Capítulo 3

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Giovana

Dia vinte e um de fevereiro, faz cinco dias que ele está internado, agora podemos passar mais tempo no quarto mas não há muito o que fazer, apenas conversar e esperar que ele ouça, acorde e volte a nossas vidas

-"Oi!" Jess entra no quarto, ela parece mais animada

-"Oi" respondo

-"Giovana precisamos mandar boas energias para ele, você está com uma cara horrível"

-"Jessica é o melhor que estou conseguindo"

-"Calma moça, eu trouxe jogos para ele" ela fala mostrando a bolsa cheia de jogos de futebol

-"Ele não vai olhar, ele está em coma" estou braba, todos aqui entram e acham que esta tudo bem mas não está nada bem, ele está em coma a cinco dias, que droga

-"Ele vai ouvir e ficar doido" ela ajeita a televisão que tem no quarto

-"Jess ele não ouve nada também"

-"Giovana! Para com isso, eu também quero ele de volta"

-"Jessica!" o aparelho começa a fazer barulho, uma enfermeira entra e fala para nos afastar

-"Parada cardíaca!" ela grita e mais pessoas entram

-"Vamos ter que chocar" ela diz e ele leva mais choques no peito

-"Por favor volta" Jess fala baixo ao meu lado

-"Mais uma vez" a enfermeira diz e o médico entra no quarto, os batimentos voltam

-"Finalmente" falo aliviada

-"Meninas vamos ter que conversar" ele fala com uma expressão de preocupado

-"Pode falar" Jess fala

-"Ele está fraco, a cada parada que ele tem fica mais difícil dele voltar e se voltar a acontecer ele pode não resistir, com essas frequências só tende a piorar"

-"Está querendo dizer o que?" Jess indaga

-"Que se quiserem desligaram os aparelhos..."

-"Pode parar!" ela fala -"Ele pediu para mim depois que a Sara morreu, que não importa o quanto demorasse ele voltaria para casa, então ninguém vai encostar nos aparelhos até ele acordar, faz só cinco dias gente"

-"Tudo bem!" o médico fala e sai do quarto

-"É melhor você não ter mais paradas cardíacas e é melhor não morrer Henrique" ela chora ao lado dele -"Você não pode me deixar também"

-"Ele não vai deixar" falo

-"Vou colocar o jogo e você não apronta mais nada" Jessica fala com ele mais uma vez, estou exausta, preciso sair daqui

-"Você vai ficar com ele?" indago

-"Sim, vou passar a noite aqui, o Murilo está com a Morgana e depois eles vão vim"

-"Ta bom!" respondo, pego minha bolsa e saio, encontro o médico dele no caminho mas passo direto por ele seguindo pelo corredor

Meu celular ficou sem bateria e não tenho vontade de ir para casa agora, não tenho nada para fazer, não consigo pensar no que posso fazer para o ajudar, clinicamente nada é claro mas preciso pensar em como o ajudar a ficar bem, eu preciso ficar bem, daqui a poucos dias vou me mudar e começar uma nova etapa na minha vida, preciso deixar os problemas de lado e continuar, não posso ficar aqui esperando por um milagre, e se ele não acontecer? E se ele não voltar? Vou me arrepender de ter interrompido meus planos por ter esperado, me sinto horrível pensando assim, sou egoísta a ponto de pensar somente em mim agora mas é necessário, é preciso pensar na minha vida a partir de agora, mesmo que isso signifique deixar ele, quando percebo estou em casa, com a cabeça com mil pensamentos tento dormir, sem sucesso algum.
Dia vinte e dois de fevereiro, seis dias hoje, estou cansada, durante a noite pensei muito e decidi que hoje será o último dia, hoje será quando o deixarei descansar para voltar e seguirei minha vida, parei com tudo por causa dele mas agora vou retornar, não posso o ajudar, apenas o corpo dele pode fazer isso, vou cuidar da minha vida que deixei de lado nos últimos dias

-"Bom dia filha" minha mãe fala quando chego ao final das escadas

-"Oi mãe" sento e pego uma xícara para tomar café

-"Você está bem?"

-"Sim, vamos continuar pesquisando hoje, pode ser?" falo e ela levanta as sobrancelhas

-"Sim, podemos"

-"Vou no hospital mas logo volto, temos poucos dias agora"

-"Tem certeza? Podemos adiar por apenas seis meses"

-"Não, não podemos fazer isso, por favor"

-"Tudo bem! Só achei que se sentiria melhor ficando perto dele" ela fala sentando ao meu lado, estou confusa e confundindo todos

-"Ver ele assim me machuca demais, vamos continuar com nossos planos, pode falar com todos por mim?"

-"Sim, vamos conversar hoje a noite, Gabi e seu pai acharam que ficaríamos"

-"Vamos falar com eles"

-"Ok" ela diz e se levanta

-"Obrigada" saio da casa, preciso falar com ele, se ele me ouve ou não vou explicar porque estou fazendo isso, porque não posso ficar

-"Oi" o médico fala no corredor

-"Oi" respondo e sigo meu caminho

As janelas estão abertas, o vento bate nos fios de cabelo dele, há algumas flores, hábito que acho estranho pois parece um velório, Murilo esteve aqui, posso ver sua meia perdida

-"Oi" beijo seu rosto quente, sua barba por fazer espeta meus lábios, ele parece cansado, sem expressão alguma mas cansado -"Você precisa voltar o quanto antes, estamos todos muito doidos aqui, vi a meia do Murilo e acho que ele te fez bem, ele faz qualquer dia ruim ficar bom, igual você" meus olhos já estão cheios de lágrimas, meu peito está apertado e me sinto sufocada -"Quero que saiba que não posso ficar esperando muito tempo, dia primeiro vamos nos mudar, o plano vai continuar sendo o mesmo e não quero que se magoe, espero que entenda ou pelo menos que tente fazer isso por mim, não sei quando irá acordar mas vou estar esperando por isso todos os dias em qualquer lugar que esteja" a mão dele está fria, como a maioria dos dias -"Por favor me perdoa por isso, acredite que está sendo muito difícil para mim e para minha família" as palavras mal saem de tantas lágrimas que percorrem meu rosto, estou exausta e com dor, o que mais tenho sentido é dor, queria voltar naquele dia e impedir ele ou o atrasar, tudo seria diferente, ele poderia ir comigo ou falar que me veria toda semana, estaríamos felizes agora -"Eu te amo" o beijo no rosto e saio do quarto

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