A claridade da manhã poderia ser mais forte, que Rubão não acordaria. Ele tinha o costume de despertar cedo, quase sempre. Sua rotina era praticamente militar. Mas quando dormia, era para valer, Seu sono conseguia ser mais pesado que seu físico robusto e corpulento.
Deveria estar fazendo umas oito horas da manhã quando abriu os olhos pela primeira vez no dia. Seu corpo e sua mente demorariam um pouco para ficarem ligados completamente. Movimentando-se lentamente, nu, na própria cama, voltava à própria realidade ao mesmo tempo em que notava estar sozinho no quarto.
Olhava para os lados, acreditava Enrico deveria estar junto a ti ao acordar, mas não estava. Nem ele, nem qualquer indício de sua presença. Era como se o que viveu na noite passada não passasse de um simples delírio. Sabia que tudo foi real, só pelo conforto em seu coração. E isso o deixou aborrecido.
Não tinha como sentir-se diferente, Enrico simplesmente foi embora sem se despedir, sem um aviso, como se não tivesse feito nada demais. O mecânico ficou frustrado, principalmente por não ser a primeira vez que aconteceu isso com ele. Custava a acreditar que o lutador fosse mais um a agir assim.
De qualquer forma, não havia muito o que dizer ou pensar. Havia acordado, era de manhã e estava pelado. Precisava se levantar para mais um dia na oficina, principalmente depois de ter fechado mais cedo no dia anterior. E foi o que fez: saiu da cama, pegou uma cueca no guarda-roupa e depois vestiu a bermuda que estava jogada no chão.
Saiu do quarto sem camisa e descalço mesmo. Pegando apenas um elástico que estava na cômoda e prendendo o cabelo em um coque bem desajeitado. Quando chegou na cozinha, sua mãe estava tomando o seu café da manhã, sentada na mesa, segurando sua xícara com a maior calma.
— Já acordou, filho? Tá cedo.
— Cedo nada. Acho que tô até atrasado. — Disse enquanto se pegava sua caneca.
Dona Rosa olhava para o filho, que se sentava na mesa e colocava o café da garrafa térmica em sua xícara. Ele bebeu o líquido de imediato. Depois, pegou um pão e o cortou, dando generosas passadas de margarina em seguida. O homem fazia tudo de uma maneira muito apressada, estava mesmo com fome. E a mãe, lógico, sabia que havia algo de diferente nele.
— O pão não vai fugir Rubens. — Riu fraco — Calma.
— Eu tô calmo, só tô com fome mesmo.
— Cê já tem uma fome de leão. E quando dorme muito assim, fica com uma fome de rinoceronte. Te conheço muito bem.
Rubão ignorou o comentário e abocanhou seu pão. Era típico de sua mãe esses comentários, principalmente durante as refeições. Então sabia que o melhor era ficar quieto.
— Sabe que fazia tempo que cê acordava tarde assim durante a semana? — Riu fraco novamente — Ainda mais que cê insiste em acordar com as galinhas.
— É, acho que eu aproveitei que a senhora saiu pra dormir mais um pouco. Foi bom o baile ontem?
— O de sempre. Mas acho que a noite foi melhor pra você do que pra mim. — Comentou e bebeu seu café.
— É mesmo, é? — Perguntou de boca cheia.
— Sim, tô te sentindo meio diferente hoje. Fazendo coisas que não costuma fazer, tipo acordar mais tarde.
— As pessoas fazem coisas diferentes às vezes.
— Cê nunca foi de trazer homem pro seu quarto.
O comentário fez o homenzarrão congelar, parou até de comer. Olhava estupefato para a mãe, e ela olhava para ele como se não tivesse dito nada de anormal. E para a senhora, não era nada estranho falar aquilo.
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Alfa(s)
RomanceA física costuma dizer que "os opostos se atraem" e "que os iguais se repelem". A ficção quase sempre reitera essa tese, que acaba virando regra para a vida real. A atração de opostos não aconteceu para Enrico e Rubens. Até porque de opostos ele nã...