16• misericordioso

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Achar Cecília foi a coisa mais fácil que já fiz em anos, ainda mais por ela estar tão perto de Verônica, isso me desestabilizou por um momento, saber que a mulher que vou matar está tão perto da que eu estou envolvido me causa um pouco de raiva, eu sei que Verônica tem fragmentos de quem sou, mas não consigo imaginar sem sentir uma espécie de medo o que ela pensaria ou o olhar que me daria se soubesse que hoje vou matar uma pessoa ou não. Como eu disse, não mato inocentes, pelo menos até que se prove o contrário.

Entro dentro da casa e me sento em uma cadeira no meio da sala esperando ela voltar. Com sua demora ainda consigo fumar um cigarro, dar uma boa limpada em minha arma e teclar algumas mensagens com V.

- Você demorou! - Seus olhos não demonstram nada, nós dois sabemos pra que eu vim.

- Eu sabia que aquele maldito não iria demorar pra te mandar atrás de mim. Ele quer a criança não é?

- O aviso foi claro da última vez que nos vimos, Cecília.

- Eu sei, me lembro muito bem de cada palavra dita por você.

- Podemos fazer isso do jeito fácil ou do jeito difícil. - Sorrio com escárnio e mostro minha arma pra ela. - Você escolhe!

- Ela é muito bonita Dominic, simpática, um pouco desconfiada, mesmo assim uma boa pessoa o que a torna quase um anjo perto de você, então me diga o que ela pensaria se tivesse agora mesmo ameaçando uma mãe solteira e indefesa do mesmo jeito que ela é?

- Sério que você vai tentar me atingir usando a Verônica? - Meu Deus, essa mulher é tão estúpida!

- Por que voltou, afinal, o aviso não foi claro o suficiente da última vez?

Cecília acaba vacilando um pouco e sua pose de quem não se importa com mais nada acaba caindo por um instante.

- Ela está doente Dominic, tenha piedade de mim, por favor!? Você sabe que naquele fim de mundo onde seu pai me enfiou não existe nem atendimento médico de qualidade e minha filha merece mais do que morrer no leito de um hospital por causa de dois adultos idiotas. Sei que seu pai me quer bem longe de vocês, entendo que nem se passa pela cabeça da sua mãe que seu querido e fiel marido teve um caso com uma outra mulher, um caso que gerou um fruto e se dentro desse seu corpo não houver nenhum resquício de bondade, então acabe logo com esse joguinho idiota e mate a mim e a minha filha, sua irmã!

Eu poderia mesmo, matar dois coelhos com uma cajadada só, a questão é que mesmo com uma alma podre dentro do meu corpo, não sou tão mau ao ponto de matar uma criança.

- Eu a levarei comigo! Não se preocupe, darei a sua filha todo o tratamento necessário para que continue viva, já você...

- Eu... quero fazer um último pedido! - A armadura de Cecília está de volta, talvez até mais inabalável que antes.

Em meio ao meu silêncio ela põe sobre a mesa seu desejo.

- Não quero que seu pai cuide de minha filha. Não quero que ele a assuma como uma maldita bastarda pois nós dois sabemos que é exatamente assim que ela será tratada por todos Dominic, mesmo que sua mãe seja a mulher mais genorosa desse mundo, sei perfeitamente como ela irá reagir com a possibilidade de ter que cuidar da consequência que uma traição do seu pai gerou, sei que não sou ninguém pra bancar Deus e querer traçar o futuro de alguém, mas assim como você está traçando o meu agora eu cuidarei para que o da minha filha seja digno. Vou entender se negar, mesmo assim eu preciso te pedir para que assuma minha princesinha como sua e de Verônica, se não quiser dentro do meu guarda-roupa escondido dentro de uma caixa vermelha vai encontrar uns papéis, falta apenas uma assinatura minha para que a guarda da minha filha seja entregue a um casal que não pode ter filhos, mas que vai cuidar e amar da forma que minha pequena Hope merece.

Engatilho a arma pronto pra atirar e algo em seus olhos me faz manter a arma travada.

Nós dois sabemos qual seria seu fim, uma bala no meio da testa e um caixão enterrado a sete palmos da terra. Não sou Deus, mas hoje eu deveria traçar o destino dessa vadia e mandá-la diretamente para o inferno. O decreto dela seria a morte.

- Eu serei o pai que Hope precisa Cecília, não se preocupa.

Como um ato misericordioso depois de pegar a pequena garotinha, deixo Cecília livre pra sumir ao mundo e nunca mais voltar, com a promessa de que caso um dia volte a se aproximar da menina, não teria por ela a mesma piedade novamente.

DOMINIC SANCHEZOnde histórias criam vida. Descubra agora