Zygmunt Bauman entende que o ser humano atual é um produto do que acontece na modernidade líquida. Nos seus escritos, ele aborda o indivíduo como alguém que integra uma sociedade e responde a ela, modelando-se as suas "imposições".
A corrente filosófica chamada "estruturalismo" serve de parâmetro para compreender esse pensamento do filósofo e sociólogo polonês. Segundo essa escola, "a categoria ou ideia de fundo não é o ser, mas a relação, não é o sujeito, mas a estrutura". [...] Os homens não têm significado e não existem fora das relações que o instituem e especificam o seu comportamento (REALE; ANTISERI, 2008, p. 83).
As relações atravessam toda a obra de Zygmunt, que vê o ser humano transformado numa estrutura flexível programável para o consumo. As interações sociais e os laços afetivos estão cada vez mais fracos, devido à modernidade líquida. Tudo passa a ter um cunho econômico, focalizando a materialidade nas relações (cf. BAUMAN, 2007, p. 18). O mundo atual oferece muitas escolhas e cada um pode agarrar uma oportunidade e levá-la consigo no seu cotidiano. "Afinal de contas, perguntar 'quem você é' só faz sentido se você acredita que pode ser outra coisa além de você mesmo" (BAUMAN, 2005, p. 25).
Identidade é uma das palavras que vêm ganhando mais espaço atualmente, quando se faz referência à vida humana e ao papel do indivíduo no meio em que vive. Se no passado a "arte da vida" consistia em encontrar os meios adequados para realizar os fins propostos, agora se trata de testar, um após o outro, todos os fins, de acordo com os meios ao alcance. A construção da identidade é infindável, pois seus experimentos nunca terminam. Quando o indivíduo assume uma, existem outras aguardando a sua vez. A liberdade de escolher uma identidade que esteja à disposição no mercado de consumo acaba sendo um valor em si mesmo.
A liberdade do indivíduo ante os mecanismos da mídia de massa refere-se à escolha entre o leque de possibilidades oferecido. O indivíduo é livre desde que seja maleável perante as investidas dos modismos criados e desmontados pelos meios de comunicação de massa. O protótipo do homem modulado deve ser provisório e não universalizante. Foi justamente isso que a modernidade líquida fez na formação da identidade dos indivíduos. Trata-se de processo contínuo e incessante. A cópia de modelos prontos e acabados pela mídia é algo que se aplica com eficácia ao indivíduo modulado, que não deixa de ser alguém que consome.
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Não é apenas um mês: Ansiedade, Depressão e Suicídio
Non-FictionBreves palavras sobre o suicídio que costuma ser abordado frequentemente apenas em um único mês, como se nos outros onze meses do ano ele existisse, mas fosse algo normal. Ao contrário do que muitos dizem por aí, suicídio não é frescura e pode ter m...