Capítulo 02.

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two jumps in a week

i bet you think that's pretty clever, don't you, boy?

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– É meio estranho andar vestido depois que encontrei a liberdade. – Foi a primeira coisa que Calum Hood disse quando saíram de casa na manhã seguinte.

– Tenho certeza que a mulherada não vão reclamar se você começar a andar nu por aí, mas vão ficar decepcionadas quando descobrirem que seu pau é pequenininho. – Luke balançou os cabelos dourados com os dedos longos e finos, os olhos azuis semicerrados na claridade cegante das oito da manhã de uma terça-feira. Ele estava mal-humorado. Uma das coisas que Luke Hemmings mais odiava era acordar cedo. Ele nem se dava ao trabalho de pentear os cabelos quando levantava exatos cinco minutos antes do horário limite para sair de casa; então se arrastava para fora da cama e se enfiava em qualquer roupa que estivesse mais fácil, entrava no banheiro para lavar o rosto e escovar os dentes e finalmente, blasfemando sua letargia, pegava a mochila sem nem ao menos olhar se havia esquecido alguma coisa.

Ele sempre esquecia alguma coisa.

Acostumado com o mau-humor matinal do melhor amigo, Calum achou melhor ignorar o comentário azedo e suspirou, os tênis all star arrastando-se no asfalto já quente, e ajeitou melhor a mochila no ombro. Ele gostava, nesses momentos, de pensar nas coisas que poderiam dar erradas durante seu dia. Alguma coisa sempre dava errado. Olhando para trás, percebia o quão fácil era a vida quando ainda não tinha tantas responsabilidades nos ombros. O tempo que passou jogado no chão do quarto com Luke, manetes em mãos e mente concentrada no videogame, parecia ter acontecido em uma vida passada, uma vida que não pertencia a ele. Encaixar-se em uma situação daquelas era como perder um braço e tentar costurar outro no lugar.

Trabalhavam em um supermercado 24hrs que ficava praticamente ao lado de casa e era a melhor coisa que conseguiram arrumar quando abandonaram os pais e terminaram o ensino médio, uma vez que não tinham especialização ou qualquer tipo de experiência. A ideia de servir mesas no bar decrépito no final da rua era algo que não os agradava em absoluto. Então resolveram que o melhor que poderiam fazer era aceitar o emprego no Target provisoriamente, até que conseguissem algo melhor. Todos os dias faziam hora extra, o que resultava em um salário relativamente maior no final do mês. Com o dinheiro, conseguiam pagar o aluguel, a conta de água, encher os armários de comida e ainda sobrava algum dinheiro que colocavam em uma conta para imprevistos futuros – como a conta do hospital quando Calum quebrou o nariz e os remédios que Luke precisou quando ficou doente.

Era uma vida regrada. Mal podiam sair para jantar fora ou passar muito tempo tomando banho quente. Precisaram juntar dinheiro por quatro meses para comprar um playstation. Nos primeiros meses foi difícil, mas acabaram conseguindo se acostumar relativamente bem com aquela crise financeira e agora até podiam pedir comida japonesa à noite pelo menos uma vez por semana.

Luke, entretanto, foi o que mais sofreu no início. Calum sempre teve uma vida mediana. Nunca passou fome, mas também nunca conseguiu tudo o que queria como o melhor amigo. Tinha uma boa casa em um bom bairro, e seus pais possuíam um carro popular e uma com ar-condicionado, mas nunca viveram no luxo ou na ostentação. Já Luke era filho de dois advogados de sucesso e morava em uma espécie de luxo que Calum nunca teve muito acesso. Era sempre Luke que ia até sua casa e, jogado no chão amarrotando as roupas caras que vestia, ria das piadas do moreno como nenhuma outra pessoa já tinha feito e sempre ganhava dele no videogame. Era sempre Luke que corria até o bairro de classe média, descendo a inclinação baixa até chegar, suado e ofegante, à casa do moreno.

E então eles andavam lado a lado pela rua, falando besteiras e dividindo doces que Luke sempre comprava porque ele era o que tinha o dinheiro, enquanto Calum tinha a bicicleta que ganhou de aniversário dos pais e deixava-o andar, e o videogame que não era o mais atual, mas que nunca pareceu ruim para os dois. Então, quando Luke teve todo o luxo arrancado dele de repente, demorou até se acostumar. No começo queria comprar comidas que o moreno nunca ouvira falar e que custavam uma pequena fortuna, e demorou até entender que não podia mais passar 30 minutos com o chuveiro ligado ou dormir com o abajur aceso, porque isso faria com que a conta aumentasse consideravelmente no fim do mês.

(Cake) We Are YoungOnde histórias criam vida. Descubra agora