Giovana
Passamos o sábado todo no shopping, Pedro jogou todas as partidas possíveis das máquinas na área infantil, correu contra cada um de nós no kart e venceu todas as vezes, comeu em quase todas as lanchonetes que há na praça de alimentação, pulando os restaurantes é claro e por fim olhou pelo menos três filmes no cinema, provando todos os sabores de pipoca, agora estamos saindo do local, quase meia noite do dia dezoito de maio, um típico sábado a noite onde há muitas pessoas na rua, algumas sóbrias e outras nem tanto
-"Oi" ouço uma voz familiar atrás de mim, quando me viro vejo Marcelo com seu sorriso encantador
-"Oi" respondo e retribuo o beijo que ele dá na minha bochecha, Pedro sai do meu lado e vai para perto de sua mãe
-"Tudo bem?" ele indaga
-"Sim e com você?"
-"Também! Você quer dar uma volta? Estamos com alguns amigos da faculdade ali no bar" ele aponta ligeiramente para o lugar
-"Hoje não, obrigada pelo convite" o recuso, hoje não estou muito bem para tentar me divertir
-"Tudo bem! Me avise quando resolver aceitar" ele me entrega um papel do estacionamento vencido e depois viro vendo números rabiscados no verso
-"Planejou?" indago quando ele estava se distanciando
-"Te vi quando virou no corredor" ele sorri e volta para o bar que fica a poucos metros de onde estou, encontro minha família que se distanciou um pouco para nos dar privacidade pelo que parece
-"Quem é ele?" Pedro pergunta quando os encontro
-"Meu amigo" respondo guardando o papel no bolso para não correr o risco de perder
-"Parece legal" Gabi me olha mas não consigo decifrar sua expressão
-"Ele é!" sorri
-"Ele vai ficar no lugar do Henrique?" Pedro tem um olhar triste quando me pergunta
-"Ninguém vai ficar no lugar dele" respondo o pegando no colo
-"Acha que ele vai acordar?"
-"Torço por isso!" respondo beijando sua pequena bochecha
-"Eu também!" ele diz e uma onda momentânea de dor atravessa meu corpo, nas últimas semanas lutei para tentar esquecer essa situação mas meu coração tem ele enraizado, lembro da primeira vez que ele entrou na sala de aula, atrasado como sempre, com aqueles cabelos bagunçados e com um sorriso nervoso, lembro da primeira vez que ele tocou meu rosto e tudo de ruim que existia foi drenado do meu corpo, lembro do nosso primeiro beijo e o crescente arder no meu peito, ele é a pessoa que me faz bem e me faz sorrir mesmo nos piores dias. Estou empurrando todo o amor que sinto por ele para o lado, minha razão está me mantendo aqui para estudar e continuar já as minhas emoções me levam a ele, naquela cama de hospital, falando para ele acordar e voltar para minha vida mesmo sabendo que isso é inútil e que em poucos dias ele vai morrer
-"Gi!" Gabi me desperta
-"Oi" respondo percebendo que já estamos na casa dos meus pais, minha vida está exatamente assim, no automático
-"Vamos!" ela sorri abrindo a porta do carro
-"Sim" saio dali e passo o restante do dia pensando, até que chega a hora de voltar para meu apartamento
Estamos no dia trinta e um de maio, a sexta feira chegou com frio, meu celular marca treze graus e lá fora está nublado, anunciando que logo a chuva prevista irá cair, a loja está com um bom movimento até agora, consigo arrecadar uma boa comissão todos os dias
-"Gi, pode atender ele?" Priscila fala, olho para onde ela olhou e encontro Marcelo
-"Oi" falo quando chego perto dele
-"Oi, prometo que não estou te seguindo" ele sorri
-"Fica difícil acreditar nisso" o provoco
-"Você sumiu e não me mandou mensagem"
-"Desculpa, estava muito ocupada" realmente estava, as provas praticamente na mesma semana deixam qualquer um pirado, Luana me ajudou muito a estudar a noite
-"Entendo! O semestre se encaminha para o final e nos deixa doido" ele sorri
-"Sim, que bom que você me entende"
-"Com certeza"
-"O que está precisando hoje?" indago, sinto meu celular vibrar no bolso da minha calça mas agora não posso ver
-"Preciso de uma calculadora nova, folhas de desenho e alguns lápis" ele responde olhando para seu celular
-"Precisou anotar?" tenho que sorrir de seu gesto
-"Sim, esqueço muito rápido as coisas" enquanto ele fala meu celular toca mais uma vez, quem será que quer tanto falar comigo
-"Não posso te julgar, faço o mesmo" sorrio lembrando da minha agenda recente -"Vem! Te mostro onde estão as coisas que precisa" entre risadas que ele me proporciona e mais três ligações termino de o atender e ele se despede, olho para meu celular e tem pelo menos dez ligações da minha mãe, vou para um lugar mais calmo e retorno a ligação
*Oi* ela fala sem muito fôlego
*Oi mãe, estava atendendo, aconteceu alguma coisa?*
*Sim! Seu pai passou mal no trabalho, estou chegando no hospital, você quer vim aqui?* sua voz é de desespero e me causa muita preocupação
*Sim eu já estou indo, me manda a localização por mensagem* depois de desligar a ligação preciso para e respirar fundo, meu pai tem se estressado muito no novo cargo dele, o que pode ter acontecido?
Peço para Cláudia para que possa sair e recuperar essas horas depois, minha mãe me mandou a localização e já estou a caminho, fico pensando em muitas coisas ruins, coisas que não deveriam passar pela minha cabeça agora mas os flashes de pensamento são fortes e consistentes, falo com a recepcionista do hospital e subi dois degraus por vez até o quarto que meu pai está internado, se ele está no quarto deve estar melhor, isso tem que ser uma boa notícia
-"Oi" chego quase sem conseguir respirar de tão rápido que subi
-"Oi filha" ele sorri para mim e abre os dois braços para me envolver em seu abraço confortável
-"O que aconteceu?" pergunto olhando para ele e para minha mãe
-"Ele teve um infarto" ela diz e meu coração se aperta
-"Pai!" sem qualquer reação essas são as letras que saem da minha boca
-"Eu sei!" ele afaga meus cabelos na tentativa de me acalmar
-"O que o médico disse?" pergunto
-"Que ele tem se estressado muito, que a alimentação dele tem que melhorar e os exercícios físicos devem ser regulares" ela fala olhando para ele
-"Já combinamos que vamos para a academia e a nutricionista" ele olha para ela enquanto fala
-"Tudo bem! Vamos fazer isso todos juntos, quando sair daqui vamos começar e você não vai me dizer não" falo quase o ameaçando, o meu medo está tomando conta do meu corpo, não quero e não preciso perder mais um pessoa na minha vida
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Pequeno Tesouro Continuação
RomanceA vida de Henrique e Giovana é no mínimo complicada, depois do acidente dele será que a vida deles seguirá?