O peso

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Eu me sentia exausta. Meu estado de espírito, eu tinha certeza, podia ser comparado ao de uma senhora de 88 anos com pouca visão, muitas rugas, esperando pela morte em sua cadeira de balanço, perto da janela de madeira empoeirada. Sozinha. Feito eu, meus livros, e uma sensação de impotência por não ter conseguido resolver ou evitar milhões de problemas.
Meus ombros pesavam toneladas e sempre que me sentava não conseguia sequer erguer a cabeça, essa, por sua vez, pesava outras tantas toneladas. Me sentia fracassada, derrotada, como se a vida estivesse se divertindo enquanto eu descia mais fundo no poço da dignidade. Ouvia gargalhadas ecoarem em minha cabeça como uma sentença de morte. Irrevogável, inafiançável.
Me sentia vazia, me sentia sozinha, me sentia abandonada.
E não adianta dizer que é bobagem, sofrimento desnecessário, frescura de garota mimada. Não é. A minha dor maior não é a ausência, a falta da rotina, do cheiro, dos beijos, dos abraços. Eu superei isso, não gosto mais, não admiro mais, não amo mais.
A minha maior dor é sentir na pele que as pessoas não se importam, que elas não estão preocupadas com os danos causados, com as perdas infringidas, com a destruição que trouxeram. Simplesmente saem de cena, recomeçam, voltam pro passado, seguem, e foda-se.
Isso dói de verdade. Dói fisicamente. Você doa amor, você mergulha sem saber se é seguro, se é confortável, se é passageiro. Mergulha, e bate a cabeça no fundo. E, de repente, acorda imóvel numa cama de hospital.
O amor é mesmo um pulo de ponta no desconhecido.
Só que a gente nunca espera bater a cabeça no fundo.

Céu cinza, mar azul - a poesia no fimOnde histórias criam vida. Descubra agora