Interlúdio I.III - yamanai kizu

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Interlúdio I
  Parte III

止まない傷
       (yamanai kizu)

Alguma coisa definitivamente não estava certa, mas não sabia exatamente o quê.

Aos poucos, sentia que estava perdendo sua pessoa mais importante, a pessoa que mais amava, e não tinha a menor ideia do que estava acontecendo ou do que fazer para remediar. A cada nova tentativa, a falha o atingia de uma forma que chegava a ser dolorosa, fazendo-o se sentir completamente imobilizado diante da situação.

Sabia que tinha culpa; a queixa constante de seu irmão sobre sua ausência o deixava bastante ciente de tal fato, mas sua aproximação também era rejeitada. Um paradoxo que somente poderia vir de Sasuke, seu irmãozinho carinhoso e possessivo que crescera para se tornar um adolescente depressivo e distante.

Seus pais já haviam manifestado preocupação, mas nada fizeram para tentar ajudar o mais novo. Nem por meio de palavras ou ações; era como se ambos tivessem certo receio de tentar algum tipo de comunicação com Sasuke, por sua enorme resistência e rebeldia.

— O que está te perturbando, moleque?

Respirou fundo, virando-se do piano para encarar o tio, irracionalmente irritado por ter seus pensamentos interrompidos. Não ouvira sua entrada, o que já denunciava o quão concentrado estava antes de ser importunado.

— Sasuke. – Respondeu. Não havia porque tentar negar ou mascarar; Madara era a única pessoa em quem poderia confiar, e o único que poderia ajudá-lo a achar uma solução para aquele problema.

— O que foi dessa vez? – Ouviu-o perguntar, com a voz soando um pouco divertida e debochada ao mesmo tempo, o que não ajudou em nada seu mau humor.

— Ele está cada vez pior.

— Elabora, Itachi. – Madara exigiu, fazendo gestos afetados com a mão para incentivá-lo.

Rolou os olhos, esperando que o tio se sentasse antes de começar a falar. Relatou sobre os acontecimentos do dia anterior, sobre a reatividade de seu irmão enquanto o levava para a escola, sobre a conversa que tiveram com relação à música e sobre o sonho de Sasuke. Sua voz era monótona e indiferente, mesmo que seu interior se revirasse em preocupação. Queria saber o que estava fazendo de errado, o que seu irmãozinho estava sentindo com tanta intensidade que o fizera cair em prantos durante toda a madrugada, tentando afastá-lo e impedir que se aproximasse.

A gargalhada do outro Uchiha, porém, o fez franzir o cenho em surpresa.

— Está mais que na cara qual o problema dele. Você não é burro, Itachi. – Ele falou, soando descontraído, mas Itachi conseguia identificar uma sombra em seu olhar que não condizia com o comportamento do tio.

—  Temo não acompanhar sua linha de raciocínio. – Replicou friamente, porém, sem alterar sua expressão facial. Não queria dar-lhe o gosto de vê-lo irritado.

— Mas vai acompanhar em breve. – Madara falou com um sorriso estranho, se levantando e virando para deixar a pequena sala de estudo. – E eu, idiota, achando que ia demorar a acontecer...

Itachi ouviu sua última frase, dita num tom de voz tão baixo que podia ser tida como uma espécie de resmungo. Ouviu, sim, mas nada disse em resposta. Permaneceu olhando para a parede por longos minutos, tentando manter sua respiração no ritmo normal, assim como seus batimentos cardíacos e o frio que ameaçava dominá-lo por dentro.

A clareza com que revia os fatos em sua cabeça o perturbava. A forma com que se lembrava do corpo firme do mais novo contra o seu durante aquele abraço, um abraço que o fizera quase esquecer de si próprio... o cheiro dele havia mudado bastante com o decorrer dos anos e sequer se lembrava de quanto tempo fazia desde a última vez que tivera Sasuke nos braços daquela forma. Era um pensamento atordoante, que fazia sua mente girar e sua respiração voltar a tentar falhar, quebrando seu rígido controle sobre si mesmo.

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