Sinceramente, não sei onde estava com a cabeça, mas foi incondicional, meu gesto saiu tão natural que quando o fiz, já o tinha feito e não tinha mais volta, eu me afastei depois da "gafe" que havia feito e fiquei olhando para ele, já na expectativa de voltar com um olho roxo para casa ou algo pior.
Ele me olhou por um momento que durou uma eternidade, sério, os segundos se transformaram em horas, mas ao mesmo tempo parecia que nossos pensamentos estavam na velocidade da luz, de repente, ele enxugou as lagrimas com a manga do moletom, seus olhos ainda estavam marejados e vermelhos, ele respirou forte algumas vezes e se recompos, parecia respirar mais calmo, nesse momento alguns amigos nossos já estavam vindo em nossa direçao e nao falamos mais nada sobre esse acontecido (por enquanto).
Desse dia em diante, por uns quatro ou cinco meses nao ficamos mais sozinhos nem procuravamos situações para ficarmos sozinhos para falar sobre o ocorrido, para nao ocorrer outra situaçao talvez, acabei mudando a minha rotina, chegando no horario que começavam as aulas, já nao ficava mais nos degraus perto da cantina esperando as aulas começarem, digo que nao gostava muito de chegar na hora, mas era a minha forma de me prevenir e nao ter um olho roxo ou apanhar por medo de alguma represalia pelo que tinha acontecido.
Os problemas que o Pepe estava tendo em casa, depois daquela nossa conversa, nunca mais falou sobre isso nem comigo nem com os amigos da escola, nao sei se chegou a conversar com alguem em particular sobre os problemas que estavam passando em sua vida, e também, nem eu me mexi para perguntar, fiquei um bom tempo preocupado com tudo isso e fiquei "puto" da vida comigo mesmo e como amigo dele por não ter oferecido um ombro amigo, mas depois de toda aquela "situação", penso que se voltasse a perguntar isso com ele, toda aquela ultima conversa entre nos dois voltaria á tona.
O Pepe depois da nossa conversa, continuava o mesmo, conversava comigo, falava besteira (e como falava), conversava com as meninas, cabulava aula junto com a gente, mas com o tempo fui percebendo que ele tinha mudado, de alguma forma havia mudado, e não era imaginação da minha cabeça, se contasse para alguém, a pessoa me diria que é coisa da minha cabeça, que estava ficando louco, estava com neura ou sei lá.
Percebi que ele passava mais tempo me olhando, nao ficar olhando quando a gente olha um amigo, mas de uma forma diferente, sabe aquele olhar que quer dizer alguma coisa que já diz tudo (acho que estou ficando louco, só pode) como se quisesse dizer alguma coisa somente com os olhos sem os outros saberem, ah... acho que devia estar ficando "neura" mesmo.
Com toda essa historia, percebi que também estava mudando, estava também olhando para ele por mais tempo, se ele vinha em minha direção ou se eu vinha na sua direção e estavamos com o pessoal, eu e ele sempre eramos os primeiros a serem cumprimentados, naquele aperto meio maluco que haviamos inventado, e digo, cada mes um inventava um jeito diferente de se cumprimentar, como se fosse o nosso codigo de saudação. Quanta bobagem ... mas adoravamos, achavamos que isso nos tornava seres especiais.
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OS PEIXES TAMBEM VOAM - O COMEÇO
Genç KurguA história de Marcos e Mauricio, dois estudantes que percebem mais sentimentos que a alma pode conter, o tempo de descobertas, de envolvimentos, dos problemas familiares, da questões sociais, conflitos e alegrias do primeiro amor.