Interlúdio I.I - yamanai ame

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Interlúdio I
Parte I

止まない雨 
(yamanai ame)

Mais um dia.

Respirou fundo, passando as mãos pelos cabelos e desligando o despertador. A chuva que caía incessantemente desde a madrugada fazia com que tal tarefa fosse ainda mais difícil, mas não tinha opção, de qualquer forma. Seu humor já estava péssimo, o que não era uma ocorrência rara; bem pelo contrário. Não se lembrava da última vez que estivera de bom humor na verdade e sequer se importava.

Levantou-se da cama, rumando para o banheiro na intenção de tomar um banho rápido e afastar o sono que ainda o consumia. Em exatos quinze minutos, como lhe era habitual, estava pronto. Não perdera tempo com escolha de roupas, já que não estava preocupado com sua apresentação, prezando pela objetividade.

Saiu do quarto logo depois, descendo as escadas e indo em direção à cozinha. Pelo cheiro que permeava a casa, sua mãe estava preparando o café da manhã, o que o motivou a se apressar. A voz grossa de seu irmão pode ser ouvida assim que adentrou o aposento, fazendo com que um minúsculo sorriso emergisse pelos lábios de Sasuke.

Era uma reação automática que, mesmo com toda a sua mudança durante os anos, não fora capaz de apagar. Itachi sempre causara reações em si que não conseguia prever ou modificar, já que estavam tão encrustadas em seu ser que se tornaram uma parte de quem ele, Sasuke, era.

Percebeu que os olhos negros do Uchiha mais velho pousaram em sua figura quando sua presença fora notada. Os lábios de Itachi se contorceram em um sorriso pequeno, porém, afetuoso, algo que fez o coração de Sasuke acelerar consideravelmente. Era sempre assim, já estava acostumado, mas isso não o fez hesitar em se aproximar do irmão e sentar-se ao seu lado na mesa. Por mais estranho que se sentisse com toda a situação, não conseguia evitar a busca por maior proximidade, como se ainda fosse uma criança ávida por atenção e não um adolescente de dezesseis anos.

– Bom dia, Otouto. – Itachi o cumprimentou, levando o dedo à sua testa como lhe era costumeiro.

Fez uma careta, mantendo a tradição daquele gesto, mas não tentou esconder sua diversão.

– Bom dia, Nii-san.

Percebeu que eram observados pela mãe, que sorria de forma afetuosa e aguardava o fim da troca entre ambos para servir a refeição. Sem que entendesse o porquê, ser pego em seu momento com Itachi o irritou, fazendo com que franzisse o cenho e ignorasse o rubor que tentava tomar seu rosto.

Por algum motivo estranho, sentia-se invadido, mas ignorou também tal sentimento fútil e tomou um gole de seu suco, mentindo para si mesmo que o gesto não fora motivado por uma tentativa idiota de se esconder por trás do copo.

Itachi o observava dessa vez, seu olhar extremamente divertido pelo óbvio embaraço que o mais novo exibia. Sasuke olhou feio em sua direção, tentando (mesmo sem conseguir) ignorar também a suave gargalhada que seu irmão o ofereceu.

Mas era sempre assim. Sempre que Itachi ria, algo raro para o mais velho, um arrepio corria a espinha do Uchiha mais novo, fazendo-o se amaldiçoar em todas as línguas que conhecia. Sentia-se um perfeito idiota por todos os sentimentos e sensações que seu irmão evocava em si, mas era bom em esconder suas emoções.

Pelo menos, era o que vivia dizendo a si mesmo.

Naruto costumava a discordar, mas se precisasse da opinião de um imbecil teria pedido em voz alta.

– Quer uma carona, Sasuke? – Itachi questionou, arrancando-o de seus pensamentos pouco agradáveis.

Assentiu em concordância, terminado seu café da manhã rapidamente e pegando o embrulho com o almoço que a mãe lhe oferecera, antes de seguir o irmão para o carro. Mesmo depois de todos os anos que haviam se passado, ainda adorava aquele maldito Camaro vermelho que escolhera para ele. Sentia o mesmo prazer em receber caronas de Itachi que sentira quando o mais velho o levara para passear pela primeira vez.

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