capítulo 10

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D.J.

O carro de Normani andava com dificuldades na estrada de terra que estava lamacenta graças a chuva de dois dias atrás. Pouco importa como íamos chegar, eu estava ansiosa para a surpresa.

Como se um universo raivoso e com ódio de mim pudesse ouvir meus pensamentos, Mani bateu com pouca força no volante, tirando de si a raiva por ver a fumaça que saia do capô.

Saímos do carro e Normani estava transtornada com aquilo, se não tivéssemos uma forte ligação, acredito que poderia me matar apenas por raiva. Entre toda essa situação o que mais me chamou atenção foi a forma que ela fica ainda mais fofa quando está com raiva.

– Certo, é o seguinte. - Parei de pensar quando ouvi sua voz, dando-lhe toda atenção. – Eu vou ficar aqui e ajeitar o resto, você anda reto até aquela árvore depois vira a direita e segue reto, tem uma cidadezinha, procura uma nova mangueira em algum posto de gasolina ou oficina. - Normani gesticulava delicadamente enquanto me explicava. 

– Hm... ok, eu vou indo então, pra não demorar mais. - Levemente desconfortável com a situação eu falei, não sabia o que fazer nessa hora, deveria apenas ir ou abraça-la - ou até mesmo beija-la? Nunca havíamos nos despedido antes.

Em um gesto desesperado, segurei firme sua cintura e a trouxe para mim, encostando seus lábios suaves nos meus, acariciando gentilmente seu quadril. Descolei nossos lábios - mesmo que quisesse mais - e segui para onde ela tinha me dito a ir.

Andei, pensando no beijo que eu tinha lhe dado. De fato, nunca havíamos nos separado antes, fazíamos tudo juntas, desde o amanhecer até a hora em que deitavamos na cama. Quem via de longe, com certeza pensaria que éramos irmãs ou melhores amigas e não namoradas.

Por mais que estivéssemos sempre juntas não havia uma dependência uma na outra, como pensei que haveria - isso me aliviou. 

Quando afastei meus pensamentos percebi que aquele não era o lugar onde deveria estar, era sequer o caminho pelo qual deveria andar. Decidi andar de volta, para encontrar Normani e contá-la minha incompetência.

Quanto mais andava mais desconhecia aquelas estradas. Tentei me acalmar e pensar qual o real caminho que deveria seguir. 

Direita sempre, Dinah!

Entrei no caminho da direita e continuei andando, tentando levar fora o desespero que havia dentro de mim. Já havia muitos problemas, Normani muito estressada, eu queria manter a situação sob controle.

Por alguns minutos andando, toda minha calma se foi embora quando a estrada acabou, dando um caminho para floresta. Era o meu fim! Eu não estava acreditando nisso.

Um misto confuso de raiva - pela minha incompetência - e tristeza - por estar sozinha em um lugar onde só sabia ir da casa para o trabalho - surgiu dentro de mim e a única coisa que consegui pensar foi Normani.

– Mani! Eu... me perdi. Me desculpa, Mani... - O que era para ser um pedido de ajuda soou como um desabafo.

O sentimento de me sentir um fracasso fez minhas emoções caírem pelos meus olhos.

Era como voltar a ser a mesma Dinah inútil de sempre, era como voltar ao passado - e eu não queria sair do meu presente. Meu desespero me fez encostar em uma árvore qualquer e chorar, até soluçar.

Mesmo chorando, decidir me mover para me tirar dali. Caminhei pelas árvores que cada vez ficavam mais próximas, me sufocando e m deixando mais desesperada. Mas pouco importava, eu precisava encontrar Normani.

Os sentimentos contraditórios voavam sobre minha cabeça, me deixando levemente zonza. Tanto que pude ouvi a voz de Normani, mas... como se estivesse dentro da minha cabeça. Eu tentei negar, mas era mais forte do que eu.

Me desculpe Dinah, isso é culpa minha. - Dei atenção as várias tentativas quando pude ouvir sua voz chorosa. Aquilo destruía tudo o que havia de mais profundo dentro de mim.

– Não, Mani! Eu vou sair daqui... só... não chora, por favor... - Eu perdi todos os sentidos de lucidez quando enfim, a respondi.

Vê-la chorar era como quebrar uma parte de mim. Ela era tão frágil e delicada, eu queria protegê-la de tudo.

Eu podia sentir o sol escaldante descendo cada vez mais e sua cegante luz branca pairando fortemente sobre mim, como se eu fosse o alvo. 

Eu estava delirando.

Continuava andando entre as árvores, com muita dificuldade parando a cada segundo e me segurando para tentar manter a força. A medida que andava as árvores ficavam mais próximas e meu corpo doía como se eu tivesse sofrido um acidente poucas horas antes.

No ápice do meu delírio, senti algo sendo puxando de dentro de mim, como se minha alma saísse do meu corpo. O desespero ficou ainda maior, em vez de andar sobre as árvores passei a correr, sentindo meu corpo latejar e o medo de nunca mais ver Normani tomar conta de cada centímetro do meu corpo.

Seus cabelos desgrenhados, sua boca molhada, sua expressão suavizada depois de um beijo sincero e apaixonado, aquela não podia ser minha última lembrança dela, aquele não podia ser o último beijo que lhe dei.

– Mani! Eu te amo... - Juntei todas as poucas forças que tinha e falei, um ato um tanto quanto sem pensar, mas não deixava de ser verdadeiro, honesto, genuíno.

Eu também te amo, Dinah! - Sua voz parecia triste, mas ao que parecia suas lágrimas tinham cessado.

Meu rosto começou arder e lágrimas o molharam por completo. Por Deus, o que estava acontecendo?

Dinah... encontre a saída.

Ouvi a voz de Normani longe de mim, desaparecendo no ar. Sequer tive tempo de pensar quando a luz branca tomou conta de todo o meu campo de visão. Eu só consegui dar um último suspiro, fechando meus olhos para me proteger.

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falta 1 cap.

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