Capítulo sem título 11

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                                                                                        Harley

Sou pontapeado por algo nas minhas costas que me faz despertar. Deparo-me com a Kiara, de olhos fechados, a espernear enquanto suspira por ajuda. Está a sonhar.

 - Kiara! - tento acordá-la. - Kiara, acorda! - ela abre lentamente os olhos e, assim que me encara tenta de imediato esquivar-se de mim.

 - Larga-me!

Tem os olhos dilatados. Continua a sonhar.

- Kiara, olha para mim. - seguro a sua face, desta vez, mais assertivo. - Sou eu!

- Harley? - olha finalmente para mim - Estás aqui! - Ela puxa-me para si, envolvendo todo o meu corpo dentro dos seus braços trémulos. Acolho-a, segurando-lhe nas traseiras da sua cabeça. "Foi só um sonho", murmuro. 

Acabámos por ficar abraçados por um longo tempo. O suficiente para ela deixar de tremer. Não sei o que poderá ter sonhado para lhe provocar este estado mas quero saber. Mesmo assim, não consigo deixar de observar a forma como o corpo dela reage ao meu. É como se lhe desse tudo o que ela precisa a cada instante. Adoro. 


                                                                                           Kiara 

O meu corpo acalma, finalmente. Que sonho... Não me consigo lembrar de nenhuma das caras lá existentes, com excepção da do Harley. Porque é que não consegui reagir? Porque é que não fiz nada para o tirar daqueles homens barbudos? 

Tento afastar a sensação de impotência e frustração que começa a fluir dentro das minhas veias. Mais uma vez, o meu corpo é comandado pelo rapaz que acaricia levemente a minha cabeça. Sinto-me calma, agora, segura. Protegida. Porque é que me sinto sempre deste modo na sua presença?

 - Desculpa. - Encaro-o enquanto afasto lentamente o meu corpo do dele, mantendo, ainda assim, as minhas mãos em seu redor.

- De quê? - ele sorri.

- De te ter acordado...

- Não faz mal, também já não ia dormir mais. 

Cada traço do seu sorriso calmo faz-me sorrir de volta. Os seus olhos, ainda presos nos meus, conseguem tirar-me toda a confiança que tenho em mim. Fazem-me sentir pequena, como se não me conseguisse defender de uma única borboleta. Invejo-a. Livre, solta, dona de si mesma, com um futuro traçado, sem depender de uma única pessoa. E apesar de tudo isto, ainda é capaz de levantar voo e fugir para onde quiser em busca do que quiser. Quem me puder fazer algo sem medo de ser julgada. Sem medo de ser castigada pelo crime que não cometi. Quem me dera.


***


Decido ir em busca de um trabalho num local próximo daqui. O dinheiro que conseguimos arranjar está a acabar e não posso passar muito mais tempo sem dinheiro. Precisamos de um quarto com um tecto e cama. O meu corpo já não aguenta mais dormir sobre os paus e folhas secas que preenchem toda aquela mata. Não aguento. Estou exausta. 

Entro num café, próximo da mata, deixando para trás o Harley como segurança dos nossos pertences. Uma senhora loira, mais baixa do que eu, aparece por trás do balcão. Num lindo vestido fluido, azul turquesa, avança na minha direcção ao perceber que era eu a rapariga que tinha chamado pelo gerente.~

Depois de lhe explicar o motivo pelo qual aqui estava, ela direcciona-me para uma porta branca localizada na outra ponta do estabelecimento. Ao entrar, deparo-me com a quantidade de cadeiras brancas que recheiam esta longa e oval mesa em tons de cinza. Percebo que é nesta sala que devemos dar início a alguma entrevista.

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⏰ Última atualização: Apr 18, 2019 ⏰

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