Aurora Reyes
5de abril de 2018
Nova York—Poderia organizar por cor.—A voz melodiosa de minha avó se fez presente enquanto tudo que minhas mãos faziam era dobrar tecidos nas gavetas sem o resquício de pó.
—Por cor?—Arqueei a sobrancelha e dei um pequeno sorriso, a imagem reproduzida na tela do notebook me fazia sorrir. Os azulejos com desenhos me traziam a lembrança de casa, assim como o piso rústico e o barulho feito por minha mãe na cozinha.
A memória de estar em casa apertou em meu peito, mas não me importei. Estava em NYC, a cidade que eu havia sonhado por anos, agora dividindo apartamento com minhas duas melhores amigas. E acima de tudo; havia superado Ele.
—Claro querida, assim fica mais organizado.—A voz trêmula natural de vovó acabou me causando um riso, depositando outro vestido no cabide.
—Mais organizada do que ela já é? Mamãe, você já fez um ótimo trabalho.—Minha mãe piscou assim que se aproximou da câmera, parando ao lado da vovó e abrindo um sorriso reconfortante.—E como vai a faculdade?
—Você sabe..muita anatomia.—Apontei para a pilha de livros perfeitamente empilhada e dei um pequeno sorriso, prendendo meus cabelos novamente quando alcancei a última caixa.
—E Nova York? Muitos gatos?—Minha mãe forçou o tom descolado e uma gargalhada escapou por meus lábios, alcançando a tesoura e brincando entre meus dedos enquanto eu a encarava.—Aurora Reyes!
—Claro que não mãe, não tenho tempo para isso.—A tesoura foi de encontro com o papelão da caixa e evitei encarar as duas, já sabiam o que pensavam.
—Ou ainda pensa no australiano?—O sotaque forte de vovó se destacou e arqueei a sobrancelha, mordendo meus lábios e agradecendo por estar escondida pelos fios que soltavam do meu cabelo.
—Eu preciso desligar, morrendo de fome.—Apontei para meu corpo coberto pelo moletom e sorri, me despedindo com beijos e desligando antes de qualquer palavra.
Abri a caixa ainda com a cabeça cheia de pensamentos, todos me sufocando como se eu estivesse abaixo da água, no fundo de um mar profundo que era o coração Dele. Sentir sua falta era uma agonia sem fim.
Balancei a cabeça para que cada um desses pensamentos se afastassem e segurei o resto das roupas guardadas, levando até a gaveta vazia e suspirando ao encontrar aquela camiseta.
O cinza ainda era presente, mesmo que desgastado por estar escondido por todo esse tempo. A estampa das rosas parecia brilhar ao lembrar daquele simples verso. A camiseta de Luke, única lembrança que eu havia carregado daqueles bons meses com ele ao meu lado.
Assim que a porta se abriu, levei a mão até meu rosto e capturei as lágrimas, jogando a camiseta na última gaveta e sorrindo de forma inocente.
—Hey, tudo bem?—Alaska apareceu já preparada para aquela noite, usando um lindo vestido que destacava ainda mais sua beleza. Acenei em confirmação e dei de ombros.
—Você sabe, é a poeira. A Lia não comprou o aspirador.—Pensei na única boa desculpa e sorri, sabendo que ela me conhecia a ponto de saber; era um sorriso falso.
—Vai querer sair para beber com a gente? O Timmy vai.—A loira abriu um grande sorriso e neguei, apontando para a caixa com poucas roupas.
—Preciso terminar isso. Sabe como eu sou.—Um riso sem graça escapou por meus lábios e Alaska suspirou, deixando a porta e se aproximando em um abraço reconfortante onde escondi meu rosto em seu pescoço.
—Guardar roupas dele não vai te fazer superar.—A loira sussurrou e me apertei ainda mais contra ela, segurando o choro com todo orgulho que me restava.
—Eu superei.—Disse ao puxar o fôlego, me afastando e pegando a jaqueta de couro no fundo da caixa, sentindo seu perfume exalar e me atingir novamente.
—Claro que sim.—Ela riu e se virou assim que os saltos anunciaram Lia, tão linda quanto minha outra amiga que caçoou rapidamente.—Hey menina do aspirador.
—Que reunião de garotas é essa?—As sobrancelhas da mais baixa se arquearam e eu gargalhei, jogando a jaqueta no fundo do armário.—Vamos lá, já estamos atrasadas.
—Vão sem mim. Aproveitem o fato de que Alaska está querendo sair de casa!—Apontei e sorri de forma maldosa, alcançando meu cobertor preferido.—Vou ficar com a netflix.
—Vocês trocaram de personalidade? Alaska querendo sair e Aurora dormir? O mundo vai acabar.— A loira fez uma careta e empurrou a outra, sabendo que quando eu chegava a uma ideia nunca desistia dela.
Eu era assim com tudo, não seria diferente com Ele.
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Never Be • 5sos
Fanfiction"O destino geralmente é concebido como uma sucessão de acontecimentos relacionados a uma possível ordem cósmica. Portanto, segundo essa concepção, o destino conduz a vida de acordo com uma ordem natural, da qual nada que existe pode escapar." Ex nam...