O dia estava começando a esfriar, aquele calor da manhã e início de tarde começava a se esvair, o sol ainda estava lá, mas não mais sua quentura. O céu estava extremamente azul ainda, faltava pouco para o anoitecer, era por volta das três horas.
— Como tem passado todos esses dias? — Lia perguntou a Lázzaro sentando-se em um banco estofado na lancha.
— Bem. — mentiu secamente — E você?
— Bem também. — também mentiu.
— Quer conhecer lá dentro? — o homem apontou para a pequena cabine branca.
— Sim, nunca estive em uma lancha. É o máximo toda essa vista. — revelou animada.
Havia um pequeno buraco perto da entrada para o cubículo, Lázzaro o fez para que quando chovesse não ficasse água parada correndo risco de criar mofo ou mosquitos transmissores de doenças. Isso foi a causa de Lia tropeçar e quase cair, se não fosse os braços do homem para segurá-la a tempo.
— Cuidado! Eu ia avisar, mas não deu tempo. — disse ele com a respiração pesada por ter as mãos nela.
— Obrigada, mas eu é quem preciso ser mais cuidadosa. — com o rosto vermelho ela olhou para o lado.
— Terceira vez que te salvo. — brincou dando uma piscadela.
— Considerando que você mesmo quase me matou das primeiras vezes. Será que vale o título de herói? — zombou e sorriu.
— Então eu sou um vilão, que faz coisas erradas e as vezes certas. — retrucou balançando a cabeça.
Lázzaro notou que ainda não havia soltado-a, por isso antes de retirar os braços dela bem lentamente, ele pressionou os dedos na pele macia mesmo sabendo que era errado, Lia sentiu o calor se alastrar por todo o corpo com o desejo de que aquele toque não parasse nunca.
— Mas...Você está bem? — soltou um sussurro com a voz tão grave que molhou toda a calcinha da pobre garota que quase gemeu involuntariamente.
— Estou... — se afastou tentando fingir que aquilo não havia acontecido.
Tinha certeza que rolou um clima ali, tinha certeza também da química que existia entre os dois. Só não podia dizer ao certo o que Lázzaro sentia por ela, mas ela, ela sentia tanto por ele que machucava o peito ter que fingir que não.
Depois de um minuto de silêncio e muita hesitação, ele fez a pergunta que tanto o perturbava.
— Onde está morando? — não a olhou para não sentir vergonha.
— Com uma amiga. — ele riu sem humor.
— Amiga... — murmurou não acreditando.
— Eu acho que devo ir. Nem sei para que estou aqui, não temos nada a dizer um para o outro. — Lia pronunciou olhando o mar.
— Não! — se recompôs quando percebeu sua intervenção desesperada — Vamos comer. Quer comer alguma coisa?
Lia notou que ele não estava bem, na verdade não estava entendendo nada. Outro dia ele a expulsou de sua vida dizendo não querer que ela sentisse nada por ele ou que o procurasse novamente. Agora ali estava, pedindo sua companhia como se tivesse algo bem ruim acontecendo, como se algo tivesse mudado.
Ela não iria estragar isso.
— Vamos. O que tem para comer? — ela perguntou.
— As vezes eu abasteço essa pequena dispensa aqui — abriu o armário tirando uma caixa pequena — Tem macarrão, bife no freezer e... Whisky.
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Não Pode Me Amar (Concluído)
RomantikDuas almas cheias de desalento, desengano, desilusão e desesperança encontram-se no meio de uma desventura em que somente um pode salvar o outro.