Capítulo II

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O vento assoviava, as árvores eram chacoalhadas e as folhas voavam de um canto para o outro. Eu já tinha me acostumado com o clima gelado da Inglaterra, mas ainda sentia saudade do verão ardente do Brasil. Sentia saudade principalmente do short jeans curto e despojado e da regatinha levemente decotada, as olheiras que eu escondia com um óculos escuro e o cabelo bagunçado que eu disfarçava com um coque apertado. Tentei não sentir muita saudade, sentada na poltrona e olhando pela janela, pois era estupidez da minha parte sentir falta de coisas tão banais estando vivendo um completo conto de fadas. Eu podia me adaptar aos vestidos longos e sofisticados, aos saltos finos nos pés, aos chapéus gigantes em eventos sociais. Era tudo questão de se adaptar e de deixar a vida antiga para trás.

— Tess, está pronta? — Ryld bateu à porta, mesmo ela estando aberta. — O helicóptero já deve estar para chegar.

— Queria poder ficar mais um pouco. — Falei, sem me virar para olhá-lo.

— Nós voltaremos assim que possível. Eu prometo.

— Aqui é tão lindo, e tranquilo, e verde. — Não o respondi.

Ouvi quando suspirou com pesar.

— Eu ficaria mais se pudesse, sabe disso. Nada no mundo me faria mais feliz do que passar mais tempo aqui e com você, mas eu não posso e não vou arriscar sua segurança e a minha. — Não percebi sua aproximação, até me dar conta que o cheiro do seu perfume ficara mais intenso. — Eu não sabia que havia gostado tanto da casa de campo.

Virei o rosto o suficiente para conseguir fita-lo.

— Não é a casa em si. É por conseguirmos ficar juntos de fato. Aqui eu sinto que você é inteiramente meu, aqui nós conseguimos agir como um casal e não como fantoches.

Ele enfiou as mãos nos bolsos da calça e estufou o peito.

— É isso que pensa que somos? Fantoches?

— Eu encontrei conforto aqui porque eu sei que você está perto. No palácio, você sequer segura minha mão.

— Isso não é verdade. — Revidou. — Não faça assim, Tess. Não faça eu me sentir culpado por ter nascido onde nasci, por ser quem sou. Se significa tanto para você andar de mãos dadas em público, eu farei isso. Não existe nada nesse mundo que eu não faria por você.

Suspirei e desejei beijá-lo meticulosamente. Contudo, Noah apareceu e acabou com meus planos.

— Sua alteza, temos um problema. — Alertou o loiro, de olhos verdes e lábios finos, alarmando Ryld e eu.

— O que aconteceu dessa vez!? — Ryld questionou, irritado e o semblante carrancudo o deixou ainda mais deslumbrante.

Noah juntou as mãos na frente do corpo, ajeitando sua postura.

— Houve um problema mecânico no S-76C, alteza. O piloto ainda não conseguiu decolar, teremos um atraso de aproximadamente duas horas.

— E o Airbus A320? — Perguntou Ryld.

— O jatinho está em uso por sua Majestade, em uma viagem de quatro dias em Washington e Kentucky, alteza.

— Eu confio na sua eficiência, Noah, sei que encontrará um modo de transportar eu e minha noiva de volta ao palácio em menos de uma hora. — Ryld pressionou o segurança com sua forma estruturada e deliberada de falar.

— Decerto, sua alteza. — Concordou, como se tivesse uma bola presa na garganta.

— Nós podemos aguardar por duas horas, não podemos? — Perguntei à Ryld, tentando aliviar o desconforto do outro inglês.

Um escocês no meu caminho Onde histórias criam vida. Descubra agora