Capítulo 39

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A noite, ainda no quarto de yugyeom, eu lembrava do dia que tinha de passado. Ele dormia e eu o observava pensando em tudo mas não resolvendo ou concluindo nada

Eu lembrava da minha mãe, das lágrimas dela, das lágrimas que eu segurei, do abraço que se mostrou ser a mesma coisa da época de minha infância, a sensação de conforto e proteção era a mesma

Ela chorava por mim, chorava por yugyeom, chorava pelo meu pai. Ele não quis falar comigo, ele disse que não estava pronto. Ele me culpava mas também disse "eu te amo, filho". Fazia tanto tempo que não ouvia essa palavra sendo relacionada a mim, era bom

Minha mente ia a Jimin sem eu nem mesmo perceber, ele vi seguia ter para si tudo de mim. Meus pensamentos, meu coração, minha saudade, minha raiva, meu desejo, meu corpo, era tudo dele, eu era dele por inteiro
Eu precisava dele, ouvir sua voz, sentir seu toque, dizer a ele que o amava. Yugyeom dormia, mas ele me diria pra ligar e eu liguei

Tiveram quatro toques, eu pensei que ele não atenderia de jeito nenhum, mas atendeu. Ele não disse nem sequer uma palavra, eu, sem coragem pra dizer tudo, só disse seu nome, como se já fosse o suficiente "Jimin", eu ouvia sua respiração, aquilo não era o suficiente. Eu tinha medo, medo de ele desligar e me deixar sozinho como eu o deixei. Na esperança de ser atendido eu fiz meu pedido "não desligue, não me deixe sozinho. Me desculpe" mais uma vez eu só ouvia sua respiração, mas ele ficou

Eu me mantive acordado toda a madrugada até que escutei sua voz, e só aí eu percebi o quanto de saudades eu estava, era muito mais mais do que eu imaginava

"Você me deixou sozinho" e eu me odeio por isso

"Eu te amo"

"Eu também"

"Quando eu voltar, me aceite de volta"

"Você vai dizer o porquê?"

"Eu explico a você, anjinho, apenas me espere e eu vou voltar pra você"

Ele demorou um tempo até soltar sua resposta, suspirou primeiro pra depois de dizer "eu sinto sua falta, então não demore"

Depois disso ele desligou, sem despedidas, sem choro, sem "eu também te amo", apenas desligou. Ele me deixou sozinho assim como eu o tinha deixado mas o que eu queria? Que ele ficasse o tempo todo no celular comigo? Amanhã ele iria pra escola, eu iria organizar minhas coisas no hotel e depois disso passar o resto dia com meu irmão e assim eu fiz

O quarto de hotel, agora, era organizado do meu jeito de costume. A caminho do hospital eu tentei descansar um pouco no táxi já que noite passada eu não pude fazê-lo. Eu tentei mas ele não saía da minha cabeça

Ao chegar no hospital eu tinha um humor aborrecido , não sabia exatamente o motivo, não era um dos meus melhores dias

— se está com saudades porque não volta? — yugyeom perguntou depois de ter iniciado nossa conversa com "como vai?", eu decidi se honesto

— sabe que não posso, vou dar o depoimento daqui a dois dias

— ótimo! Depois disso você pode voltar pro amor da sua vida

— eu não posso, não. Eu vou ficar aqui com você como eu deveria ter feito anos atrás

— você deve ir e ficar com ele como deveria ter feito um dia atrás

— pare de falar nisso, eu preciso terminar meu currículo — minha ideia era ficar em Busan, ficar até yugyeom...bom, eu precisaria de um emprego caso minha ideia se concretize

Meu currículo estava quase pronto, só faltava eu escrever sobre a última escola, a mesma em que eu o conheci. Tudo, de alguma forma, me levava a ele. O todos os dias, em algum momento eu olho pra algo e penso nele. Eu almoço e penso que gostávamos de comer juntos, era divertido. Eu leio um livro e penso que ele dizia que adorava quando eu lia pra ele dormir. Eu assistia um filme e notava que era aquele que ele amava assistir comigo

Mas então ou ouvi a aceleração do barulho que saia das máquinas ligadas a yugyeom, não eram mais calmamente rítmicas. Ele se sacudia e revirava os olhos, estava convulsionando, eu não sabia o que fazer, congelei. Eu me obrigava a me mexer e chamar um médico mas estava com tanto medo que minhas pernas não me obedeciam. Mas eu consegui, eu apertei o botão azul e uma equipe de médicos e enfermeiros chegou. Eu reconheci o carrinho de parada e me amedrontei mais ainda já que aquilo serviria caso seu coração parasse de bater, se o fizesse, eles chocariam seu peito

Algum enfermeiro falava comigo. Espera, era uma mulher. Ela me perguntava alguma coisa mas todo o som chegava abafado aos meus ouvidos, eu não ouvia direito. Eu só olhava pra ele, eu não sabia se ele sentia dor, mas eu sentia. Sentia tudo de uma vez só, dor, medo, ódio, todos ruins

A enfermeira desistiu de me perguntar qualquer coisa que me perguntava antes, eles tinham tirado ele dali e só aí eu percebi que minha mãe e meu pai também estavam ali. Minha mãe chorando e meu pai consolando-a

Ela falava comigo, meu pai gritava mas mesmo assim eu não ouvia mas eu ouvi quando minha mãe disse sem esperanças "meu filho vai morrer" e eu acreditei, eu não queria, mas acreditei

Então eu saí de lá, eu precisava sair, precisava respirar um ar que não me sufocasse, isso faz sentido? Passei a ouvir apenas o som de buzinas, e outros típicos de cidade, esses pareceram mais confortáveis que os do monitor cardíaco, eles eram ensurdecedores, me hipnotizaram, era tudo o que eu ouvia naquela sala

Agora ele estava em cirurgia e eu, que imaginava estar preparado pra algo assim, me vejo sem esperanças

Hey prof... hey baby...Onde histórias criam vida. Descubra agora