Inconveniência

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O efeito da endorfina sobre o corpo era muito bom. Por isso Rubão voltava da academia sempre com o humor melhorado. Era início de tarde e ainda havia muito o que se fazer. Puxar ferros não tirava a sua disposição de encarar o trabalho do resto do dia, muito pelo contrário.

O retorno não lhe dava nenhum trabalho. Primeiro, ele passava rapidamente em casa para se trocar e colocar sua roupa de trabalho. Em seguida, ia direto para a oficina, que convenientemente ficava exatamente em frente onde morava. O que era muito bom, pois quando precisava de algo, era só atravessar a rua.

E foi exatamente isso que Rubão fez. Assim que chegou perto do grande portão de ferro para abrí-lo, escutou por trás o barulho de uma buzina insistente. Virou-se rapidamente mas sequer se surpreendeu, havia um carro vermelho andando devagar na rua e se aproximando. Uma mão feminina saía para fora capturando a atenção do homem.

Deu um fraco riso com o jeito indiscreto — e literalmente familiar — da motorista, e logo terminou de abrir o portão. Assim que entrou na oficina, o carro também entrou, estacionou bem no centro do galpão. E sem cerimônias, a mulher saiu de dentro do veículo arrumando o cabelo e ajeitando o vestido.

Era uma mulher muito bonita e que realmente chamava a atenção. Usava um vestido curto e básico, verde escuro e estampado. Além de usar sapato salto alto fino. Seus cabelos loiros levemente ondulados e seus olhos amelados eram semelhantes aos do mecânico.

— Poxa, nem pra você ser cavalheiro com a sua irmã, Rubens. — Reclamou enquanto se aproximava dele.

— Já tô sendo cavalheiro te deixando entrar aqui com carro e tudo. Quer mais? — Riu fraco enquanto cruzava os braços.

Vanessa era a irmã gêmea de Rubão. Eles não tinham muitas semelhanças físicas além do cabelo e dos olhos, ele era mais alto que ela e ela era mais bonita que ele. As personalidades também eram diferentes, ela adorava falar e dar pitacos. Principalmente no que se referia à vida do irmão.

Depois de um breve abraço dos dois, ela deu um sorriso. Vanessa não era do tipo espalhafatosa mas não conseguia disfarçar quando estava agitada.

— Tava com saudade do meu irmão Viking favorito

Esse era o apelido que seguia Rubão por anos. Com a aparência que ele tinha, não havia outro mais apropriado.

— Fala como se nós não nos víssemos anteontem, né?

— É que eu tô com um problema no ar condicionado do meu carro. Sei lá, ele tá meio fraco esses dias.

— Sei... E eu aposto que não veio até aqui por causa do ar condicionado.

— Enquanto você vê o que tá acontecendo, eu aproveito pra ver a mãe, dar um beijo nela. O que tem demais nisso?

— Tá bom, vai. Posso dar uma olhada no seu ar. — Respondeu indo até o carro.

Sem perder tempo, Rubão ligou o carro e deu uma breve ligada no ar condicionado. Percebeu que o mesmo realmente não funcionava como deveria.

— Você lembra da última vez que você trocou o filtro de cabine? — Perguntou ele dentro do carro.

— Acha que eu vou ficar prestando atenção nessas coisas?

— Deveria. Esse filtro tem que trocar de seis em seis meses no mínimo. Principalmente você que anda de carro até pra ir na padaria.

— Lógico. Se eu tenho é pra usar, não é?

Rubão não respondeu, estava com a mente naquilo que estava fazendo. Quando desligou o carro, ajustou o banco para trás e se abaixou no assoalho. Assim que retirou a gaveta do porta-luvas, avistou o compartimento onde estava o filtro de ar. Ao tirá-lo, viu que o objeto já estava sujo de tanto uso.

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