Capítulo VIII

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                                       Tess

Um pouco mais tarde naquele mesmo dia, ouvi Charlie conversar com um homem na sala. Me espreitei para tentar ouvir um cadinho sequer, mas me deparei com diálogos em gaélico e a forma rápida como eles pronunciavam as palavras, nem um dicionário me ajudaria. A verdade é que me mantive atenta a conversa, mesmo sem compreendê-la porque não queria ter que lidar com meus sentimentos. Charlie bagunçou a minha vida muito mais que um terremoto seria capaz de bagunçar uma cidade.

Por que aquele maldito escocês se atreveu a me dizer que queria me beijar? E, antes de mais nada, por que ele queria me beijar?

Ryld ainda era o meu noivo e nada havia mudado.

Eu estou apenas assustada. Não é todo dia que a rainha manda alguém me sequestrar.

Tudo bem, era simples de entender o que eu estava sentindo. Charlie estava sendo atencioso comigo, me comprou roupas e cozinhou para mim, além de eu estar passando mais tempo ao seu lado do que passei na vida com Ryld. Eu estava em uma ilha desconhecida e ele estava tentando reverter seu erro sendo extremamente atencioso. Meus sentimentos não eram nada preocupantes.

— Tudo bem, obrigado, Gael. — Charlie fez questão de levar o homem até a porta e deixou escapar um suspiro frustrado quando se aproximou de mim.

— Aconteceu mais alguma coisa?

Ele esfregou a testa preenchida de preocupação.

— A saúde de Brenda está se agravando a cada segundo.

— Então não vamos perder tempo!

Ele me encarou com intensidade.

— Não quero que vá comigo, Tess!

Eu o teria elogiado por ter pronunciado meu nome no lugar de madame e senhorita, mas me vi muito mais interessada em brigar pelo meu direito de tomar minhas próprias decisões.

— Algo dentro de mim me diz que eu não me importo com o que você quer! — Retruquei com ironia.

— Isso não é uma brincadeira. Brenda está doente e pode ser contagioso. Não permitirei que você corra o risco de adoecer também.

— Levarei em consideração sua preocupação com o meu bem-estar.

— Levará? — Havia uma fagulha de esperança na sua voz.

— Levarei e descartarei. Eu vou com você, Charlie.

Um intenso aborrecimento tomou conta do seu rosto.

— Eu a amarrarei à cama se for preciso! — Garantiu em um ranger de dentes.

— Você não seria capaz. Não suportaria partir sabendo que eu poderia estar sentindo dor por ter meus pulsos e pernas presos. O escocês prometeu me proteger, lembra-se?

Ele colocou as mãos nos quadris e estreitou os olhos para mim. Com toda certeza, a essa altura, Charlie estaria se lamentando por ter me sequestrado.

— Por vezes tenho medo dos pensamentos que a madame desperta em mim. — O tom de voz era sombrio, mas não tive medo. — Tenho vontade de esquecer o bom senso e puxar-lhe os cabelos.

— Saiba que também não tenho vontade de lhe fazer cafuné, Charlie.

— Fazer o quê? — O semblante confuso me fez querer rir.

— Cafuné. — Repeti.

— Que raios de palavra é essa?

Por uma fração de segundo eu achei que ele estivesse zombando de mim, e então me lembrei que certa vez li na internet que essa era uma das poucas palavras em português que não tinha uma tradução direta para outros idiomas. A pronunciei em português sem ao menos perceber.

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