Capítulo Onze

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Hoje eu acordei me lembrando de acontecimentos passados. Mulher encontrada morta na reserva, Stiles um lobisomem, meu irmão de volta e, minha mãe...morta.

Quando pensei nela, pensei também em como esta casa estaria mais feliz com ela. Minha mãe era uma mulher muito alegre, nunca parava quieta, amava música, tocar instrumentos.

Eu herdei da minha mãe essa última parte mas, depois que ela e meu irmão sumiram, eu perdi a animação. Até tentei tocar meu piano, só que a dor era tão forte, que eu não aguentava e fechava a sala de música. Isso foi na minha antiga casa.

Saudade. É isso que ela deixou. Além de deixar três corações tristes, mamãe deixou saudades. Muita, muita saudade. Não pude deixar de chorar quando pensei nela. É inevitável.

Pensei que com o passar dos anos a dor iria diminuir, a mágoa iria embora e eu voltaria a ser feliz. Mas isso não aconteceu. Por que raios eu não consigo superar? Por que eu não consigo deixar meu passado para trás e simplesmente viver?

É porque ainda existem assuntos pendentes. Perguntas deixadas no ar, respostas não faladas, questões não resolvidas.

Mas agora, eu tenho meu irmão. Descobrir que ele está vivo, e morando a uma parede de distância de mim, me deixa muito mais feliz. Meu coração se alegrou novamente. Apesar da mamãe não estar aqui.

Esses são pensamentos que me assombram essa noite. Não planejo chamar Loreley para me consolar, essa é uma luta que devo lutar sozinha. Lutar contra meus pensamentos. E dormir em paz.

-- Que droga! -- murmuro e levanto da cama. Tem que ter alguma coisa nesse quarto que me ajude a me distrair.

Me lembro do livro que encontrei no porão. Busquei em minha memória onde foi que o coloquei. Ah, claro, no porão.

Cuidadosamente abri a porta do meu quarto, tentando não fazer absolutamente nenhum barulho. Mas é impossível. Até uma pena faz barulho quando cai, mesmo que este seja mínimo. Mas isso não me impede de ter esperanças de que ninguém me ouviu.

Abro a portinhola e desço para o andar subterrâneo mais conhecido como porão. Sem precisar de luzes, uso minha visão noturna para não tropeçar em nada, e acho o livro em cima da mesa, mas desta vez, fechado. Ash deve tê-lo fechado quando fez seu "tour" pela casa.

Pego o livro de capa dura e subo novamente para meu quarto. Sento na cama e o encaro, sem vontade nenhuma de ler. Deve ser só mais um daqueles livros sobre lendas de dragões. Deixo-o cair na cama bagunçada e me levanto novamente.

A lua está tão linda hoje.

Diante da janela observo o grande satélite no céu. Talvez sair e voar seja uma boa idéia. Sem hesitar troco minhas calças de moletom por calças skinny pretas, meu top por uma regata verde e uma jaqueta. Calcei meus coturnos e peguei duas adagas gêmeas, meu celular e fui bater na porta do meu irmão.

Sem resposta e tomada pela ansiedade, entro em seu quarto e o encontro com metade do corpo coberto pelo edredom e um cabelo completamente bagunçado. Ri baixinho com a cena e o balanço.

- Aslan, Aslan! - sussurro dando batidinhas em sua bochecha que não está sendo pressionada contra o travesseiro - Vamos voar! Aslan, Aslan.

Ele gruniu algo inaudível e virou para o outro lado.

- Vamos lá seu grandalhão, acorde! - sem me conter começo a dar risadas baixas - Vamos voar, vamos voar!

Ele se virou para mim e abriu os olhos.

- Voar? - eu sorri e assenti - Vamos!

Ele jogou o edredom para o lado e com um pulo levantou da cama, cambaleando foi até o closet. Me sentei em sua cama e senti os cobertores ainda quentes ao meu redor.

- Onde nós vamos? - ele perguntou assim que saiu do closet já vestido.

- Para a reserva de Beacon Hills. - Ele sorriu cúmplice para mim e eu sorri de volta. - Estou levando adagas, mas acho melhor você levar algo também.

- Pode deixar. - Ele pressionou sua argola da orelha direita e ela virou uma enorme e linda espada. - Carrego essa belezinha aqui sempre comigo.

- Uou! - ele transformou novamente a espada em argola - Agora vamos. Mas sem fazer barulho.

Ele concordou com a cabeça e saímos de casa, tomamos o máximo de cuidado possível para não acordar nosso pai e deixá-lo em alerta.

- Vem, é por aqui. - digo começando a andar - Não acho uma boa idéia pegar o carro. Pode acordar o senhor Simon e chamar atenção de pessoas curiosas.

- Concordo com você. É muito longe?

- Não, não. Até que não. - o observo. Ele agora é bem alto, e apesar de magro, ele tem massa muscular. Seus cabelos brancos balançam com o vento e seus olhos estão focados na estrada. - Você mudou tanto.

Ele me olhou com ternura, e me abraçou.

- Você também maninha. - me apertou em seus braços - Senti sua falta.

Sentindo meus olhos encherem de lágrimas, respondi:

- Eu também Ash, eu também.

***

Minutos depois chegamos na reserva. E quando achamos que estávamos em uma área "segura" para nos libertarmos, tiramos nossos casacos e ele tirou sua camisa, deixando suas asas se abrirem atrás de si. O vi sorrir e fechar os olhos.

Repeti o gesto e abri as minhas também, porém sem tirar a camisa.

- Tenho certeza que eu vôo mais rápido que você até aquela árvore. - apontei divertida para uma árvore que mal dava para ver daqui.

- Quer apostar, maninha? - ele sorri sacana para mim e eu estendo minha mão.

- Quero. Se eu perder, terei que pagar um jantar para você no restaurante mais caro de Beacon Hills. - seu sorriso se alargou, eu sei que ele ama comida e coisas caras - Mas, se você perder, terá que fazer sua matrícula e frequentar a escola comigo.

Seu olhar se tornou determinado e ele apertou minha mão.

- Fechado!

E foi assim que mais um dragão foi matriculado na escola de Beacon.

Não pude deixar de rir quando ele levantou vôo todo desengonçado e quase caiu duas vezes. Voar é como andar de bicicleta, se você aprende uma vez, nunca mais esquece. Porém, ficar sem pedalar por muito tempo te faz perder a prática e dificulta as coisas para você. Que foi o caso do Ash.

Mas mesmo assim eu prometi que pagaria um jantar para ele. Ele ficou tão triste quando a corrida acabou, que eu não aguentei e cedi. Mas ele agora terá que estudar comigo.

Sua sorte é que hoje é sexta, então ele só começará a estudar na segunda.

- E então, eu ultrapassei ele numa velocidade enorme! - digo para meu pai, que não consegue parar de rir pelo jeito que eu conto como venci a aposta.

- Isso é só porque eu estou há algum tempo sem voar. Se não você não teria chance! - diz Aslan que estava emburrado num canto da sala.

- Aham, sei. - respondo e rio, pegando minha mochila no sofá.

- Pai, me dá carona?

- Claro, Lo. Vamos Aslan. - sorri para os dois e entrei no carro,  eles entram logo em seguida.

Draco Glacies - TW | Derek HaleOnde histórias criam vida. Descubra agora