Capitulo Trinta e Dois

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Lorena Draconis

Depois de ter me achado, Duncan me levou à força para um carro e vendou meus olhos.

Tentei prestar atenção no caminho que ele fazia, contando cada curva, e me lembrando aonde deveríamos virar para sair da cidade. Porém com os olhos vendados ficou difícil me guiar. Consegui gravar apenas algumas curvas.

Direita, direita, reto, esquerda...

Desisti de prestar atenção nas próximas curvas, não adiantaria de nada me orientar numa possível fuga sendo que não memorizei como são as ruas que passamos.

- Já estamos chegando, em breve você conhecerá sua nova família. - riu sarcástico e eu engoli em seco.

Pouco tempo depois o carro parou. Escutei uma porta abrindo e fechando e depois fui puxada com brutalidade para fora do veículo. Mal consegui firmar os pés no chão e já estávamos caminhando. Duncan mantinha suas mãos firmes e asquerosas em meus braços, de forma que eu não conseguiria escapar. Além disso, em momento nenhum de nossa caminhada a venda foi tirada dos meus olhos.

Eu ouvi alguém conversando com o ser que me sequestrou, mas não conseguia diferenciar as palavras.

- Lorena. - me chamou com divertimento - Esta é a hora em que nos separamos. Vou tirar a venda dos seus olhos, mas lamento dizer que mesmo assim não exergará nada.

Fiquei confusa e a última coisa que senti antes de desmaiar, foi uma pancada na nuca.

Depois de certo tempo o nosso cérebro descarta muitas lembranças. Faz a gente esquecer de coisas menos importantes, ou que aconteceram há muitos anos atrás. Mas eu nunca esqueci do dia que minha mãe e meu irmão foram levados.

Nós estávamos em uma reserva em Manhattan, todo final de semana íamos lá para voos noturnos ou simplesmente para aproveitarmos nossa forma de dragão. Era quase uma tradição. Passávamos horas brincando e admirando as estrelas, voando e correndo e entre outras coisas divertidas.

Tínhamos um local específico onde sempre ficávamos na reserva. Era uma clareira rodeada por árvores frutíferas e enormes. O lugar era simplesmente lindo. Mas numa terça-feira o lugar virou chamas.

Estava tudo tranquilo, eu e meu irmão brincando, nossos pais conversando e a floresta ao nosso redor. Até que de repente homens com roupas escuras e armados nos surpreenderam com sua presença, eram muitos e meus pais lutaram bravamente enquanto eu e o Aslan derrubávamos alguns.

Dardos com um tipo de substância foram lançados e atingiram à mim, Ash e mamãe. Meus movimentos foram ficando mais lentos e eu não conseguia entender o quê estava acontecendo. Eu caí no chão e vi meu pai correr até mim desesperado. Sentindo um pouco do medo do meu irmão, olhei em sua direção e vi ele sendo apanhado por um brutamontes e perto dele minha mãe ia sendo arrastada por outro homem.

Não tinha forças para fazer mais nada, apaguei e no dia seguinte meu pai me contou que Aslan e minha mãe haviam sido levados e que agora seríamos só eu e ele.

Esse foi um lampejo de memória que eu tive assim que acordei numa cela. Se ainda restar um pouco do meu poder, Aslan terá visto mesmo que eu graças à nossa ligação de irmãos. Talvez ele junte as peças e descubra o que aconteceu comigo.

Me agarrei a esse fio de esperança e tentei me mover no chão gelado. Correntes em meus pulsos me impedem de ter pelo menos algum conforto nessa situação.

Olho ao meu redor tentando enxergar alguma coisa em meio ao breu. Sei que é uma cela porque um pequeno filete de luz atravessa grades grossas à minha frente. O cheiro é desagradável, cheiro de meias sujas e alguma coisa podre.

Me mexo puxando os braços numa tentativa falha de quebrar as correntes. Suspirei e tentei de novo, de novo, e de novo. Estou começando a entrar em desespero. Forço meus olhos na esperança de conseguir enxergar alguma coisa ou tentar usar minha visão noturna, mas falhei de novo.

Encosto frustrada na parede úmida e fria atrás de mim, esperando o momento em que alguém viria até mim fazer seja lá o que fosse que queriam fazer comigo.

Mas demorou. Demorou um bom tempo. Demorou bastante até que um homem com uma máscara entrou na cela. Quando direcionou seu olhar para mim, percebi que conhecia aqueles olhos. Não pessoalmente, nunca os vira. Mas me lembrei do sonho que tive há muito tempo atrás, quando cheguei em Beacon.

Não podia ser a mesma pessoa. Afinal de contas, nunca estive aqui.

Mas Aslan já esteve aqui.

Me lembrara do sonho novamente, as correntes, os olhos, a máscara. Eram todos familiares.

A figura mascarada sorriu para mim, e soube que era um homem pela sua voz baixa e rouca.

- Seja bem vinda á sua nova casa. - disse com sarcasmo. Se aproximou e agachou em minha frente. - Nunca pensei que realmente poderia ver a irmã do nosso tão querido dragãozinho de gelo.

Na hora minha teoria foi confirmada. O sonho fora um lampejo do que aconteceu ao Aslan.

O homem pegou em meu queixo erguendo minha cabeça e me olhou com os olhos frios, cruéis.

- Será um grande prazer testar todos os seus limites. - sorriu com maldade, me fazendo estremecer de medo. - Em breve começaremos os testes, Princesa. Se prepare.

Ele me encarou parecendo entediado depois que cuspi em seus pés. Apenas riu e se virou, saindo da cela e me trancando novamente naquele lugar sujo e úmido.

***

A cada minuto que se passava eu tentava não entrar em desespero. Relembrava à mim mesma de que Aslan, Scott e seus amigos estariam a minha procura, não me deixariam na mão.

Pelo menos era o que eu queria acreditar. Levando em conta todas as conversas, as saídas escondidas durante a aula para nos encontrarmos na sala do treinador para discutir assuntos do mundo sobrenatural, tenho esperanças de que estivessem me procurando.

Me perguntei se Derek havia dado por minha falta. Se Scott havia percebido a minha ausência à escola nessa manhã. Sim, manhã. Sei disso porque depois da visita do homem mascarado, passaram uma refeição por uma festinha na porta de ferro da cela.

Se Duncan me sequestrou quando ainda era dia, então passei o resto da tarde e noite presa aqui. Nem sequer fechei os olhos por um minuto, em alerta, fuzilando a grande porta de ferro como se só com um olhar pudesse congelá-la e a quebrar em pedaços.

Eu poderia. Caso não estivesse tão fraca.

Suspirei, me lamentando novamente por ter sido tão burra, por não ter questionado o suposto "doutor" sobre qual substância era aquela que adentraria em minhas veias. Me senti malditamente boba por ter confiado tão cegamente em um doutor suspeito. Por ter abaixado a guarda e por ter me permitido levar aquela espadada do monstro desconhecido.

Deveria ter lutado mais, deveria ter sido mais forte. Deveria...

Não. Não posso mais pensar no que deveria ter feito. Não posso mais me lamentar por tudo o que fiz ou deixei de fazer. Sou uma garota forte que não percebeu a armadilha em que estava caindo. Vou conseguir sair daqui, nem que seja rastejando. Não sou alguém que chora pelo leite derramado, não serei. Lutarei com todas as minhas forças e triunfarei.

Ri com as mentiras que contamos à nós mesmos para nos reconfortar e ouvi mais um prato de comida ser empurrado pela fresta da porta.

Draco Glacies - TW | Derek HaleOnde histórias criam vida. Descubra agora