XXIX

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A porta foi aberta devagar, revelando aos poucos os longos cabelos vermelhos da pessoa que me esperava atrás dela.

A maneira como eu imaginei que tudo fosse acontecer caiu por terra. Eu havia imaginado que chegaria, abraçaria Marinette, a beijaria e então nós voltaríamos para Paris e tudo acabaria bem.

Mas ao chegar ali eu percebi que as coisas não seriam assim tão simples. Chloé, que havia aberto a porta para mim, me olhava com um sorriso leve, mas ainda escondia um toque de divertimento e até deboche.

— Eu sabia que você viria... — Falou dando passagem para mim. — Fica a vontade, a casa é do seu irmão mesmo.

Eu entrei meio receoso. O apartamento era grande, não era cheio de coisas e luxos considerados fúteis. Tinha um ar moderno e que o fazia lembrar uma mistura de recepção de museu de arte moderna com uma biblioteca, já que uma das paredes era inteiramente coberta por uma estante de livros. A parede oposta à porta era inteira de vidro e havia corredores dos dois lados, dando a impressão de que a sala ficava no meio do apartamento.

A parede oposta à "parede estante" tinha uma televisão de tela plana, não muito opulenta, que ficava de frente a um sofá de veludo marfim, esse sim, bem grande.

Haviam milhares de fotos espalhadas pela parede em que ficava a TV. Pude ver várias fotos dos integrantes da casa: Félix, que mesmo nas fotos exalava mal humor, uma garota extremamente parecida com Marinette, mas que conseguia ter um sorriso maior e uma carinha de criança, que pela descrição parecia ser a noiva de meu irmão, a própria Marinette em seus vários dias de glória como estudante de Direito e umas três fotos que me chocaram.

A primeira era a mais esperada, Marinette e Bridgette posavam ao lado de um Harry sorridente. A segunda me assustou um pouco, a foto era de Chloé — ainda loira ­—, junto com eles e a terceira foi a que me fez virar para Chloé completamente confuso, a foto havia sido tirada no mesmo lugar, que parecia um parque, e no mesmo dia, levando em consideração as roupas, mas o interessante daquela foto era Chloé e Harry de mãos dadas.

Olhei espantado para Chloé, certeza que meus olhos estavam arregalados e minha boca aberta. Ela estava sentada no sofá, com as mão na acariciando barriga e rindo da minha cara sem a menor vergonha.

— É melhor sentar. Eu vou chamar os outros e aí explicamos tudo para você. — Ela disse se levantando e eu achei melhor fazer o que ela havia dito. Me sentei no enorme e macio sofá e me deixei afundar enquanto ela seguia por um dos corredores.

Ouvi uma agitação de vozes e alguns barulhos de panelas batendo. Assim que ela apareceu eu me levantei, achando que fosse finalmente Marinette, mas ela era pequena de mais, infantil demais e, devo dizer, magra demais, Bridgette sorriu para mim como se eu fosse seu amigo de infância, e naquele momento eu senti que ela era o par perfeito de meu irmão.

— Boa noite Adrien, é um prazer finalmente conhecê-lo. — Ela falou se aproximando e abrindo os braços. — Bem vindo e sinta-se em casa, sei que deve estar confuso, não é?

— É... bem... eu...

— Mas eu agradeceria se viesse comigo, imaginamos que estivesse com fome, já que para você, já devem ser nove horas da noite. — Ela me cortou com a voz gentil. Mas era verdade, eu havia ignorado totalmente o fato de ter voltado uma hora com a diferença de fuso horário.

Soltei um suspiro leve. Ninguém me explicaria nada antes que eu fizesse o que eles queriam, além de a minha barriga estar roncando.

— Tudo bem, — concordei e a segui pelo mesmo corredor que Chloé havia ido, descobrindo novas partes do apartamento.

— Aqui fica o lavabo, — Bridgette informou notando meu olhar curioso, — estamos a caminho da cozinha e os quartos são do outro lado da sala. O dos fundos é meu e de Félix, o do lado ao nosso é o da Mari e a primeira porta é o de Harry e Chloé.

— É, Bridgette...

— Bridge. — Ela me corrigiu. — Pode falar.

— O que está acontecendo?

— Você já vai descobrir tudo. — Falou abrindo a porta no final do corredor.

Demos de cara com uma mesa de vidro de seis cadeiras. Chloé estava sentada na cadeira da beirada e Harry estava de pé atrás dela, fazendo massagem em suas costas. Eles conversavam animadamente com Félix e Marinette, que pareciam preparar alguma coisa na grande pia de mármore que ficava nos fundos da copa, como se fosse uma comodo separado, copa e cozinha.

Assim que me viu, Marinette largou o que estava fazendo, o que fez ela receber um chingo de reprovação de meu irmão, e correu até mim.

— Você veio mesmo! — Ela me abraçou forte e finalmente o meu sonho estava se realizando. Passei meus braços envolta dela, ignorando toda a bagunça do resto do lugar e me concentrei em seu cheiro de rosas. Passei meus dedos em seus cabelos e puxei sua nuca, unidos nossos lábios num beijo doce e saudoso.

Ouvimos um som de pigarros e percebemos que estávamos daquele jeito a um tempinho.

— "Odeio" ter de interromper essa demonstração gratuita de afeto na minha cozinha, mas o Coq au vin está esfriando e se não vierem logo não vão ganhar sobremesa.

Coq au vin? — Eu sabia que havia sentido o cheiro de frango, bacon e vinho tinto. Era um prato que minha mãe costumava fazer para nós, mesmo meu pai dizendo que ela não precisava cozinhar, e que Mari passou a fazer para nós em datas especiais.

— Sim gatinho, pensamos que você fosse precisar de uma comida reconfortante depois de fugir do casamento. Alya me ligou e contou a bagunça que foi...

— E eu também adoro esse prato, — meu irmão completou, — mas para você se sentir melhor, a Mari e a Bridge fizeram croissants.

Meu sorriso alargou ainda mais. Marinette me puxou pela mão e nos sentamos uma ao lado do outro da mesa, de frente para Chloé e Harry. Félix e Bridge sentaram cada um em uma ponta.

Todos começaram a se servir e eu acompanhei, minha barriga não me deixaria pensar em outra coisa no momento, pelo menos não até a mestiça do meu lado começar a falar.

— Então Adrien, acho que está na hora de você entender tudo o que está acontecendo... — Enfiei o pedaço de frango na boca e olhei para ela com toda minha atenção. — A verdade é que tanto eu, quanto Félix e Harry não fomo para Paris a toa...

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