Nem Tudo é Acaso

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Independente de tudo, nada mais justo que aproveitar o final de semana. Uma semana depois que Rubão recebeu a pequena ajuda de Enrico. À mais ou menos umas vinte horas, o falatório no bar só não era mais alto que o som do televisor na parede que, óbviamente, exibia futebol. Era um dos lugares mais frequentados e mais vistosos do bairro com sua decoração levemente vintage e intimista. Cujo público geralmente ficava na faixa dos trinta anos de idade.

Em uma das mesas de madeira sem forro - tal como todas as outras do recinto. Um grupo de cinco homens estavam sentados e bebendo. As vezes alguns dos lutadores do BRAFI, sobretudo aqueles que eram supervisionados pelo mesmo treinador, se reuniam em dias de folga.

Do grupo, Enrico era o único com um copo de suco em mãos. Ele não gostava de ingerir álcool, apesar de às vezes ter que trabalhar com elas em seu furgão. E por isso era frequentemente motivo de gozações vindas de conhecidos, o que não o irritava. Como lutador, sabia como levar na esportiva todas as provocações comuns no meio, e provocar quando necessário. Conhecia bem como eram seus amigos, como os que estavam na mesa com ele.

MauMau era o homem sentado à sua esquerda. Moreno quase calvo, de rosto quadrado, usava uma regata branca surrada evidenciando seu corpo parrudo e tatuagens nos braços. O mais velho do grupo e meio sem noção. À esquerda de MauMau, Romário era quase o oposto. Mais magro e mais novo, pele bronzeada, cabelos pretos, cavanhaque. Vestia de maneira simples com uma camiseta azul e calça jeans. O jeito de galã era quebrado com sua leve falta de modos, mesmo não agindo assim por mal.

Ferrugem, à direita de Enrico, era mais contido e intimidador. Ele era careca e ostentava uma farta barba ruiva. Enorme e branquelo, um nórdico de Barbacena. Vestia uma regata cinza e uma bermuda bege pois não era toda roupa que cabia nele. À direita do grandão, estava sentado o Vlad. Um homem negro, careca e com uma barba curta e grossa e que estava de calça e camisa pretas. Ele era mais tranquilo, com quem mais Damasceno concordava. O mais sensato do grupo.

Entre conversas e piadas, Enrico mais escutava do que falava. Ele vestia uma camiseta cinza claro com uma calça preta levemente justa e tênis igualmente pretos. Seus dreads estavam presos em um coque propositalmente desalinhado. O papo, no momento, era um só: a reprovação ao que acontecia dentro da organização de luta.

- Eles estão sendo filhos da puta, qual a novidade? - Indagou Romário.

- Porra, Só faltava eles nos vigiarem até na hora de cagar. - Protestou MauMau em voz alta, sua dicção não era muito boa.

- Mas se formos reclamar, no dia seguinte eles já te boicotam.- Comentou Enrico.

- Sei que não é legal ficar reclamando, mas acho chato a maneira como eles nos tratam as vezes. - Disse Ferrugem com seu sotaque mineiro forte.

- É verdade. - Romário concordou - Querendo ou não, foi a BRAFI que deu essa primeira oportunidade pra gente, não é?

- Isso não dá o direito deles fazerem essas coisas. - Indagou MauMau.

- O pior é que eles sempre foram rígidos, mas não tanto quanto agora. - Disse Vlad

- Eles sabem que tem um monte de lutador querendo entrar na organização. - Respondeu Enrico - Sai um de nós, vem cem querendo o lugar.

- Isso aí, certeza, é por causa da mudança na diretoria. - Comentou Vlad - Um monte de nariz em pé que quer lucrar a todo custo. O Barney, inclusive, falou que é pode ter mudança no estatuto.

Eles lembravam do treinador, que não estava no presente momento. Barney tinha sua vida pessoal, com sua família e sua esposa. Então não podia ficar curtindo sozinho sempre.

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