Lembro de ter ouvido (ou lido) alguma vez que a linha que separa um relacionamento saudável de um relacionamento insano é muito tênue. No início você se vê encantada por tudo que a outra pessoa é, se apaixona pelos detalhes mais improváveis, como o jeito que ela seca o suor que se forma indesejavelmente sobre o lábio superior ou a forma como penteia o cabelo em frente ao espelho. Se interessa por tudo que ela conta, e o desejo por saber mais, por adentrar naquele novo universo, só aumenta com o passar dos dias. Você fica tão absorta nesta nova relação que esquece que possui um cérebro, que é um animal racional, e que já passou por isso algumas vezes antes.
Eu queria entender exatamente em qual momento desta fase de encantamento nos esquecemos. Em que parte exata desta história tão clichê nos colocamos em segundo plano e passamos a enxergar o outro como tudo que temos de mais valioso, esquecendo o nosso próprio valor e que, se alguém tão bom (como supomos) está conosco, é porque somos tão bons quanto.
Uma amiga me disse certa vez: "Pare de sabotar sua própria felicidade."
E eu não conseguia. Não havia alcançado ainda a maturidade necessária para me achar boa o bastante para ser feliz. Toda vez que algo muito bom acontecia, eu ficava em dúvida se agradecia ao universo ou se chorava com medo da desgraça que viria a seguir.
Todas as coisas boas que vinham depois, eu de fato merecia, mas não sabia.
E todas as coisas ruins que vinham eu também merecia, não apenas merecia como tinha uma parcela de culpa no processo que levava a que tal coisa acontecesse. Tá, uma grande parcela de culpa, ou, algumas vezes, toda a culpa, sem parcelamento.
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Céu cinza, mar azul - a poesia no fim
ChickLitÀs vezes só as palavras são capazes de dizer o que queremos e sentimos. Não se fazem mais ouvidos como olhos.