Quando chegou a segunda-feira, Rubão prontamente iniciou sua rotina de todo começo de manhã. Fez-se dois dias daquele ocorrido, tempo mais que suficiente para superar tudo e voltar à normalidade. Já uniformizado, abria o portão da própria casa para começar mais uma semana de trabalho. O que passou, passou. Simples assim.
Assim que chegou na calçada, pronto para atravessar a rua e abrir sua oficina ao lado, uma vizinha viu que ele saía e lhe chamou.
— Ei, Rubão! Espera!
Uma moça negra, alta e magra chamou pelo mecânico. Ela estava com seus cabelos presos no topo da cabeça e usava um blazer branco e segurando uma bolsa no ombro. Era a Doutora Bárbara, uma médica fisiologista, e também moradora da casa que quase foi invadida.
— Fiquei sabendo que uns bandidos tentaram entrar na minha casa no sábado. Fico muito agradecida pelo que fez.
— Fiz o que deveria ter sido feito.
— Deve ter sido muito perigoso sair assim pra enfrentar eles. Foi muito corajoso.
— Foi quase automático quando eu vi aquilo acontecendo. Já sabia o que fazer.
— Ah, eu entendo. Se não fosse pelos vizinhos eu nem ficava sabendo. Eu não estava em casa no sábado porque eu tive um dia cheio de compromissos de trabalho. Só voltei de madrugada.
— Capaz deles terem notado que não tinha ninguém.
— Vou te contar, viu? A gente não pode nem botar o pé na rua agora que já dá de cara com um bandido. Acho que daqui a pouco vou ter que sair armada.
— Não fala isso nem de brincadeira. Arma em excesso só traz tragédia.
— Você não gosta mesmo dessas coisas, né?
— Tenho meus motivos.
— Entendo. Só vim dizer que queria que tivesse alguma forma pra te agradecer pelo que fez.
— Não precisa agradecer. Já dizer que só fiz porque achei que era o certo. — Sorriu fraco.
— Tudo bem. Olha, eu adoraria estender nossa conversa, mas já tenho que ir pro meu consultório. A gente se fala outra hora, tchau.
— Tchau.
Os dois se despediram de uma maneira bem curta e cada um foi para seu lado. Enquanto a vizinha pegava seu carro, Rubão atravessou a rua e foi direto para sua oficina abrí-la. Nada do que ocorreria no final de semana poderia tirar sua disposição para mais um dia de expediente. No seu trabalho sempre tinha algum carro à espera para ser arrumado.
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A academia estava em pleno funcionamento naquele começo de tarde, e Enrico também. Desta vez, ele não estava nos fundos treinando seus golpes. Mas em um outro canto pulando corda velozmente. O que não mudava era sua disposição física e a intensidade do exercício. Seu corpo já suava muito.
Outra coisa que não mudava era o rigor de Barney, que estava por perto acompanhando o treino do pupilo com muita atenção. Era uma situação estranho para Enrico, sendo que ele fazia um treinamento duro mesmo que sua luta já tivesse ocorrido. Nem parecia que ele tinha vencido aquele combate.
— Pode descansar agora. — Barney ordenou.
— Esse treino é mesmo necessário? — Perguntou após parar de pular corda.
— Lógico que é. Cada pergunta...
— Pensei que, depois de sábado, eu merecia o descanso dos campeões.
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Alfa(s)
RomanceA física costuma dizer que "os opostos se atraem" e "que os iguais se repelem". A ficção quase sempre reitera essa tese, que acaba virando regra para a vida real. A atração de opostos não aconteceu para Enrico e Rubens. Até porque de opostos ele nã...