Capítulo 5: A Travessia

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O Monge Guerreiro parou de fantasiar sobre o Caminho, e seguiu o Caminho.


***


O Monge Guerreiro se orienta pela terra; a terra se orienta pelo céu; o céu se orienta pelo Caminho. O Caminho se orienta por si mesmo.


***


Suspenso no vazio, havia um dragão sem patas perseguindo a própria cauda.

O dragão girava, se contraía, expandia, e devorava a si próprio. O círculo que era o dragão se tornou uma elipse. A elipse se entrelaçou e virou um ∞ continuamente em movimento, se autoalimentando, se aproximando, até que...

O Monge Guerreiro num relance abriu os olhos. Estava em seu barco.

- O um, o todo – ele disse.


***


O Caminho é tranquilo, mas as pessoas gostam bastante de trilhas.


***


- Ó, respeitável monge! Não vá até aquela ilha!!! – advertiram os pescadores.

Diante do silêncio do Monge Guerreiro, continuaram:

- Lá vive uma criatura assombrosa que devora a tudo o que vê! Quem vai até a Ilha do Dragão, jamais volta para contar a história!!!

O Monge Guerreiro assentiu com a cabeça, agradecendo o aviso. E ainda assim, dirigiu o curso do barco rumo à Ilha do Dragão.

Hic sunt dracones


***


Você não chegou até aqui por casualidade, mas por causalidade.


***


À primeira vista, a ilha parecia intocada por seres humanos. Só que ao avançar sobre o terreno, o Monge Guerreiro se viu diante das ruínas de um templo imenso. Certamente outras pessoas haviam estado ali antes dele, e atingido um alto grau de despertar da consciência. Agora, só restavam construções sem teto e colunas ao chão. Como e quando essas pessoas desapareceram? Teria o dragão as devorado?

O Monge Guerreiro parou diante do único pórtico ainda de pé, e leu a inscrição em uma língua ancestral:

Conhece a ti mesmo.

Temet nosce


***


O Monge Guerreiro aproximou-se de um lago. Ao se abaixar, viu seu reflexo na superfície das águas. Tomou um gole, molhou a nuca, lavou o rosto. Quando abriu os olhos novamente, percebeu que o lago agora refletia a ascensão de uma sombra gigantesca. O Monge Guerreiro virou-se rápido: o Dragão.


***


O Dragão ergue a cauda, o Monge Guerreiro desembainha a espada.

A criatura de sombra e o homem de sangue se estudam. No momento em que o Monge Guerreiro salta, o Dragão voa. Os dois atacam em sincronia... E se ferem simultaneamente. Novos golpes, novos ferimentos. Sempre que o homem alcança a criatura, a criatura da mesma forma o atinge.

SPIRITUS GLADIUS: O Manual Prático de Combate do Monge GuerreiroOnde histórias criam vida. Descubra agora