Uma manhã de segunda-feira como todas as outras. E tal como as anteriores, a impressão era de que o dia chegava mais devagar que no resto da semana. A verdade era que quase todas as pessoas acordavam mais preguiçosas no início da semana. Fazia sentido, dois dias de descanso nem sempre eram suficientes para repor as energias.
Essa malemolência não existia na oficina mecânica que tinha acabado de abrir naquele dia. Ela funcionava em um galpão extenso, situada no meio de duas casas, no meio de um quarteirão, em um bairro pacato de Belo Horizonte. O clima, como de costume, estava ameno, com céu ensolarado e algumas nuvens.
O grande portão de ferro do lugar estava aberto. E da rua, era possível ver os quatro carros que estavam dentro. Dois deles, à direita, colocados em elevadores automotivos, estavam cobertos com lona. Os outros dois, à esquerda, estavam descobertos. Mas só o da frente estava pronto para sair de lá.
Antes que o proprietário do Corsa 2001 prata viesse buscá-lo, o dono da oficina passava um pano seco na lataria recém-polida. O automóvel passou por uma revisão preventiva, e já estava prontinho para seguir viagem. Mais uma vez, Rubens Fonseca concluiu mais um ótimo trabalho após horas de suor gasto.
Os anos de dedicação à frente daquele lugar, no qual tocava sozinho, fez com que ele se tornasse o mecânico maior confiança no bairro. Quando alguém da vizinhança ou de lugares próximos tinham problemas com seus carros, sabiam que o melhor era passar na Oficina do Rubão que ele resolveria o problema.
E era como Rubão que todos lhe chamavam. Um apelido que fazia jus à pessoa, sobretudo fisicamente. Pois além de alto, ele era forte e musculoso. Braços grandes com mãos grossas e calejadas, que naquela manhã não demorariam muito para ficarem sujos de graxa. Assim como o uniforme preto e vermelho que usava junto com um jeans azul surrado.
Seu visual também chamava a atenção por onde passava. Além dos olhos cor de mel, seus longos cabelos loiros estavam presos por um coque meio desajeitado acima da cabeça. A vasta barba também era loira, mas com alguns fios brancos. Com trinta e cinco anos de idade, Rubão era um homem no auge de sua virilidade.
A palavra "preguiça" não existia em seu dicionário. Mal começava o trabalho e logo colocava a mão na massa. Em sua oficina, prestava os serviços de mecânica, funilaria e pintura. Ele não desanimava e nem se cansava por ter que fazer tantas coisas. Pelo contrário, tudo aquilo o deixava muito feliz.
Sua satisfação era nítida, inclusive naquele momento em que passava pano no carro. Foi quando o dono dele apareceu entrou na oficina para pegá-lo. Um senhor calvo, magro e baixinho que veio bem na hora combinada.
— Cheguei em boa hora. — Disse o homem.
— Chegou sim, tá prontinho seu carro. — Rubão sorriu fraco.
O mecânico colocou o pano nos ombros e se aproximou para cumprimentar o senhor. Ele era um dos clientes mais tradicionais de sua oficina. Sempre procurava Rubão quando precisava dar uma revisão no carro.
— Olha, eu precisei dar uma alinhada básica nos pneus e trocar as velas. Mas foi tudo tranquilo.
— Ah, que ótimo. Com a viagem que eu vou fazer semana que vem, preciso dessa belezinha nos trinques.
— Já está nos trinques. Eu garanto.
Rubão tirou do bolso a chave do carro e entregou para o dono, que abriu a porta e entrou no veículo.
— E aí? — O mecânico chamou a atenção — E as novidades?
— Ah, comigo é o mesmo de sempre. Mas meu filho conseguiu um emprego novo.
— É mesmo? Que legal.
— Ele agora faz parte da produção dos eventos da BRAFI. Aquela organização de lutadores, sabe?
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Alfa(s)
RomanceA física costuma dizer que "os opostos se atraem" e "que os iguais se repelem". A ficção quase sempre reitera essa tese, que acaba virando regra para a vida real. A atração de opostos não aconteceu para Enrico e Rubens. Até porque de opostos ele nã...