Capítulo 7: A Aproximação

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O guerreiro se lamenta por ter tomado uma trilha equivocada naquela estrada que ficou para trás. Voltar o Caminho é impossível, só lhe resta consertar seu rumo e seguir adiante de onde está. Sempre há tempo de ser o que deveria ter sido.


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Alguns consideram a área vazia do mapa um grande desperdício. Mas se alguém só anda pelas estradas conhecidas, só poderá ir até onde outros já foram.

O Monge Guerreiro vê o Vazio como a parte mais valiosa.


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O aparecimento temporário da felicidade e da aflição, e o seu desaparecimento no devido tempo, são como o aparecimento e o desaparecimento das estações de inverno e verão. Eles surgem da percepção sensorial e precisa-se aprender a tolerá-los sem se perturbar.

A Canção do Bem-Aventurado (Bhagavad-Gita) 2:14


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Quando estiver ferido, respeite o período necessário para sua recuperação, seja quanto tempo for. Se voltar à guerra antes da cura, a derrota é certa. Se escutar seu corpo sussurrar, não precisará ouvi-lo gritar.


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O Monge Guerreiro não colhe o fruto enquanto ainda está verde.

É claro que se plantou um cacto, não pode esperar colher goiabas – mas se aguardar o tempo certo, até o mandacaru dá frutos em meio aos espinhos.

O Monge Guerreiro é paciente como deveria ser todo homem de armas.


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O Monge Guerreiro costuma ser prudente, mas em certos momentos precisa de audácia. Se tentar agradar a todo mundo irá fracassar, já que é impossível ir além sem perturbar algo ou alguém.

O Monge Guerreiro faz o que tem que ser feito, seja seguindo as regras totalmente à risca, ou quebrando-as como ninguém jamais havia quebrado. O Monge Guerreiro é audacioso. Muito audacioso.


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Aquele que medita, não faz alarde; aquele que faz alarde não medita.

Aquele que exibe a espada, não combate; aquele que combate, não exibe a espada.

Aquele que pensa que é, não é; aquele que sabe que é, o é.


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Certa vez, o Sábio Desperto perguntou a um grupo de monges:

- Quanto tempo de vida nos resta?

Um discípulo respondeu:

- Nos restam ainda mais alguns anos de vida, venerável senhor. Devemos aproveitá-los ao máximo.

- Não. Raciocinem um pouco mais – replicou o Sábio.

Outro disse:

- Uma única respiração, venerável senhor, é só com isso que podemos contar.

O Sábio Desperto sorriu:

- Sim, meus amigos. Uma única respiração, é todo o tempo de que dispomos.


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O passado não pode ser alterado, o futuro ainda não chegou. Toda a existência culmina neste momento. O Agora é o único espaço de tempo em que a vida existe.


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Toda energia despendida pelo corpo para realizar qualquer ação vem da mesma fonte interior. Por isso, nos dias que antecedem o combate, o guerreiro evita deter-se em atividades mundanas. Há algo maior em jogo que a satisfação imediata dos sentidos. No campo de batalha, a energia flamejante acumulada leva à força total e à vitória irrestrita.


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Certa vez, um jovem monge ofendeu a tribo primitiva na qual o Sábio Desperto havia nascido. O Sábio perguntou por que o monge estava tão irritado com sua tribo e ele respondeu:

- Quando cheguei na aldeia, encontrei todos cutucando uns aos outros, rindo alto e fazendo brincadeiras impróprias. Em certo momento me apontaram e estou certo de que zombavam de mim. Isso não é um comportamento adequado.

O Sábio Desperto disse:

- Mas meu amigo, até mesmo uma codorna, aquela pequena ave, pode fazer o que quiser em seu próprio ninho.


***


O Monge Guerreiro está na entrada da Caverna.

Ele observa a escuridão infinita, e a escuridão infinita em seu âmago o observa de volta. O guerreiro está aterrorizado, e isso é um sinal auspicioso. O que ele procura também o está procurando no coração das trevas.

O Monge Guerreiro despede-se do mundo dos vivos, e adentra a escuridão.


FIM DO CAPÍTULO 7

SPIRITUS GLADIUS: O Manual Prático de Combate do Monge GuerreiroOnde histórias criam vida. Descubra agora