanho e está segurando uma bolsa cheia de livros, já o rapaz, ele usa um perfeito terno preto que lhe cai bem o bastante para torna-lo único aos olhos dela, ele parece querer compartilhar toda sua vida com a garota mas algo o está travando, algo chamado medo, então olhando para o meio do pequeno espaço ali vejo os dois dançando um tipo de música clássica, ela parece envergonhada e ele está com sua perfeita postura confiante, a forma como eles se olham é tão frustrante para mim, esses dois estão tentando construir algo sem perceber, eles são fortes e cheios de defeitos, defeitos que os tornam únicos e destinados um para o outro.

Quando os dois se tornam pó ao vento, percebo que meu cérebro alcoolizado está brincando comigo e que ninguém esta ali, ninguém nunca esteve, não sou forte o bastante para encarar isso sozinha e acho que nunca serei, tiro os saltos rapidamente e corro dali o mais rápido que posso, para longe, para fora da minha cabeça que só consegue pensar naqueles olhos, para longe desses pensamentos que querem te-lo.

A rapidez não vem de meus pés, mas do choque contra meu corpo, pois, tudo acontece tão rápido, tudo acontece tão de repente que só percebo o chão duro embaixo de mim junto ao sangue quando a chuva faz com que o vermelho tome todo o meu corpo e um homem desesperado sai de seu carro.

GOOD EVENING ✿ JJK (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora