CAPÍTULO 18

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A ruiva guarda seu caderno de capa azul dentro de uma gaveta e cruza os braços me observando.

Não me arrependo de ter aceitado ter esta seção, mas me arrependo de ter sido justamente com ela. Odeio pensar que ela imagine agora que sou a garota que quer tomar o namorado dela, não é o que eu quero, confesso que sinto a falta dele, mas eu nunca tentaria rouba-lo dela.

- Sabe Rose, você deveria falar com ele. - Quase me engasgo com minha própria saliva e olho em seus olhos, ela tem um lindo sorriso nos lábios - Vocês tem muito para resolver.

- Desculpe por isso. - Meu olhar cai e me sinto envergonhada - Eu não sabia que era ele, se eu soubesse nunca teria aceitado fazer isso.

- Tudo bem. - Ela se aproxima e senta a minha frente - Gosto de coisas verdadeiras. Se você dissesse a mim que não gosta dele, eu não iria acreditar.

- O que quer dizer? - Engulo em seco.

- Quero dizer que vocês têm muito a dizer um para o outro, então não perca tempo, ele está vindo pra cá, - Ela olha para o relógio em seu pulso e depois para a porta - conte a ele que você é a garota que deu esperança para ele a oito anos atrás.

Quando ela levanta e pega sua bolsa em cima da enorme mesa fico confusa, não sei o que falar nem o que fazer, não sei se vou embora ou se fico para pensar, eu simplesmente não estou entendendo. Que mulher é essa?

- Espera! - Digo quando ela está saindo - Quer que eu me declare para o seu namorado?

Seu sorriso está vistoso de novo, ela sai e fecha a porta me deixando sozinha.

Tento controlar as minhas emoções e tento entender o que acabou de acontecer, acho que ainda estou em transe, não é possível que isso realmente tenha acontecido.

Lembro dos belos olhos do moreno em meus pensamentos passageiros, as auréolas em torno de seus olhos castanhos, ele sempre teve algo a esconder por trás daqueles olhos de anjo, se eu pudesse chutar agora, diria que naquela época ele parou de frequentar o beco de dança por seu avô o estar enchendo para seguir o legado da família, ele tinha dezoito anos e seus pais já tinham falecido, se eu soubesse disso naquela altura talvez eu tivesse passado mais tempo com ele, talvez eu lembrasse de pedir o número dele ou de dar um beijo em sua bochecha.

Em questão de segundos a porta branca de madeira se abre e levanto automaticamente olhando para os olhos que eu estava pensando a pouco. As auréolas douradas ainda estão intactas, seu olhar me intimida e me deixa paralisada, ele usa uma jaqueta preta com um jeans justo e está com dois capacetes nas mão, a bagunça emaranhada de seus fios me faz querer sorrir para ele, mas acordo do transe ao ouvir sua voz.

- Desculpe, eu achei que a Sang estava aqui. - Ele diz e pisa fora da sala, seguro seu pulso rapidamente.

- Espera. - Peço.

Ele olha para mim e depois para minha mão em seu pulso.

- Precisa de algo? - Ele tira cuidadosamente seu pulso dos meus dedos e leva sua mão até o curativo na minha cabeça - O que houve com você? Está bem?

- Um pequeno acidente, não foi nada demais.

- Já pegaram o idiota que fez isso? - Ele continua se preocupando com meu curativo e toca delicadamente o topo da minha cabeça fazendo um afago.

- Ele não teve culpa. - Digo - Eu entrei na frente do carro.

- O que? - A cara de preocupação que ele faz me deixa intimidada e não sei se consigo olhar para ele de novo - Você tentou se matar?

- Não. Eu só... estava pensando demais e estava bêbada.

- No que estava pensando? - Elevo meu rosto e vejo seus dedos pousarem nas pontas do meu cabelo, ele analisa cada parte minha.

Em você.

- Pensamentos de uma bêbada não fazem nenhum sentido, você sabe.

- Estava pensando em mim? - Ele atira e me sinto presa em uma armadilha.

- Jungkook... - O repreendo.

- Era em mim? Eu fui o motivo para você ter se machucado?

Olho para baixo e não sei o que dizer, não posso dizer a verdade, não posso dizer que o que eu vi foram os nossos bons momentos, o que me fez correr para longe deles para tentar odia-los.

- Eu tenho que ir. - Ele diz e sinto o calor do seu toque se perder.

- Preciso falar com você. - Digo.

- Desculpe, eu não posso, tenho que ficar longe de você. - Seu olhar cai e ele sai pela porta branca na qual ele entrou a menos de dez minutos.

Todas as minhas inseguranças, medos e crises estão voltando, todas estão me atingindo de uma só vez e sei que a culpa é somente minha por ter as escondido durante todo esse tempo.

Eu deveria ter gritado, chorado, xingado o máximo possível, assim eu não estaria passando por isso agora. Eu deveria ter vindo antes, ouvido tudo, dito qualquer coisa, eu deveria ter olhado nos olhos castanhos que eram destinados a mim por dez minutos e dito que apesar do que ele fez eu podia perdoa-lo, eu nunca vou esquecer o que ele fez, mas estou pronta para perdoar seu jeito torto de demonstrar que me amava.

Pego o elevador para ir embora do hospital e nem ao menos vou a recepção para dar baixa na minha saída, eu só preciso pensar, é tudo o que eu quero.

Ando pelas calçadas de Seul em meio a uma linda noite cheia de estrelas, minha cabeça está doendo e o meu coração mais ainda, eu sinto que não tenho mais nada a perder, perdi minha mãe, meu primeiro amor e agora vou perder meu pai, tudo está acontecendo tão rápido que desejo acordar de algo que nem sei se é um pesadelo.

Quando o celular toca dentro da minha bolsa, vejo o ecrã e lembro que na verdade ainda tenho alguém, ele nunca saiu do meu lado e eu sei que posso contar com ele para tudo. Deslizo o dedo pelo ecrã e atendo sua chamada.

- Onde está? - Sua voz é preocupada e isso me faz sorrir.

- Andando. Eu precisava de ar. - Respiro fundo e decido que essa é a hora de voltar para casa - Pode vir me buscar?

- Claro. Sabe em que rua está? - Ouço o som do vidro do carro baixando.

- Bom, - Olho para os lados - Estou ao lado de uma praça e aqui tem muitas luzes piscando. - Depois que digo penso quão este lugar é romântico.

- Eu estou bem perto daí. - Ouço o barulho do carro e uma risada - Eu estou na esquina, já estou vendo você.

- Então vem logo. - Dou uma risada olhando para a esquina e vejo o carro se aproximando.

- Rose, não olhe para trás. - Parece que é automático, assim que ele diz eu me viro.

- Por que eu não posso...

Paro imediatamente ao ver a cena a alguns metros de mim, naquela praça florida tem um casal, a ruiva e o moreno estão se beijando enquanto meu coração é partido pela milésima vez e sinto meus olhos arderem, ouço a porta do carro abrir, rapidamente uma das mãos de Kang tampam os meus olhos e mesmo que eu já tenha visto a cena, agradeço por ele tentar me proteger.

- Eu disse para não olhar.

GOOD EVENING ✿ JJK (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora