Laço

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No dia em que desfizemos nosso laço, ficou o nó.
Ao virar as costas pra ti e seguir, mal sabia para onde ia. Minhas pernas falhavam em sua função, meus olhos vacilavam, minha boca tremia com aquele "eu sempre vou te amar" que não foi dito.
Chovia dentro de mim, mas meus olhos não deixavam sequer uma lágrima escapar. Talvez por querer manter a pose de menina forte, talvez por ter certeza de ter feito tudo que pude por nós.
Eu me maltratei por noites a fio, madrugadas adentro. Me culpava, te absolvia, me incriminava, te protegia.
Sentia falta das coisas que a gente fazia, das noites na escadaria, no carro em ruas escuras, perdidos no meio da rua. De cozinhar aquele macarrão, de segurar a tua mão, de ver teu sorriso mudo, de ter entrado no teu mundo. Falta do que a gente era, do amor antes de ser, do pra sempre que acabou, de abrir os olhos e te ver.
Os dias foram passando e a saudade me consumia feito viciado em heroína. Ficava deitada na cama com algum livro que eu nem lia, as vezes até chorava, as vezes eu nem sabia.
Te vi em outras bocas, em outros corpos, em outras ruas. Nos reflexos de vidraças, nos carros que passavam, nos cafés em que entrava. Te via em tudo e me sentia nada.
Mas aprendi que é preciso provar das dores mais amargas, mais intragáveis, para se reerguer de fato, só quem se permite sofrer, sabe dar valor a felicidade. Escolhi também viver, parei de me culpar, me dei perdão por crimes que não cometi, escolhi te libertar. Desamarrei minhas asas, destravei meu sorriso, sequei meus olhos, coloquei aquele vestido florido.
Hoje não preciso de explicação, de motivos, de razão. Não quero arrependimento ou vingança. Quero seguir meu caminho com leveza.
As feridas fecham e as cicatrizes servem para nos lembrar por onde não devemos mais passar.

Céu cinza, mar azul - a poesia no fimOnde histórias criam vida. Descubra agora