Tarde da Noite

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Hanagrom dissipou a fumaça verde com um gesto e pediu para que eu me aproximasse, pensei comigo mesma que talvez não tenha sido uma boa ideia vir vê-la sozinha, se ela podia derrubar o portão de uma fortaleza com facilidade o que ela poderia fazer com o meu belo, porém frágil corpinho.

- Aproxime-se menina... - disse ela sem mover os lábios - Temos muito a conversar e muito pouco tempo. -

Olhei um pouco preocupada para os guardas caídos - Eles estão mortos? - perguntei engolindo em seco.

- Estão apenas dormindo querida... eu garanti que descansassem bem... e tivessem belos sonhos. - Enquanto ela falava um dos guardas soltou um ronco abafado dentro do elmo, então cheguei mais perto.

A masmorra onde a colocaram era um pouco maior do que uma alcova escavada na rocha sólida, o chão estava coberto de palha suja e com um cheiro desagradável, Hanagrom era sua única ocupante, estava sentada casualmente em seu cativeiro, nada parecia de fato incomodá-la. Finalmente pude ver a bruxa mais de perto ela parecia ter a mesma idade que eu, mas algo me dizia que não era o caso, seus olhos tinham pupilas em forma de espiral e eram de um tom de verde inexistente em pessoas normais, sua pele era suave e clara com aspecto de porcelana e tinha um pequeno punhado de sardinhas vermelhas nas bochechas.

- Alcyone... o tempo é curto. - começou ela ainda sem mexer a boca ou os lábios, era como uma ventríloqua mais que profissional que não dava sinal algum de estar falando. - Eu preciso da sua ajuda. -

- Para sair da cela? - perguntei.

- Não... eu preciso que você me traga a cabeça do querido Ceyx. -

- O QUE!?! - gritei surpresa então imediatamente tapei a boca com as duas mãos, lembrando que eu estava invadindo uma área proibida e haviam dois guardas inconscientes atrás de mim. - Porque você precisa da cabeça daquele monstro? - perguntei o mais baixo que pude.

- Porque ele pode renascer... - disse ela como se apreciasse a possibilidade. - Nós generais recebemos uma dádiva de Laggo, se cairmos em combate nossos corpos se renovarão. -

- Está dizendo... que aquele monstro horrível pode voltar. - disse eu tremendo, lembrando dos terríveis encontros que tive com Ceyx e seu exército.

- Sim... por isso eu preciso que você me traga a cabeça, eu... - Hanagrom parou um instante seus olhos verdes marejaram quase que imperceptivelmente. - Eu posso impedir que ele volte. - continuou com firmeza.

- Mas se você pode fazer isso, por que não fez quando ele morreu? -

- É uma magia demorada... e eu estava cercada de soldados que me matariam quando pensassem que eu estava... reagindo... e como morreu primeiro... Ele voltaria antes de mim... -

- Certo, mas não é melhor levar você até o corpo ao invés de trazer a cabeça decepada dele? -

- Menina bobinha... - sorriu a bruxa. - É muito mais fácil passar despercebida... com uma cabeça do que com uma bruxa inteira... - eu parecia diverti-la toda vez que dizia alguma coisa ela sorria enquanto falava sem mexer a boca. - Ouça com atenção... preciosa estrelinha... temos pouco tempo... talvez já nem seja possível enquanto falamos... me traga a cabeça do meu querido amigo... para que não tenham que abatê-lo uma vez mais. - Havia qualquer coisa estranha no jeito que a bruxa falava, ao mesmo tempo suas palavras eram de compaixão mas sua expressão era neutra como uma máscara. Então me atingiu como um soco: "seu rosto não demonstrava nada,como uma máscara esculpida em pedra... ", o porão da masmorra pareceu ficar mais escuro a minha volta, meu coração disparou. Hanagrom me olhou curiosa, ela de fato demonstrava expressões quando queria.

Laggo: O Livro das ErasOnde histórias criam vida. Descubra agora