Um cômodo extenso de paredes brancas com um longo espelho na janela, as luzes estavam acesas porque a pequena janela não iluminava muito naquela tarde de terça-feira. Assim era a parte dos fundos da academia, reservada para lutas, onde apenas três homens estavam nela. Não havia outro lugar que Enrico deveria estar que não fosse aquele.
Os ventiladores ligados do lugar não impediam que ele suasse muito. Afinal, desde que pôs os pés naquele tatame azul, não parou por um segundo. Seu treino era muito exaustivo, e continuaria pelos próximos três dias seguintes. Faltava pouco para sua luta no octógono, e todo foco era fundamental.
Naquele momento, centro do tatame, treinava todos os seus golpesm tentando superar a própria velocidade nos movimentos. Vestindo apenas uma bermuda preta, e com dreads presos, o suor não parava de escorrer em seu pescoço e torax. Seu corpo grande e musculoso brilhava contra a luz, principalmente seu volumoso peitoral.
À sua frente, estava outro homem. Da mesma altura, pele parda, cabelos pretos e barba mal feita. Vestindo roupas pretas, este rapaz usava grandes aparadores vermelhos em seus antebraços. Que nada mais eram que objetos retangulares e acolchoados que recebiam toda a carga dos golpes de Enrico.
O lutador mirava esses aparadores e desferia seus socos e pontapés. Ele era rápido e o rapaz a sua frente também tinha que ser. Tudo fazia parte do treino que estava sendo acompanhado atentamente por Barney que olhava tudo de braços cruzados em um canto do tatame.
Parado, o treinador observava muito mais que o movimento. Prestava atenção principalmente para o fato de que seu lutador parecia não estar tão focado quanto deveria. Os golpes dele estavam mais fracos que de costume, seus reflexos um pouco mais lento. Até o olhar estava meio distante.
— Pode parar, pode parar. — Ordenou Barney interrompendo o treino.
Os dois pararam na hora. Enrico não entendeu muito bem o que estava acontecendo mas o treinador sabia que não dava para continuar daquele jeito. Este, ajeitou sua regata preta justa e se aproximou deles.
— Que negócio é esse que você tá fazendo, Enrico? Tá querendo dançar com o rapaz? — Ironizou sisudo.
— O que? — Perguntou Enrico respirando ofegante.
— Tá com a cabeça em Júpiter, não sabe o que tá fazendo. Você nunca foi desse jeito.
— Eu tô normal. — Negou — Mas pode ser que eu esteja distraído um pouco.
— Esse pouco custa caro, esqueceu? Não dá pra ficar dando bobeira justo agora.
— Sei disso. Prometo que eu vou focar pra valer, e parar de ficar preocupado com o resto. — Afirmou colocando a mão na cintura e respirando fundo.
Barney olhou para seu lutador e percebeu que ele não estava em seu clima normal. Precisava dar uma pausa naquele treino todo.
— Ô Fael, pode descansar um pouco. Vai lá beber uma água que depois te chamo.
Chamou a atenção do rapaz com os aparadores, que assentiu.
— Fala. Que tá pegando? É com o furgão?
— É, e não é ao mesmo tempo. — Respondeu tirando as luvas.
— Como assim? Você não disse que já pegou seu furgão de volta ontem?
— É, sim, claro... Na verdade é por causa de uma outra coisa.
— Fala logo.
— O mecânico que você me indicou. Fiquei sabendo que ele... ele é gay.
— E daí?
— Daí que eu achei curioso. Tipo... um cara gay ser mecânico assim daquele jeito.
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Alfa(s)
RomanceA física costuma dizer que "os opostos se atraem" e "que os iguais se repelem". A ficção quase sempre reitera essa tese, que acaba virando regra para a vida real. A atração de opostos não aconteceu para Enrico e Rubens. Até porque de opostos ele nã...