Capítulo IV

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Muitas horas depois.

Demorei para entender onde eu estava assim que abri os olhos. As paredes de pedras, as janelinhas, a escada de tronco de árvore bem no centro do quarto, a luminária acesa ao meu lado direito. Nada disso fazia sentido para mim. Me levantei da cama em um pulo e joguei o cobertor de crochê para o lado quando as lembranças voltaram.

Escócia...Meu deus. Isso é a Escócia.

Ainda estava com a mesma roupa no corpo, mas meus pés estavam enfiados em um par de meias quentes que não eram as minhas.

— Acordou. — Disse Charlie, descendo a escada de tronco de árvore. — Bem-vinda a Kerrera, madame.

— Por quanto tempo dormi? — Perguntei, assustada, quando vi que o dia já tinha amanhecido.

— Bastante. — Falou sucinto. Charlie havia trocado de roupa. Agora vestia uma calça preta que parecia bem quente e uma blusa azul de manga longa. — Você deve estar com fome...Está?

Balancei a cabeça negativamente.

— O que estou fazendo aqui, Charlie!? Por que me trouxe pra cá? — Questionei, agitada. Meu estômago estava embrulhado e eu estava apavorada. Não me lembrava de ter me sentido assim alguma vez antes.

Ele sumiu dos meus olhos por alguns minutos e retornou em seguida.

Me estendeu uma xícara de chá preto com leite antes de se dar ao trabalho de me responder. Recusei e cruzei os braços para pressioná-lo a falar.

— Por que eu não te apresento a todos antes? — Redarguiu.

— Não estou interessada. — Falei. Ele bebericou seu chá me encarando de forma contínua e dolorosa.

— Devia se mostrar mais amigável, já que sua estádia aqui pode ser relativamente longa.

— Você está brincando com a minha cara. Não está?

— Se acalme, tome seu chá e então conversaremos. — Tentou me convencer, mas eu estava decidida a não seguir suas instruções dessa vez. Dessa vez eu não iria desvanecer feito uma flor.

Dei um passo firme em sua direção e o agarrei pela camiseta. Ele abaixou a mão que antes estava suspensa no ar com a xícara e me olhou de forma curiosa. Não pude deixar de notar as curvas se formando ligeiramente em seu rosto após ele ameaçar sorrir descaradamente.

— Eu quero conversar agora. Quero saber que merda está acontecendo! — Falei. Fazia bastante tempo que palavras tão sujas não saíam de meus lábios.

Me ergui na pontinha dos pés para poder encará-lo mais de perto, quando fui abduzida por aqueles olhos nuviosos e depois diluída para uma escuridão ainda maior. Era desgastante tentar ler aquele rosto, mas minhas definições estavam entre abismo e destruição.

— Eu espero estar viva para ver Ryld acabar com você! — Falei. A ameaça saiu em um sussurro descontrolado.

Ele ergueu novamente a xícara de chá que havia trazido para mim e como se não desse a menor importância para o que eu dizia, ofereceu a bebida pela segunda vez, ao meio-riso secreto.

— Agora a madame aceita o chá?

— Ryld não medirá esforços para me procurar. Inclusive, tenho certeza de que seu helicóptero pousará aqui nos próximos minutos. — Alertei, confiante.

— Sua alteza real deve estar absolutamente devastado nesse exato momento, senhorita, quanto a isto, não há dúvida.

— Mas...? — Perguntei, ao sentir que sua frase ficou inacabada.

Um escocês no meu caminho Onde histórias criam vida. Descubra agora