CAPÍTULO 31

4.5K 414 293
                                    

Aquele apartamento estava uma bagunça, um verdadeiro destroço, minhas roupas estavam molhadas e tinha sangue nas minhas mãos, meus dedos ardiam e os cortes pareciam profundos, as lágrimas secaram a mais ou menos duas horas e eu caí no sono depois de ficar exausta.

Abrir os olhos agora era difícil, estavam pesados demais, parecia ser noite lá fora, mas eu nem lembro direito onde estou e por que tem uma tesoura ao lado da cama. Levanto devagar vendo todo o destroço que causei, toda a dor estravasada ali e rápidos flashs passam diante dos meus olhos, o chão frio encontra com meus dedos e minha pele arrepia, me sinto dopada e meu nariz está intupudo. Tem quadros jogados pelos chão em toda parte e vejo várias de mim jogando tudo dentro da minha cabeça, ando pelo lugar que não conheço e tudo parece estar acabado, cacos de vidro no chão e o brilho da noite entrando pelas janelas, as paredes de tijolos são simples e não parece nada com um lugar luxoso.

Me sinto cansada, exausta, acabada. Parece que os cacos de vidro quebrados no chão e os móveis virados do avesso foram obras minhas. Continuo andando pelo lugar, vejo uma sala virada de cabeça para baixo e é uma cozinha americana completamente acabada, ao pé da janela acima da pia existe uma silhueta, uma silhueta masculina, observo com cuidado antes de ter coragem de me aproximar, pode ser qualquer um, mas claro que eu senti que não era. Aquele era meu protetor, minha companhia de dor, meu colega de sofrimento e em boa parte do tempo o motivo dele.

Um enorme corpo musculoso vira-se na minha direção, estou ao pé do balcão de mármore e isso é a única coisa que nos separa, além de tudo que ocorreu nesses cinco anos. Ele segura uma caneca preta e ela brilha em contraste com a luz sucinta vinda da rua. Meu olhar vagueia pelos músculos de seu corpo e a tinta preta em seu peito está pela metade, a dor de lótus está partida, como se tivesse derretido, no lugar da outra metade existe uma queimadura de 2° grau que enche meus olhos de lágrimas.

Por um segundo lembro de tudo que aconteceu, consequentemente lembro da minha promessa.

- Quanto tempo eu dormi? - Indago. Parece que minha garganta está seca como o inferno.

- Um dia e meio. - Seu tom de voz é bem calmo e controlado, diferente da reação que tenho internamente.

Dormi um dia e meio, isso não pode ser verdade. Seco com os dedos a lágrima que está no meio da minha bochecha e arregalo os olhos para que as que estão vindo se dissipem. Não posso quebrar minha promessa, escolhi um dia para sentir o luto, esse dia já passou e pelos destroços deste lugar, sei que o luto foi sentido com sucesso.

- Desculpe pelo seu apartamento. - Me sinto tão envergonhada por ter mostrado o animal selvagem que estava preso todo esse tempo.

- Tudo bem. - A caneca é posta em cima do balcão e arrastada no mármore para a minha direção - Não é um café no Tiffany's, mas foi coado no melhor pano de café do mundo. - Suas covinhas se plantam nas bochechas - Pelo menos foi o que a senhorinha do apartamento ao lado disse.

Penso por um momento por que ele não tem uma cafeteira, qualquer um tem uma cafeteira. Quer dizer, menos os que têm ex-namoradas que destroem a sua moradia. É isso, eu provavelmente destruí sua cafeteira.

- Por que mencionou café no Tiffany's? - Seguro a caneca e deslizo meu dedo indicador na borda vendo o vapor subir e se perder no ar - Acha que sou uma bonequinha de luxo?

- Não sei, na verdade eu nunca vi esse filme. - É quase impossível que ele não tenha visto, esse é um clássico - Agendei para assistir com a minha mãe quando eu tivesse idade, mas ela morreu antes disso.

GOOD EVENING ✿ JJK (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora