Pouco a pouco, Enrico normalizava sua própria respiração que estava ofegante após sair no braço com os marginais. Ainda estava difícil de acreditar que Rubão estava à sua frente e ainda ter ajudado-o na briga. Os dois, sérios, entreolharam-se sem saber o que falar. A situação também não facilitava.
— Pensei que você não gostasse de lutar. — Indagou Enrico, a primeira frase que lhe veio a cabeça.
— Eu não gosto. Não disse que não sabia. — Respondeu sóbrio.
— Tá... mas... o que você tá fazendo aqui?
— Tava indo ver minha irmã e parei aqui perto pra pegar uma coisa no porta malas. Aí eu acabei vendo os idiotas batendo no menino.
Após dar sua resposta, Rubão foi até o garoto mencionado, que estava sujo, machucado e com sangue escorrendo pelo nariz. Ainda completamente amedrontado e abalado, estava sentado na sarjeta sem se levantar. Ele tinha se afastado dos vândalos, rastejando-se pelo chão, após Enrico chegar e lutar com eles. Chorando, torcia para aquilo tudo acabar.
— Vem. — Disse o mecânico levantando o menino — Eles já foram embora.
— Obrigado. — Respondeu o rapaz tentando conter o choramingo — Achava que eu iria morrer. Foi tão de repente.
— São uns covardes, idiotas. Só batem em quem é menor que eles.
— Por que o mundo precisa ser tão cruel? Bateram em mim só por eu ser gay. Eu não posso andar na rua que eu apanho?
— Tem muita gente que faz essas coisas, infelizmente. Mas você não pode ter medo delas. Tem que aprender a se defender dessas coisas.
— É verdade. — Enrico pronunciou-se, meio sem jeito — Já passei tanto por isso na rua quando era mais novo. Você tem que ser forte agora.
— É... acho que tem razão.
— Mas agora você não precisa pensar nisso. — Disse Rubão enquanto ajudava o menino a se recompor — Eu te levo pro hospital e depois pra delegacia. Tem que fazer um B. O. .
— Preciso mesmo ir pra polícia? — O menino perguntou.
— Sim. Se não denunciar, esses filhos da puta vão continuar fazendo isso com outros garotos. Não se esquece que agora homofobia é crime.
— Tá... — Balbuciou — Eu vou.
— Vai na frente. Minha caminhonete tá ali no outro quarteirão virando a esquina. Se acontecer alguma coisa, você grita.
O menino concordou e foi andando vagarosamente, mancando um pouco. Rubão sentia seu coração cortado ao ver inocentes sendo vítimas de intolerância. Homofobia era algo que lhe causava repulsa. Sua vontade era de acompanhar o garoto, mas ficou porque sentiu que Enrico queria falar algo com ele. Sua postura estática e semblante surpreso deixavam isso bem claro.
— Eu escutei uns gritos e vim pra cá ver. — Disse Enrico — Os dois babacas tavam batendo no menino aí eu não consegui me controlar.
— Também não consegui. — Respondeu Rubão virando-se para ele — Fico com raiva quando vejo gente fazendo essas coisas. Eu pelo menos posso me defender, mas esses garotos...
— Sempre vão atrás dos mais fracos. Sei bem.
— É... Mas agora já tá tudo bem, então eu vou indo. — Disse quase dando meia volta.
— Espera. — Pediu Enrico — Eu preciso falar uma coisa.
Era a pior hora para se ter qualquer tipo de conversa. Mas era a única que Enrico tinha para se resolver com Rubão de uma vez por todas.
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Alfa(s)
RomanceA física costuma dizer que "os opostos se atraem" e "que os iguais se repelem". A ficção quase sempre reitera essa tese, que acaba virando regra para a vida real. A atração de opostos não aconteceu para Enrico e Rubens. Até porque de opostos ele nã...