Capítulo III

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Os braços fortes me carregavam sem qualquer dificuldade. Seu corpo era quente, os ombros largos e aconchegante, a carne era firme. Eu sentia seu cheiro em meio ao agradável odor exalado pela natureza. O eco dos seus passos me despertou. Abri os olhos com uma dificuldade exagerada para o horizonte e vi o entardecer se aproximar. O sol alaranjado tentava, inutilmente, conseguir um espaço entre a nevoa de arvoredo.

Meio dispersa e com a vista turva, observei seus lábios maculados, que soltava um ar quente e abafado. Queria perguntar a Ryld a razão de estar andando tão depressa, era como se estivéssemos fugindo.

As palavras ficaram ressoando dentro da minha cabeça sem eu conseguir colocá-las para fora.

Encarei com mais concentração o rosto do homem que me carregava. Havia algo de errado. Aqueles olhos que me rasgavam como faca, o cabelo escuro que se espalhava com o vento, o cheiro do perfume que me causava tremor.

Eu estava enganada, aquele rapaz não era Ryld.

Eu precisava gritar, mas tudo que soltei foram gemidos quase inaudíveis.

— Acordou. — Observou Charlie, o tom de voz delicado nublando o arisco. — Por favor, não grite.

— Me...me coloque no chão. — Gaguejei, recebendo as lembranças com a força de um coice. Eu...eu havia desmaiado.

Charlie me dopou?

Notei um abismo em seus olhos mascarados.

— Já estamos chegando. — Ignorou meu pedido. Meu coração disparou quando consegui perceber que estávamos seguindo em sentido oposto à casa de campo.

Me remexi, tentando me soltar de seus braços, quando o pânico causado pela segunda descoberta me dominou: meus pulsos estavam amarrados por cordas apertadas, assim como minhas pernas.

Eu estou sendo raptada.

O desespero brotou dentro de mim e fez eu me sacudir ainda mais violentamente. Charlie me jogou por cima do seu ombro como se eu fosse um saco de batatas.

— Aquiete-se, não quero ter que apagá-la pela segunda vez!

— O que pensa que está fazendo, hã!? Sabe o que acontecerá com você quando Ryld descobrir o que está fazendo comigo? — Por alguns instantes, me despi do medo. — ME COLOQUE NO CHÃO!

— Não irei machucá-la, madame. Não tocarei em um único fio de cabelo da sua cabeça.

— Está me dizendo que minha morte será indolor? — Perguntei em tom rude, com o choro escandaloso aprisionado na garganta seca.

Ele parou de andar, de princípio acreditei que fosse por conta do meu comentário, mas logo descobri que não.

— Suba. — Disse ao me colocar no chão. Eu estava diante uma carroça puxada a cavalo e cheia de palha. — Eu preciso que deite ai para que eu possa cobri-la. — De repente, um cobertor de crochê surgiu em sua mão.

— Charlie...por favor, o que fará comigo? Me diga o que quer. — Supliquei, agora sentindo o gosto salgado das lágrimas. Havia suor escorrendo por minhas costas.

— Eu a levarei para outro lugar, apenas isso. Não a machucarei, tem a minha palavra.

— Sua palavra? Era para você me proteger e agora estou sendo raptada! — Gritei, espantando os pássaros que observavam dos galhos toda aquela loucura.

Titubeou por um instante e depois ordenou:

— Não estou te dando uma escolha, madame. Não nos faça perder tempo. Suba logo!

Um escocês no meu caminho Onde histórias criam vida. Descubra agora