Parte 2
Henrique
-"Afasta! Mais uma vez! Afasta!"
Puxo o ar o máximo que consigo, meu peito dói mas estou acordado, caralho que dor no meu corpo todo, estou acordado, estou acordado. Tento falar com as pessoas presentes naquele quarto, Giovana está com uma cara terrível, Jessica chora muito, e os médicos finalmente colocam aquele aparelho nojento em seu lugar, mas ninguém me responde
-"Oi! Alguém pode falar comigo, o que tá acontecendo?" pergunto mas ninguém fala, o médico é o mesmo que atendeu minha mãe, ele sai do quarto com Jessica e Giovana, olho ao meu redor e ninguém fala nada, até que olho para baixo, me vejo totalmente desacordado, com machucados pelo rosto, um tubo na garganta e os aparelhos mostrando meu batimento cardíaco, o que está acontecendo? Levanto da cama, espera! Eu sou um fantasma? Uma alma penada? Eu vou morrer? Eu não posso morrer, Murilo não pode ficar sozinho! Isso não pode acontecer, como eu faço pra voltar? Aí! Meu coração tá doendo, por quê tô sentindo dor se não estou de fato em meu corpo, estou me vendo deitado naquela cama, completamente pálido sem nem ao menos conseguir respirar sozinho. Elas entraram no quarto novamente, Jess tem uma expressão nada boa, uma mistura de medo, confusão
-"É melhor você não ter mais paradas cardíacas e é melhor não morrer Henrique!" Jess chorou enquanto estava do meu lado -"Não pode me deixar também!" ela falou, tenho muitas razões para ficar vivo, preciso voltar e poder abraçar ela de novo
-"Ele não vai deixar" Giovana falou
-"Vou colocar o jogo e você não vai aprontar mais nada" Jess falou para mim, se o jogo pudesse me trazer de volta eu passaria horas olhando
Depois de poucas trocas de palavras Giovana saiu, consigo perceber uma tensão entre elas, isso me deixa realmente muito triste, estou em coma e não posso falar que tudo vai ficar bem por que não estou na melhor condição para falar isso para ninguém, naquela noite Murilo foi trazido para me ver, eu amo quando o vejo mas não sei se quero que ele esteja presente aqui, nessa situação mas seus pequenos sorrisos me fazem tão bem.
Será que consigo sair do quarto? Sou um fantasma mesmo devo conseguir passar, com uma tamanha curiosidade passei primeiro minha mão através da parede-"Caramba isso dá certo!" falei para mim mesmo e logo passei a parede
Esse hospital parece ser muito organizado e o movimento está fraco, para uma cidade pequena isso é bom eu acho, significa que ninguém está prestes a morrer, estou passando pelo corredor e olhando para algumas pessoas internadas, consegui ver uma criança com a perna quebrada, acho que conheço esse garoto, ele joga no campeonato municipal, pude ver uma mulher tendo fortes contrações e a caro do pai do bebê de apavorado com os gritos da mulher, eu poderia acompanhar o parto mas não o farei, finalmente vejo alguém que conheço, o médico, aquele que foi da minha mãe e que agora é o meu
-"Estou muito preocupado!" ele falou para outro médico
-"Ele não está reagindo?"
-"Ainda não! Seu coração está fraco" ele falou com uma expressão de tristeza, cheguei mais perto, eles estão na sala dos médicos, uma sala de tamanho médio, tem armários feitos com madeira, uma madeira escura muito bonita, tem dois sofás na sala, geladeira, cafeteira e uma pequena mesa de centro onde repousa uma flor -"Comentei sobre o desligamento dos aparelhos mas Jessica disse que prometeu para ele que não iria desistir dele" ela realmente prometeu e fico muito feliz que ela esteja mantendo sua palavra, ela não pode me deixar
-"Eles são muito apegados pelo jeito! Ela é a filha do Lucas não é?"
-"Sim! Esses dois tem uma tragetoria de vida muito triste" meu médico respondeu, a vida resolveu ser filha da puta com nós, tanta coisa ruim acontecer assim
-"Vamos fazer de tudo para que ele volte e aumentar ao máximo o tempo para manter o leito dele" o outro médico falou
-"Eu gosto de você!" falei para o homem
-"Vamos! Eu quero ver esses dois meninos daqui alguns anos passeando por aí" meu médico falou com um breve sorriso
-"Eu quero muito isso!" falei
22 de fevereiro
A janela foi aberta logo cedo por uma enfermeira, Jess já saiu para trabalhar e no momento estou sozinho, o vento está batendo no meu cabelo que está cada dia um pouco maior, algumas flores estão na cômoda do quarto, uma trazida por Lara que por incrível que pareça passa um bom tempo conversando, sozinha ao ponto de vista dela, mas presto atenção em cada palavra, outro vaso de flores foram trazidos por Antônio, amor perfeito como minha mãe chamava, lembro muito bem dela cuidando com todo carinho aquelas flores lindas, o vermelho era o preferido dela
-"Oi!" Giovana falou ao entrar
-"Você precisa voltar o quanto antes, estamos todos muito doidos aqui" como se com minha presença vocês não fossem -"Vi a meia do Murilo e acho que ele te faz bem" ele me faz querer voltar a cada segundo, ao menos se eu soubesse como fazer isso -"ele faz qualquer dia ruim ficar bom, igual você" ela está chorando, odeio ver ela chorando, as lágrimas aumentaram quando ela começou a falar da mudança, Giovana é uma pessoa muito decidida, com objetivos na vida, tenho certeza que ela vai seguir seu plano mas fico terrivelmente triste com a ideia de não a ter mais ao meu lado -"Por favor me perdoa por isso, acredite que está sendo muito difícil para mim e para minha família" eu sei que está meu amor e espero algum dia entender como você consegue ser tão forte e não desistir nunca -"Eu te amo" ela falou limpando algumas lágrimas que restavam em seu rosto, me beijou no rosto e saiu do quarto
-"Eu te amo" sussurrei enquanto via ela sair, com seus cabelos levemente ondulados nas pontas
Jessica trouxe mais uma vez Murilo aqui, meu coração está apertado, deve ser a saudade que sinto de estar perto de todos eles, poder conversar, abraçar, beijar, estar realmente presente, o que me resta é esperar os dias passarem e torcer para que meu corpo se recupere daquele acidente
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Pequeno Tesouro Continuação
RomanceA vida de Henrique e Giovana é no mínimo complicada, depois do acidente dele será que a vida deles seguirá?