Capítulo 9: A Conquista

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O guerreiro conquista mil exércitos, o monge conquista a si mesmo.


***


O Monge Guerreiro guarda a espada, toca a trombeta, e o deus azul de armadura declara:

- Quando um guerreiro sensato deixa de ver as diferentes identidades consequentes a diferentes corpos materiais, e vê como os seres se expandem por toda parte, ele alcança a concepção suprema.

A divindade retira o capacete. O homem faz uma reverência em agradecimento, dizendo:

- Por ter escutado as instruções sobre estes assuntos espirituais muito confidenciais que Você tão gentilmente me transmitiu, minha ilusão acaba de ser dissipada.

O Monge Guerreiro se prostra à beira do campo de batalha onírico, até que ouve um estrondo imenso. Quando desperta, o deus-azul não está mais lá.


***


O poder da ação é incrível, sua influência tem longo alcance. Quando os frutos da retribuição estiverem maduros, não há onde se esconder.

A Disciplina (Vinaya)


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O Sábio Desperto instruiu:

- Se isso existe, aquilo vem à existência; do surgir disso, surge aquilo; se isso não existe, aquilo não vem à existência; da cessação disto, aquilo cessa.

Do lodo nasce o lótus.

Om mani padme hum.


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O Guerreiro não pode presentear a si próprio com insígnias de guerra – qualquer distinção deve ser merecida e espontânea. Por outro lado, o Monge aceita de bom grado as marcas oferecidas pelo Caminho. Suas cicatrizes e deficiências são únicas, resultantes de uma centena de batalhas.

O Monge Guerreiro foi bravo o suficiente para que o Caminho lhe condecorasse com uma medalha gravada em sua própria pele – e sobreviveu para contar a história.


***


Quando o leão chega na savana, os outros animais reconhecem o poder que dele emana. Quando o sol se levanta no céu oriente, a luz de todas as estrelas desvanece completamente.


***


O Guerreiro realizou muitos feitos, seu nome corre por todos os cantos do mundo, e sua fama o precede aonde quer que vá. Mas ele sabe que sua existência não se resume à sucessão de êxitos registrados em sua biografia. O Monge se lembra de seus inúmeros defeitos, de seus fracassos esquecidos, das frustrações nunca superadas... E quebra o eu. Até que o eu se recomponha para ser novamente quebrado, e assim sucessivamente. Até que os êxitos e fracassos sejam só um... E o eu, nenhum.


***


O Mestre de Armas do Templo da Floresta de Bambu contemplava a chuva passageira. Percebeu alguém se aproximando.

- Quem é você? O que busca? - perguntou ao desconhecido.

- Apenas flutuo como as nuvens e fluo como a água. Não estou procurando nada.

- Oh, um monge nuvem e água! - o mestre exclamou - Isso é que é ser liberto!


***


Para saber como você será no futuro, observe sua vida agora.

Toda ação gera uma reação que, mais cedo ou mais tarde, será sentida por quem a realizou. O que você é agora é resultado de sua condição no passado. Portanto, não se preocupe com o que você recebe, mas sim com o que você faz.


***


O Monge Guerreiro disse:

- É agora...

- ... Sempre é agora – completou o Dragão.


***


Que horas são?


FIM DO CAPÍTULO 9

SPIRITUS GLADIUS: O Manual Prático de Combate do Monge GuerreiroOnde histórias criam vida. Descubra agora