EscocêsEm que eu estava pensando? Por que raios disse que queria beijar aquela criatura?
Deamhan! (Diabo)
O pior não foi ter admitido, a verdadeira desgraça era saber que eu a beijaria se ela consentisse. Que os deuses me protejam, mas aquela boireannach (mulher) estava me desorientando. Eu preferia que uma espada fosse cravada em meu peito a ter qualquer envolvimento com a dama de um aristocrata. Mesmo ela sendo linda de morrer. O que eu poderia lhe oferecer além daquelas terras que a própria já desdenhou?
Lhe oferecer? Em que estou pensando?
Péssima escolha ter estendido minha mão para ajudá-la a se levantar do sofá. O devaneio me adormeceu quando nossa pele entrou em contato e meu coração queimou mais que hulha.
— O que é isso? — Ela perguntou olhando o prato de comida que eu havia preparado para nós. Não me agradava lembrar o quanto me esforcei para dar o melhor de mim na cozinha. Talvez eu estivesse tentando impressionar aquela boireannach, por alguma razão que eu preferia não descobrir. Quanto mais solapada essa razão dentro de mim, melhor.
— Primeiro coma e veja se gosta. Depois te digo o que é. — Falei. Tess me parecia o tipo de pessoa que torcia nariz para aquele tipo de comida. Mas Haggis era prato típico da Escócia por uma razão.
— Algo me diz que não ficarei muito contente quando descobrir o que é.
— Talvez seja o fato de ele não ter uma aparência muito agradável. — Respondi, reprimindo um riso ao observar a dúvida clara em seu rosto. Era impossível não agir feito um tolo perto dela e não me curvar diante sua presença, da mesma forma que me curvava diante a majestade. Logo eu, que sempre repudiei a capacidade de uma mulher em dobrar um homem.
Tess levou o garfo à boca mesmo que com um pé atrás. A observei mastigar, enfeitiçado com o movimento de seus lábios.
— E então? — Perguntei com entusiasmo. — O que achou?
— O escocês sabe se virar muito bem na cozinha. Maldição. Isso está delicioso. — Falou, limpando os cantos da boca com a língua.
Perturbação.
— Nunca me ocorreu o contrário. — Dei um sorrisinho pretencioso.
— Acho que agora pode me dizer que diabos é isso que estou comendo, não? — Lembrou-me.
— Haggis é um prato tradicional da Escócia, feito com bucho de carneiro, recheado com vísceras e ligado com farinha de aveia.
— Santo Deus. Eca! — Torceu o nariz como eu suspeitara. Mas o asco não fez a criatura parar de comer por um segundo sequer.
— Você geralmente come de forma tão deleitosa coisas que te causam aversão?
— Ah...eu estou com tanta...fome... — disse entre mastigadas — que não acho muito seguro você ficar perto de mim.
— Vá com calma, boireannach. Dessa forma irá engasgar.
— Boi...Boire o quê?
— Boireannach — repeti. — Quer dizer "mulher" em gaélico.
Ela terminou de mastigar e me lançou um sorriso que eu arriscava dizer ser malicioso. Eu poderia eternizar seus lábios com aquelas encantadoras curvas para sempre. Isso não está certo. Eu preciso levar essa mulher de volta para o seu...seu...Diabo, por que ela está me olhando como se também me desejasse? Por que tem que confundir minha cabeça de tal maneira?
— Por que está sorrindo, madame? — Perguntei, após alguns instantes tentando me recompor.
— Não estou sorrindo, Charlie. — Levou uma mão à boca para disfarçar o risinho afogueado.
— Não? Então o que são essas belas curvas surgindo em seus lábios?
— Belas curvas?
Teria sido melhor que me arrancassem a cabeça do que ter confessado que seu sorriso me agrilhoava.
— A madame vive a sorrir, alguém já deve ter lhe dito que essas sinuosidades lhe caem muito bem.
— Certamente, Charlie. Contudo, isso não exime minha surpresa pelo elogio ter saído de você.
— Devo admitir que hoje estou me expressando mais do que deveria, madame. Peço desculpa por minha devassidão. — Fitei os olhos em meus pés, temendo que minha mentira fosse descoberta. Eu lamentava coisa alguma. Queria aquela mulher cavalgando em cima de mim a pleno galope.
— Tess. Eu me chamo, Tess! — Respondeu com acidez e depois sussurrou algo inteligível que eu entendi como: "maldito, escocês!"
— Um nome que me causa uma certa curiosidade, por sinal. — Confessei.
Ela se voltou para mim com um semblante desafiador. Se aquela criatura não era a coisa mais pirracenta do universo, eu não saberia dizer o que é.
— Se me contar sobre Balder, eu lhe conto sobre Tess. — Ela fez a brincadeira parecer divertida, mas eu sabia que na verdade, a curiosidade sobre meu nome em Kerrera a enlouquecia.
— A conversa está absolutamente agradável, madame, mas eu tenho uma penosa viagem para fazer e preciso me preparar. — Anunciei, lembrando-a de que ainda hoje eu precisaria raptar uma criança doente.
Ela pareceu decepcionada com a minha resposta.
— Quero ajudá-lo. — Me pegou de surpresa. Não pude deixar de arregalar os olhos.
— Creio que não ouvi muito bem.
— A ideia de raptar Brenda e levá-la ao hospital foi minha. Eu não ficarei aqui de braços cruzados sabendo o desastre que você é em sequestrar pessoas. — Alfinetou.
— Pelo tom ácido da sua voz, suspeito que tenha tentado me ofender, mas na verdade eu fico aliviado por saber não sou um criminoso qualificado.
Ela revirou os olhos e suspirou.
— Você já me trouxe para esse maldito lugar contra minha vontade. O mínimo que pode fazer por mim, é permitir que eu te ajude a salvar a vida de uma criança.
Lidar com o temperamento de Tess estava sendo muito mais penoso do que eu achei que seria. A rainha havia me alertado sobre ela ser uma dama fora dos padrões, mas nem em sonhos eu imaginei que seria tão desafiador.
— Ceart! (Certo). — Grunhi.
— Espero que isso seja um "sim", porque já estou indo trocar de roupa. — Alertou e desapareceu do meu ponto de vista.
Pelos deuses.
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Um escocês no meu caminho
RomanceATENÇÃO ⚠️ Apenas DEGUSTAÇÃO O livro foi retirado (11/08). Disponível na Amazon. Livro I série: Escoceses Sinopse: Tess era a mulher mais sortuda do mundo, ninguém podia contestar. Noiva do príncipe de Gales, um dos homens mais cobiçados e viv...