Meu despertador tocou, eu nunca senti tanta falta daquele alarme chato de manhã cedo, reuni toda a minha força sonolenta para apertar o botão e fazê-lo parar, estava no meu quarto, meu belo quarto que consistia em um cômodo de três por quatro metros, com a minha cama, um armário e a mesa de cabeceira, um pôster na parede mostrava uma das minhas bandas favoritas cobrindo parcialmente um velho mapa com várias constelações, estava tão feliz por estar em casa que mal cheguei a notar, no mapa a estrela Alcyone também estava desaparecida, eu estava jogada na cama, descabelada, com uma perna para fora da cama e com o lençol enrolado em mim como uma cobra, meu travesseiro de alguma forma acabou pendurado no puxador do armário, meu laptop aberto sobre a mesa de cabeceira acusava pouca bateria, o mostrador do relógio mostrava dez e uma da manhã. Aquele bateu o recorde de sonho mais estranho que eu já tive, com todos aqueles monstros, velhos malucos e bonecas falantes lançadoras de fogo, eu não fazia ideia que tinha tanta imaginação. Depois de me arrumar bem rápido fui até a nossa sala que dividia o cômodo com a cozinha, minha mãe estava na cozinha com o cabelo castanho preso em um coque e seu avental amarelo favorito escrito "meu outro avental está limpo", desde os meus quatro anos éramos só nós duas, como de costume havia deixado a tv ligada enquanto cozinhava, nem preciso dizer quantas refeições passadas do ponto ou até queimadas tivemos por causa disso(fica a dica: assistir tv e cozinhar ao mesmo tempo não dá certo), a tv estava passando o noticiário, o repórter anunciava pela milionésima vez a passagem do cometa halley, "desta vez ele passará a dezesseis mil quilómetros da terra", dizia com um tom impressionado como se dezesseis mil quilómetros fosse aqui na padaria.
- Alcyone, já está de pé?, você não costuma acordar tão cedo no domingo. - minha mãe me olhou através do arco da cozinha com uma panela na mão soltando uma quantidade suspeita de fumaça.
Quando ouvi a voz dela não consegui me segurar, corri até ela e a abracei, ainda não conseguia tirar aquele sonho da cabeça.
- Alcyone? cuidado com a panela, você não... - ela percebeu que eu estava chorando. - o que foi filha? é por causa da faculdade?Não disse nada apenas continuei a abraçá-la, algo dentro de mim dizia que se a soltasse nunca mais a abraçaria de novo, a voz dela começou a mudar, a ficar mais aguda...
- Alcyone? Cya? Cya acorda... estamos com problemas. - sussurrava minha mãe.
Meus olhos recuperaram lentamente o foco, afastando o sono com dificuldade, percebi uma boneca de trapos me chacoalhando tentando me acordar, ela parecia preocupada.- você acordou, que bom, nossa você dorme feito pedra, nós temos que ir agora mesmo.
fiz que sim com a cabeça, Eldric estava agachado de costas para nós, fazia sinais com uma das mãos, eu até entendo um pouco da linguagem de sinais, mas não conseguia reconhecer um gesto sequer, eu ouvia grunhidos e sons de passos pesados por todo o lado, aparentemente o pesadelo estava longe de terminar.
Um exército inteiro de monstros arrastava os pés a nossa volta, eram bem menores do que o do outro dia, mas maiores do que eu (sei o que você está pensando, e eu NÃO sou baixinha tenho estatura média!) os monstros deviam ter quase dois metros de altura, eram verdes, feios e com dentes amarelos saltando para fora da boca, tinham braços de marombeiro e carregavam machados e clavas. Não fiz perguntas, peguei o livro e segui os dois, na época eu não sabia o que o livro podia fazer, eu achava que era um livro em branco que um velho maluco tinha me passado, mas parando para pensar, eu não largava dele nem por um segundo, nós seguimos nos esgueirando por entre os arbustos, mantendo a cabeça baixa e sem falar, eu não podia vê-los a maior parte do tempo, mas podia ouvi-los resmungando e arrastando os pés a minha volta, seguíamos quase de quatro com Eldric a frente, Bella no meio e eu atrás, ela me dava sinais para que parasse ou seguisse, Eldric... por algum motivo minha mente distraída se lembrou da magia da noite anterior o nome Eldric era muito parecido com...
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Laggo: O Livro das Eras
FantasiaO Livro das Eras narra uma aventura épica de uma jovem normal, que acidentalmente foi parar em um mundo fantástico, cheio de perigos e magia, caberá a ela superar desafios e poderosos inimigos para impedir uma grande catástrofe que esta por vir, seu...