Capítulo VI

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— Sua pele é tão linda. — Murmurou me obrigando a abrir os olhos para ter conhecimento de quem era aquela voz. A ruiva de boina vermelha estava ajoelha ao pé da minha cama e debruçada sobre meu colchão.  Me encarava com admiração, como se eu fosse uma esfinge.

— Oi...bom dia... — Falei apreensiva, me sentando na cama. Seus cabelos laranja estavam trançados para trás. Seu rosto era como uma constelação, mas de sardas.

Ela se endireitou e pareceu menos estranha sem aquele olhar curioso.

— Me desculpe, não queria assustá-la. — Ela tinha um forte sotaque britânico. — Eu sou Maisie. Já nos vimos na vila, está lembrada?

Concordei com a cabeça

— Balder pediu que eu cuidasse de você até ele voltar. — Explicou.

Cuidar de mim? Quantos anos ela acha que eu tenho?

— Voltar? Aonde ele foi?

— Uma das crianças ficou doente. Ele foi até a cidade buscar medicamento.

Eu não queria parecer insensível e nem grosseira. Mas era para eu estar a caminho de casa naquele exato momento.

— Por que ele? — Resolvi perguntar. O que eu mais vi naquela ilha desde que cheguei foram homens. Muitos homens. Qualquer um poderia ter pego o barco e ido até a cidade.

Maisie riu da minha indagação. O senso de humor daquelas pessoas era um tanto...diferente.

— Porque Balder cuida de todos nós. Sempre foi assim.

Meu rosto se tornou um enorme ponto de interrogação, porém a fulana não acrescentou mais nada.

— Como assim ele cuida de todos vocês?

Ela sorriu com seus lindos olhos verdes e pequenos e fez eu me sentir uma bobinha.

— É como se ele fosse nosso "líder". Balder é um homem forte, destemido e muito sábio. Sempre o procuramos quando estamos com algum problema, seja qual for. Falta de comida, invasores, doença...

Mas que coisa louca.

— Por que os pais da criança não a leva ao hospital?

Ela ficou aterrorizada com a minha pergunta. Eu até diria que a ofendi de alguma forma.

— Porque o mundo do outro lado dessa ilha, é assustador. É barulhento, é sangrento.

— Vocês não saem daqui? NUNCA? — Não pude evitar o grito.

— Não precisamos sair. Temos tudo o que precisamos aqui. E se algo falta, Balder busca.

Fiquei alguns segundos sem conseguir reproduzir qualquer som. Esperava que a ruiva gargalhasse para mostrar que estava brincando, mas ela continuou com aquele semblante inocente.

— Eu sei que moram aqui há bastante tempo — falei. Ela assentiu —, mas há um mundo lindo do outro lado, embora ele seja barulhento e sangrento. Você nunca quis conhecer?

— Balder me levou uma vez, no meu aniversário, mas eu achei que as pessoas andavam e falavam rápido demais. — Relembrou, com pavor.

Dei uma coçadinha na cabeça, atordoada com a conversa.

— Minha vez — ela disse e soltou a pergunta em seguida. — Por que a rainha não quer que você se case com o príncipe?

Fui pega de surpresa. Provavelmente Charlie tinha dito a ela.

— Ela diz que não sou a dama adequada. Eu sou brasileira, meu pai é um divorciado e minha mãe já foi uma viciada. Ah, e eu não sou virgem. Todas essas coisas contribuíram com a minha não aprovação, mas o motivo que mais se sobressai é porque eu não posso ter filhos.

Um escocês no meu caminho Onde histórias criam vida. Descubra agora