Capítulo 35

10.4K 998 192
                                    

Então tudo tem sua ida e sua volta, tudo tem seu começo e seu fim. Nós, seres humanos, que temos uma capacidade pensante maior que outros animais, nós que temos noções, que temos percepções, temos consciência, mesmo sabendo da vida e de seus fins, sempre somos pegos de surpresa e sempre derramamos aquilo que demonstra nosso interior para o mundo exterior. E quando Jeon Jungkook disse "eu tenho que ir embora", demorei até entender ou até acreditar que ele não falava de ir embora para seus casa e que nos veríamos mais tarde, ele falava de partir

"Preciso de um tempo de tudo isso" "estou com problemas na família" "eu não posso te dizer sobre yugyeom, não consigo"

"Precisa de um tempo? Aff...está bem, eu posso dividir meu tempo com você, não se preocupe"
Está com problemas? Okay, eu entendo, te ajudo a resolver" "ele era seu melhor amigo, não é? Não tem problema, eu nunca mais falo nele, apenas não me deixe" droga! Nenhuma das respostas funcionaram

— eu preciso te dizer uma coisa antes de ir — disse Jeon tentando me acalmar já que meu corpo era um mix de raiva, duvida, tristeza e inconformismo

Raiva dele por me deixar aqui depois de todos os charminhos que jogou em mim, depois dos beijos, depois das noites. Ele me fez apaixonar por ele e agora diz que vai embora?
Duvida por não saber se eu tinha feito algo, se era só o consciente dele dando uma de louco
Tristeza por simplesmente estar ouvindo de sua boca que eu ficaria sem ele. Eu gosto dos charminhos, eu gosto dos beijos, eu gosto das noites. Gosto de estar apaixonado por ele e ele está estragando tudo
Inconformismo porque eu não aceito que ele tenha arrancado meu coração de mim, colocado numa caixinha bem pequenininha e agora quer ir pra longe com ela. Será que ele pode, por favor, devolvê-lo pra mim?

— não toque em mim — recuei quando ele tentou contato mais uma vez. Nos últimos minutos isso tinha acontecido diversas vezes tão diferente de um tempinho atrás onde eu apenas sentia eu corpo no meu, sua respiração no meu pescoço, suas mãos entretidas com a minha cintura e nossas bocas se divertindo uma com a outra

— Jimin, por favor, entenda...me entenda. Se não for você a me entender então ninguém vai

— eu sinto muito, Jungkook, mas entender você está me parecendo uma tarefa muito difícil

— olha eu...eu amo você. Amo demais, eu quero ficar aqui, quero ficar com você mas... não dá. Então me deixe sentir você apenas mais uma vez

Eu entendi que ele tinha que ir, eu não entendi todo o resto. Mas tem mais uma coisa que eu entendi. Se eu deixasse mesmo ele encostar em mim, seria sua passagem de ida pra longe de mim. Enquanto eu ficar aqui negando seus toques, me segurando pra não abraçá-lo com toda a força que eu tenho, Jungkook permanecerá aqui pedindo que minha permissão. Se eu não deixasse ele tocar em mim, não seria uma despedida

— o voo sai daqui a duas horas, eu preciso ir. Deixe eu me despedir, Jimin — ah...ele entendeu

— Vá embora, Jungkook — sem conseguir me controlar ou controlar meus impulsos, gritei, como se, em contradição ao que saia de minha boca atrevida, elevar minha voz fosse fazê-lo ficar. Eu sabia que não, mas convicto de que deveria tentar eu o fiz — vá pra longe de mim, eu não quero ver você nunca mais, entendeu? — era estranho o fato de que eu dizia tudo isso na intenção de convencê-lo a permanecer aqui pertinho de mim — eu quero que você suma e nunca mais apareça na minha frente — quanta mentira

Jungkook escutava tudo, calado e paciente. Quando parei com o ataque, mesmo querendo dar mais de mim na expressão de minha raiva, a única coisa que o vi fazer foi abrir os braços. "Vem cá". Aquela única e simples frase, me fez esquecer toda a pose de durão enraivecido que tinha construído e correr para ele

Esse abraço era quente ao mesmo tempo que frio, era reconfortante ao mesmo tempo que depressivo, aconchegante ao mesmo tempo que incômodo. Mas eu não queria sair dali nunca mais

— fica aqui comigo — entre as lágrimas que entravam na minha boca conforme eu falava, a frase sou a única que eu consegui por em palavras de todas as outras que se passavam pela minha cabeça

Sua resposta não teve som. Ele apertou mais o abraço como resposta, e eu entendi que ele quis dizer "não posso" com isso

— eu quero que me esqueça, quero que me faça desaparecer da sua mente. Assim vai poder seguir em frente e é tudo o que eu quero que faça. Apenas siga em frente, anjinho — e como ele acha que eu farei isso? — eu te amo, Jimin. Isso você não deve esquecer

— filho da puta

— você promete?

— desgraçado

— vai fazer o que estou pedindo a você. Seja feliz, Jimin

— eu te amo — tarde demais. As lágrimas que tinham sido secadas pela raiva, agora voltaram com mais força por todo o resto

— Me desculpa, anjinho

— está bem — não, eu não desculpo

Era pra ser simples, ficar com meu professor gato de biologia e passar a evitá-lo nos corredores do colégio por causa do constrangimento. Mas o simples passou a ser complexo a partir do momento em que eu me permiti dizer em silêncio a mim mesmo "eu gosto dele". Foi aí que minha parece de segurança, aquela que eu mesmo tinha construído por medo da parte ruim de amar alguém, foi destruída por completo

Depois de não separarmos e ficarmos a alguns centímetros de distância, os passos dele pra fora eram perceptíveis, e logo milhares de quilômetros não distanciariam. A parte ruim é que ele levou mesmo meu coração na caixinha com ele, então como eu seguiria em frente? Como eu construiria a parede novamente se ele, com certeza, tinha levado os materiais de construção com ele?

Eu não sei. Eu não sei como faria sem ele, eu não sei como suportaria, eu não sei como seria não vê-lo todos os dias, eu não sei

Eu apenas o quero aqui comigo

Hey prof... hey baby...Onde histórias criam vida. Descubra agora